Os dados do desemprego no segundo trimestre em Portugal representaram uma ligeira surpresa pela positiva, ao revelarem uma descida na taxa de desemprego e uma população empregada acima dos níveis pré-pandemia, mas o resultado é ainda fruto de uma economia fortemente apoiada por mecanismos extraordinários como as moratórias de crédito, destacam os economistas ouvidos pelo JE.
Apesar do forte impacto da Covid-19 na atividade económica em Portugal, o desemprego voltou a descer, cifrando-se nos 6,7% no final do segundo trimestre do ano, uma queda de 0,4 pontos percentuais (p.p.). Já a população empregada atingiu os 4,81 milhões de pessoas, o que supera já o valor registado quando o coronavírus chegou ao país. Para Pedro Brinca, economista e professor na NOVA SBE, a verdadeira prova de fogo para a economia nacional ainda não chegou.
“O grande teste para a economia vai ser quando a tirarmos das moratórias, o que significa que as empresas terão de começar a amortizar os juros e toda a dívida acumulada para trás, decorrente dos custos fixos que se acumularam e não foram sujeitos a nenhum apoio em específico na generalidade dos sectores”, considera o economista, que destacou a diferença entre a abordagem portuguesa e a de vários Estados-membros da UE à crise pandémica.
“Países como a Alemanha, França ou Espanha mobilizaram apoios diretos, aproveitaram a suspensão das regras que proibiam as ajudas de Estado às empresas para injetar muito dinheiro; Portugal apostou no modelo em que a importância dos diferimentos de pagamentos teve um peso muito maior”, explica. O receio do professor da NOVA SBE é que, com o levantamento das moratórias, a destruição de empresas e de emprego dispare, causando perda de capital e uma diminuição do dinamismo económico nacional.
Pedro Braz Teixeira, diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, concorda que os “apoios às empresas, que estão atualmente numa fase de transição lenta, poderão estar a adiar algum desemprego”, mas acrescenta dois outros fatores que terão contribuído para a queda do indicador: por um lado, as quebras acentuadas no sector do turismo e similares durante o último ano criaram grandes necessidades de contratação nesta altura de reabertura dos estabelecimentos, algo espelhado no aumento de 11,3% na população empregada neste ramo.
Por outro lado, “a pandemia apanhou a economia perto do pleno emprego”, pelo que a retoma deverá trazer uma situação semelhante, ou seja, de baixo desemprego.
Quanto à subida da população empregada até valores acima dos registados antes da chegada da Covid-19, Pedro Brinca vê neste fenómeno um possível efeito rendimento.
“Se houver um efeito negativo na riqueza, ou seja, as pessoas se sentirem mais pobres, podem ser compelidas a ir trabalhar para compensar essa quebra no rendimento”, argumenta.
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