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Promover a Experiência de Ser Madeira

A Madeira não é um destino de massas e na minha mera opinião de entusiasta (e não de especialista), nunca o deverá ser. A aposta desta magnífica ilha a que chamo de casa deve ser uma aposta na qualidade e não na quantidade. Por esta razão acredito que a Madeira enquanto destino turístico e com vista à manutenção do seu estatuto deve apostar naquilo que é hoje conhecido como a “Economia da Experiência”.
28 Fevereiro 2020, 07h15

A Madeira tem sido escolhida, nos últimos anos, como o melhor Destino Insular do Mundo, o que acarreta consigo alguma pressão para a manutenção deste título, mas particularmente para o continuar do seu estatuto de destino de excelência.

A Madeira não é um destino de massas e na minha mera opinião de entusiasta (e não de especialista), nunca o deverá ser. A aposta desta magnífica ilha a que chamo de casa deve ser uma aposta na qualidade e não na quantidade. Por esta razão acredito que a Madeira enquanto destino turístico e com vista à manutenção do seu estatuto deve apostar naquilo que é hoje conhecido como a “Economia da Experiência”.

Na sua mais recente republicação do livro “The Experience Economy: Competing for Customer Time, Attention, and Money”, os autores Pine e Gilmore (2019) reforçam a ideia de que as “experiências” estão aqui para ficar e é aí que se deve apostar. Os autores não focam necessariamente o turismo, mas elucidam o leitor para pontos fulcrais que qualquer empresa que queira sobreviver no mundo atual deverá ter em extrema atenção: as pessoas estão cada vez menos dispostas a pagar apenas por serviços, elas querem algo mais! Elas desejam uma experiência de alta qualidade que as faça sentir envolvidas de uma forma pessoal e memorável. Como estes mesmos autores mencionam “services are about time well saved, while experiences are about time well spent” (Pine & Gilmore, 2019).

Por isso acredito que a Madeira deve mais do que nunca investir nesta visão transformadora que poderá levar o seu mais importante sector económico a manter a sua excelência através de uma nova forma de pensar e criar produtos. Neste sentido, o turismo criativo, encarado por alguns como uma ramificação do conhecido turismo cultural, poderá ser uma mais-valia e uma “arma” poderosa de diferenciação. O turismo criativo foca as experiências e o envolvimento do turista no seu desenvolvimento. É uma forma original de levar os turistas a conhecer a cultura e o património de uma região através da sua imersão em experiências únicas que, muitas vezes, representam a identidade cultural do destino. Estas experiências podem levar os turistas a se sentirem “parte” da comunidade local, criando-se assim uma ligação especial com o destino. É por esta razão que Pine e Gilmore (2019) falam da importância de criar experiências pessoais que poderão levar a momentos de transformação na vida das pessoas e que assim investem o seu tempo, atenção e dinheiro em experiências que consideram valer a pena.

Por isso questiono: porque não investir cada vez mais na qualidade do nosso destino, através do turismo criativo, ao invés de apostar na quantidade? Porque não criar experiências verdadeiras onde os madeirenses possam ser e fazer aquilo que os diferencia de tantos outros – o seu bem-receber? Porque não pegar nas nossas tradições, na nossa história e levá-la “aos quatro cantos do mundo” pela voz dos nossos turistas que são, sem sombra de dúvida, os nossos melhores embaixadores? Ao fazê-lo estaremos não só a desenvolver uma marca caraterística, única e diferenciadora da nossa região, como também estaremos a manter viva a nossa história e o nosso património. Estaremos, desta forma, a salvaguardar a nossa essência: as histórias dos nossos avós, os nossos vimes, os nossos bordados, a nossa poncha, o nosso pão-de-casa, os nossos poios, as nossas levadas, as nossas estradas antigas, a nossa paisagem incrível. Porque não sermos verdadeiramente nós, reconhecidos pela autenticidade das nossas experiências que transmitem o sentimento de não apenas ver, mas de sentir o que significa ser madeirense. Apostemos em promover não somente a Madeira, mas a experiência de Ser Madeira, pois como a autora Maya Angelou um dia reconheceu: “Eu aprendi que as pessoas vão esquecer o que você disse e o que você fez, mas nunca esquecerão como você as fez sentir.”

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