O vice-primeiro-ministro de Cabo Verde indicou que os programas do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI) serão prolongados até às legislativas de 2026, ocasião em que o próximo executivo deverá decidir o futuro dos mesmos.
Em entrevista à Lusa na quinta-feira em Washington, à margem das reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial, Olavo Correia advogou ser “muito relevante que Cabo Verde continue a ter o Fundo como parceiro”, uma vez que a instituição atua como “conselheira” que ajuda o país na “concretização e materialização” da visão e estratégia do atual Governo.
“Olhando para os programas desta forma, Cabo Verde vai, até de forma inteligente, precisar de continuar a contar para o apoio do FMI. Penso que é bom ter o FMI como parceiro, como uma instituição conselheira, que dá incentivos de políticas públicas, acompanha, ajuda a fixar melhores práticas, faz uma fiscalização construtiva daquilo que são elementos críticos para podermos melhorar o nosso quadro de governança. Acho que isso não pode ser dispensado. Isso tem que ser continuado, porque é bom para Cabo Verde”, defendeu.
Nesse sentido, Correia, também ministro das Finanças, afirmou que haverá uma extensão desses programas, com recurso a “algumas adaptações” devido às eleições legislativas do próximo ano, mas sem avançar pormenores.
De acordo com o ministro, a extensão de curto prazo será discutida com o FMI no próximo mês.
Já após as eleições, “o próximo Governo – espero que seja o nosso – poderá vir a discutir um novo programa”. “Não faz sentido nós, em final de mandato, discutirmos um novo programa. Não é eticamente correto e nem faria sentido do ponto de vista da nossa responsabilidade em termos da continuidade da governança”, observou.
O novo Governo, assinalou ainda o dirigente, “terá o poder, a autoridade e todas as condições para que, querendo, possa depois estabelecer um novo programa nos mesmos moldes ou ajustar os instrumentos”.
Olavo Correia afirmou que existem determinados setores que são fundamentais para o futuro de Cabo Verde e que necessitam de continuar a contar com o apoio de instituições financeiras internacionais, como é o caso da ação climática, da segurança energética, da transição digital ou da conectividade e mobilidade.
O vice-primeiro-ministro defendeu que o turismo de Cabo Verde não pode continuar a ser o único motor de crescimento económico do país, mas frisou que essa não é uma mudança que se consiga fazer “da noite para o dia”, avaliando esse tipo de alteração na estrutura económica de um país leva “no mínimo uma década”.
O objetivo do Governo é diversificar a economia cabo-verdiana, tornando-a “cada vez mais ancorada na economia azul, na economia verde voltada para o mercado do turismo, na cadeia de valor, na economia digital, na industrialização voltada para a exportação, nas indústrias criativas, na economia de conhecimento e no setor financeiro”.
“Portanto, nós temos que criar aqui uma cadeia de valor, para que a partir do turismo possamos desenvolver outras atividades económicas e outras oportunidades que possam ter um valor acrescentado superior ao próprio emprego criado diretamente pelo turismo”, explicou.
Na capital norte-americana, Olavo Correia refletiu ainda sobre o facto de Cabo Verde liderar este ano o Conselho de Governadores do Banco Mundial e do FMI, avaliando tratar-se do reflexo da boa “reputação” do país.
Questionado pela Lusa sobre a agenda que está a ser implementada, o ministro indicou que o tema mais importante em cima da mesa é o futuro do planeta, passando por “um mundo habitável e sem pobreza”.
“Nós temos como tema a pobreza extrema, eliminá-la, reduzir a pobreza e também garantir que o mundo seja habitável do ponto de vista da responsabilidade com a ação climática, para que possamos entregar às novas gerações um mundo ainda habitável”, disse.
Entre os setores críticos nessa agenda está a transição energética e o acesso à energia, disse, frisando que “não se pode ter uma vida digna no mundo inteiro quando metade da população do continente africano está sem acesso à energia”.
Além da questão energética, a criação de emprego faz parte das prioridades da agenda da liderança cabo-verdiana.
“Não se pode combater a pobreza sem emprego. (…) Emprego para as mulheres, para os jovens, para que possam ficar nos seus próprios países. E para que isso aconteça, temos que investir em setores críticos, como agricultura, energia, no turismo, nas indústrias, nas indústrias criativas, mas também na saúde”, reforçou, apelando para um maior financiamento para pequenos estados insulares e países em desenvolvimento.
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