O Centro de Investigação em Sustentabilidade nasce na Fataca, em São Teotónio, concelho de Odemira, no coração do Alentejo soalheiro e quer chegar ao país e ao mundo através da partilha de conhecimento em prol do bem maior que é a sustentabilidade.
O projeto junta a Lusomorango, organização de produtores de pequenos frutos, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, a empresa californiana especializada na produção de pequenos frutos Driscoll’s e a Maravilha Farms- Produção e Comércio de Frutos.
A sua semente foi lançada em abril último e esta sexta-feira abriu aos jornalistas, no âmbito do V Colóquio Hortofrutícola, promovido pela Lusomorango, em parceria com a Universidade Católica Portuguesa, em que o Jornal Económico foi media partner.
O centro, tal como o fórum, centra-se nas alterações climáticas, uma preocupação séria num concelho onde a barragem de Santa Clara, no rio Mira, estratégica para a região, continua com níveis de água muito baixos.
“Precisamos encontrar alternativas para produzir framboesa com qualidade, mas com menos água”, afirma Nídia Pita, Coordenadora do Centro de Investigação e Sustentabilidade, ao JE.
Dependendo da variedade, mas, por norma, para fazer um ciclo completo desde a plantação até ao final da colheita, a framboesa precisa entre 3.600 m3 a 4.000 m³ de água. O valor standard está a cair, com produtores já a recorrem a métodos de rega que permitem poupanças e outros a usar parte da água recirculada. Mas há um problema de fundo, que tende a agravar com as alterações climáticas.
“Queremos reduzir 30% àquele valor de água para tornar todo o ciclo mais sustentável”, salienta Nídia Pita.
Para o conseguir estão já em curso vários ensaios no campo. “Vamos avaliar o stress hídrico das plantas, vamos incluir diferentes percentagens de água recirculada, ou seja água que aproveitamos da drenagem dos vasos e da recolha da água da chuva. Com tudo isto vamos tentar ter uma rega mais eficiente e, paralelamente, também vamos testar diferentes métodos de rega, com diferentes sensores e aparelhos de campo que permitam dar à cultura aquilo que ela precisa e não em excesso”, explica ao JE.
Num âmbito mais vasto, o Centro de Investigação e Sustentabilidade quer encontrar soluções para as adversidades que o sector hortofrutícola está a sentir e outras que virão com o piorar das alterações climáticas. “Queremos promover maior e melhor conhecimento a nível global, possibilitar a partilha e disseminação junto de vários agentes do sector”, adianta.
Uso eficiente da água, redução da utilização de pesticidas, promoção da biodiversidade, integração no ecossistema e redução dos plásticos através de painéis fotovoltaicos e energias renováveis são as principais prioridades.
“Este ano estamos muito focados na área da água por causa de todos os acontecimentos recentes relacionados com a escassez”, diz-nos.
O conhecimento gerado no Centro de Investigação e Sustentabilidade da Fataca vai ser usado pelos associados da Lusomorango, mas também para outras empresas agrícolas e até mesmo outras outras regiões do país ou outros países. “Queremos ser um centro de investigação e demonstração de práticas agrícolas sustentáveis e inovadoras e queremos partilhar esse conhecimento com os produtores e com outras empresas. Também vamos abrir o centro à comunidade para mostrar que, realmente, é possível fazer uma agricultura moderna assente em medidas que sejam sustentáveis”, adianta Nídia Pita.
Também a comunidade, famílias e escolas poderão desfrutar deste centro de conhecimento. Visitá-lo será, aliás, a melhor maneira de perceber o que é a sustentabilidade.
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