Os consumidores estão a alterar os seus padrões de consumo, cuja mudança foi precipitada por uma pandemia sem precedentes e que obrigou marcas, indústrias e retalhistas a adaptarem-se a uma velocidade desafiante.

Uma das grandes conclusões do EY Future Consumer Index prende-se com a identificação de três vetores fundamentais na criação de valor para o consumidor: (i) a invisibilidade, que torna a sua vida mais fácil e o consumo mais conveniente, (ii) a indispensabilidade, com uma maior orientação para a resolução de problemas da vida do consumidor, e (iii) a intimidade, através da criação de experiências gratificantes que tornem o consumo num momento mais personalizado e íntimo.

É especialmente no vetor da intimidade que se insere a temática da valorização do consumo de produtos nacionais, permitindo ao consumidor aumentar o sentimento de pertença e de proximidade cultural. O atual contexto de pandemia veio fazer com que a valorização dos produtos nacionais extravasasse para um segundo vetor – o da indispensabilidade –, que levou o consumidor a querer contribuir na resposta à crise económica associada à crise de saúde pública, fomentando a economia e protegendo os empregos do seu país.

Em resposta, as marcas, indústrias e distribuidores orientaram parte da sua comunicação para o apelo ao consumo de produtos locais ou nacionais.

Os resultados do nosso estudo mostram que esse trabalho de promoção tem um impacto efetivo no padrão de consumo, uma vez que 46% dos inquiridos afirmaram estar dispostos a pagar mais por produtos fabricados no seu país, superando os bens e serviços mais sustentáveis (42%) ou produtos que promovem saúde e bem-estar (40%).

O benchmarking internacional revela que a preferência dos consumidores por produtos fabricados no país é a mais elevada, superando países com forte orientação para o consumo de produtos nacionais, como a França (39%), o Japão (37%), a Itália (36%) ou a Espanha (26%). Em resposta à valorização da produção nacional, são muitos os exemplos de iniciativas e projetos que visam informar o consumidor sobre a origem ou o grau de incorporação nacional dos produtos. Alguns exemplos internacionais são o Australian Made, o Made in Britain, o Origine France Garantie ou o Proudly South African.

Em Portugal, destacamos o “Portugal Sou Eu”, uma iniciativa promovida pelo Ministério da Economia e operacionalizada em parceria com a AEP, a AIP, a CAP e o IAPMEI, que assume como missão a valorização da produção nacional através da atribuição de um selo a produtos e serviços com uma percentagem de incorporação nacional superior a 50%.

A centralidade deste tema tem levado os retalhistas, em especial as empresas de distribuição, a desenvolver campanhas promocionais e iniciativas, como os Clubes de Fornecedores/Produtores. Estas iniciativas não só são compatíveis com programas de valorização da produção nacional como o “Portugal Sou Eu”, como se podem fortalecer mutuamente. Enquanto os primeiros permitem aumentar o engagement dos fornecedores e a qualidade e estabilidade dos fornecimentos, o segundo tem essencialmente um fundamento informativo e de sensibilização junto do consumidor.

Os portugueses querem tornar o seu consumo mais indispensável e íntimo com a aquisição de produtos fabricados em Portugal, cabe aos restantes agentes económicos criarem condições para que isso aconteça.