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Projetos solares da EDPR atrasados com cerco dos EUA a empresas chinesas

A Casa Branca decidiu apertar as regras sobre as produtoras chinesas de painéis solares para garantir que não são produzidos recorrendo a trabalho forçado de minoria muçulmana. Atrasos na entrega de documentação de fornecedor da EDP adiam projetos de 900 megawatts para 2024. Se houver novos atrasos, empresa recorre a outros fornecedores.
Ignis
3 Maio 2023, 15h24

O Governo norte-americano decidiu no final de 2021 apertar as regras sobre as empresas chinesas que recorrem ao trabalho forçado da minoria muçulmana uigur na província de Xinjiang, no oeste da China.

O Uyghur Forced Labor Prevention Act (UFLPA) estabeleceu que qualquer produto produzido nesta província, ou por certas entidades, ficam proibidos de entrar nos EUA.

Esta proibição pode ser levantada se a empresa submeter documentação ao comissário responsável pelas alfândegas (CBP na sigla original) a dar garantias de que os seus bens, através de provas, não são produzidos recorrendo a trabalho forçado.

“Um fornecedor asiático específico de painéis solares demorou mais do que o esperado em entregar os documentos exigidos na CBP sobre a UFLPA”, segundo a apresentação feita hoje pela EDPR numa chamada com analistas, referindo-se à Longi.

Miguel Stilwell de Andrade destacou que este “fornecedor específico está a demorar mais do que o previsto” e que os materiais devem chegar no próximo ano. Apesar de acreditar que parte do fornecimento ainda pode chegar este ano, e o restante em 2024, o CEO não quis criar expetativas. “Não queremos prometer isso”.

Por sua vez, Rui Teixeira, CFO da EDPR, garantiu que a empresa está preparada para “recorrer a outros fornecedores” se houver novos atrasos nas entregas.

Em novembro de 2022, a “Reuters” noticiou que mais de mil carregamentos de painéis solares no valor de centenas de milhões de dólares estavam retidos nos portos norte-americanos desde junho ao abrigo das novas regras.

Os fornecedores abrangidos por estas apreensões, segundo a “Reuters”, são, precisamente, a Longi Green Technology, a Trina Solar e a JinkoSolar. As apreensões atingem um gigawatt de capacidade. Estas três companhias são responsáveis por um terço dos fornecimentos de painéis solares nos EUA. As empresas decidiram travar novos carregamentos para os Estados Unidos preocupadas com novas apreensões.

Em 2021, a universidade britânica de Sheffield Hallam concluiu que 45% da produção mundial de polisilicone, um componente essencial para os painéis solares, era produzida na província de Xinjiang, com o Governo chinês a obrigar os detidos nos campos de detenção para fabricar estes componentes.

Pequim tem negado abusos em Xinjing, argumentando que a existência de campos de detenção serve para travar o “terrorismo, separatismo e radicalismo religioso”.

A China está a ser acusada de genocídio contra a minoria Uigur, que conta com uma população de 12 milhões, na sua maioria muçulmanos. Pesam cerca de metade da população total da Região Autónoma de Xinjiang Uigur. Falam a sua própria língua, semelhante ao turco, e consideram-se mais próximos culturalmente e etnicamente aos povos da Ásia Central, explica a “BBC”.

Vários países – incluindo os EUA, Reino Unido, Canadá e os Países Baixos – já acusaram a China de cometer genocídio contra os uigures.

Em 2020, existiam 380 campos de reeducação em Xijiang. Um comité das Nações Unidos estimou em 2018 que cerca de um milhão de pessoas estavam retidas em centros de combate ao extremismo nesta província.

Em Xinjiang, é produzido cerca de um quinto do algodão a nível mundial. Uma campanha lançada internacionalmente em 2021 alertou os consumidores que muitas marcas têxtil usam algodão produzido nesta região, levando algumas marcas a deixar de comprar algodão originário de Xinjiang. Uma região desértica que também é rica em petróleo e gás natural e é vista como uma rota comercial importante para a Ásia Central e a Europa.

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