Portugal tem, há mais de um século, problemas graves com a sua estrutura fundiária. Se a sul a dimensão da propriedade rústica é de tal forma grande que, embora permitindo explorações rentáveis, não estimula a fixação de pessoas, a norte o minifúndio tem vindo a contribuir para o afastamento das pessoas da actividade agrícola e, consequentemente, contribuindo para a desertificação do território.
Em boa hora entendeu o governo empreender uma reforma que permitisse ao país conhecer a real dimensão da propriedade, das propriedades, a quem pertencem, as situações de compropriedade, quantas vezes contra legem, ou os imóveis rústicos que são detidos por heranças indivisas, algumas delas sucedendo-se por gerações.
O caminho que está a ser percorrido é, no entanto, apenas o primeiro passo e espero que as sempre existentes mudanças que dão vida à democracia não o coloquem em causa. Um país com as dificuldades que Portugal ainda tem não o pode permitir.
Em grandes números a situação actual é a seguinte:
Portugal tem uma área de 9 milhões e 200 mil hectares. Aproximadamente, números redondos, 200 mil hectares são ocupados com rios, cidades, vilas, estradas. Os outros 9 milhões estão divididos em três blocos: 3 milhões de floresta, 3 milhões de terreno agricultado e 3 milhões de incultos. Algum país se pode dar ao luxo de ter 30 % do seu território por explorar? Não me parece.
Nós hoje temos um problema de abandono da terra que, admito, mais nenhum país terá.
E temo-lo porque não conseguimos resolver o problema, sobretudo a norte, da dimensão económica da propriedade. Continuamos dominados pelo minifúndio que, como se pode imaginar, fica abandonado, com muitos terrenos sem se saber quem é o dono e, claro, incultos.
E, assim, o país tem um terço do seu território por cultivar, ao mesmo tempo que diaboliza os eucaliptos.
Mas no mesmo tempo em que diabolizamos os eucaliptos, é notícia recente que as celuloses a operar em Portugal vão cultivar eucaliptos na Galiza. Será que na Galiza são bons e em Portugal são maus? É um bocadinho estranho!
Por isso dizia que estamos apenas a dar os primeiros passos. Depois da identificação dos proprietários e dos limites das propriedades, é necessário desenvolver as medidas adequadas a dar à propriedade e à exploração agro silvícola a dimensão económica adequada à sua rentabilidade. Todos temos de estar conscientes de que o que andamos a negligenciar há mais de um século vai demorar anos a resolver. Mas não podemos desistir.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.