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Protestos em Luanda contra salários em atraso

Cerca de 500 trabalhadores manifestaram-se este sábado contra o elevado custo de vida, exigindo ao governo respostas para a precariedade laboral.
14 Dezembro 2019, 18h14

O protesto, convocado pela União Nacional dos Trabalhadores Angolanos – Confederação Sindical (UNTA-CS), mobilizou trabalhadores de empresas como a Mecanagro que aproveitaram a oportunidade para pedir soluções para o problema que se arrasta desde novembro de 2018, quando a empresa foi extinta por despacho presidencial.

Moisés Samandalo, porta-voz da comissão sindical da Empresa Nacional de Mecanização Agrícola (Mecanagro), lamentou que os 3 mil milhões de kwanzas (5,7 milhões de euros) que seriam supostamente disponibilizados para salvaguardar os direitos dos 750 trabalhadores distribuídos por 15 províncias angolanas não lhes tenham chegado.

Atribuiu responsabilidades à entidade liquidatária — o IGAPE, Instituto de Gestão de Ativos e Participações do Estado -, e garantiu que o anterior ministro da Agricultura, Marcos Nhunga prometera que os postos de trabalho das pessoas em idade ativa se manteriam.

“O Presidente da República foi bem claro sobre as empresas em via de privatização, disse que os postos de trabalho seriam salvaguardados e o anterior ministro também. Mas o atual ministro não quer herdar nenhum passivo, só quer herdar o ativo, só está preocupado com o património”, criticou, denunciando que foram retirados equipamentos da empresa e pedido ao Presidente que “acompanhe” o processo.

Um outro colaborador da Mecanagro, Armando Chimunco, disse que a “empresa ficou na mão do diabo” e que foram retiradas 1.150 máquinas e 70 camiões, acusando o ministro, Francisco Assis, de “desprezar” os trabalhadores.

Também funcionários do setor da saúde se juntaram à marcha, como Nicolau António, enfermeiro da direção de Saúde de Cacuaco (município de Luanda), que se encontra há quatro anos e cinco meses sem receber ordenados, juntamente com 80 colegas

“Viemos participar nesta marcha para mostrar o nosso descontentamento, para mostrar ao executivo o que nós temos passado”, declarou à Lusa

Nicolau António e os seus colegas continuam a apresentar-se no local de trabalho, mesmo sem receber: “a lei diz que não podemos abandonar o local de trabalho”, justificou.

Os trabalhadores já reuniram com o sindicato dos enfermeiros e enviaram inúmeras cartas para o Ministério da Saúde, governo provincial e gabinete provincial de Saúde sem qualquer resposta aos seus apelos.

No protesto, que durou entre as 13h00 e as 14h00, participaram representantes de 16 associações sindicais além de algumas centenas de filiados para “passar a mensagem” de que é preciso rever medidas políticas.

“O custo de vida está muito alto, as famílias perderam poder de compra e estão sem consumo e era preciso passar essa mensagem às autoridades”, sublinhou o secretário-geral da UNTA, Manuel Viagem. “Precisamos que os nossos salários tenham poder de compra e que o nosso emprego seja garantia de estabilidade, o que não acontece atualmente”, reforçou.

O sindicalista salientou que é necessário tomar medidas para reanimar a economia, que “se não crescer, tem poucas possibilidades de criar novos empregos”.

Lamentou ainda que a atual legislação tenha introduzido mais precariedade nas relações laborais, notando que é possível até despedir com justa causa uma pessoa doente com paludismo, uma doença endémica em Angola e que é a primeira causa de morte no país.

A UNTA é uma das três centrais sindicais existentes em Angola e representa doze sindicatos nacionais mais 156 organizações e movimentos congéneres, contando com quase 260 mil filiados.

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