A Produtech, cluster português das tecnologias de produção, que conta com 150 empresas e entidades associadas, tem como objetivo promover “tudo o que são tecnologias de produção”, sendo uma fileira que “trabalha para a indústria, cujo cliente é a indústria, e que permite à indústria ser competitiva e eficiente”, revelou ao Jornal Económico (JE) Miguel Gil Mata, presidente do conselho administrativo da Produtech.
“Não somos uma fileira que trabalhe tipicamente para o consumidor final, mas sim com bens de equipamento. Isso significa que a fileira tem uma enorme componente de inovação e uma elevada capacidade de arrastamento sobre a economia”, afirma Miguel Gil Mata. A associação sem fins lucrativos foca-se em “fazer contactos, criar dinâmica, alinhar interesses, organizar, promover e divulgar, de forma a que as iniciativas possam ver a luz do dia”.
O cluster reúne empresas de diversos setores, desde o automóvel, consultoria e moda, até à fileira de tecnologia de produção.
Apesar de ser um cluster reconhecido pelo Estado, por se dedicar à “dinamização de projetos e iniciativas que sejam estruturantes para toda a indústria e para toda a economia”, referiu Pedro Rocha, diretor geral da Produtech, “todas as iniciativas, todos os nossos projetos têm na sua base aquilo que são as necessidades das empresas”.
“As empresas precisam deste tipo de associações para terem acesso a iniciativas, formação, networking e colaboração que lhes permita fazer face à sua concorrência”, refere Miguel Gil Mata, uma vez que “a economia nacional, nomeadamente nestas áreas, é muito fragmentada. Temos um tecido empresarial e um centro empresarial de pequena dimensão e isso é uma dificuldade porque, para se vingar cada vez mais no mundo, é preciso escala, e a clusterização é uma forma de tentar minimizar o problema destas empresas”.
Pedro Rocha salienta que esta fileira é uma grande exportadora, e que a sua competitividade se baseia, principalmente, “na inovação e no desenvolvimento de soluções customizadas especificamente orientadas para os seus clientes”.
Atualmente, o cluster tem em curso o Produtech R3 – Recuperação-Resiliência-Reindustrialização, a Agenda Mobilizadora da Fileira das Tecnologias de Produção para a Reindustrialização, que conta com o apoio do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), com um investimento de aproximadamente 167 milhões de euros.
Este não é o primeiro nem o único projeto em curso do cluster, que tem sempre realizado iniciativas que contam com um financiamento de outras agendas mobilizadoras. Ao mesmo tempo que desenvolve o R3, o cluster tem outro projeto, também financiado pelo PRR, sendo esta uma iniciativa que tem uma duração de sete anos e uma dimensão mais pequena do que o R3.
O R3 é “uma iniciativa muito ambiciosa”, uma vez que congrega muitos parceiros. “É uma questão relativamente complexa do ponto de vista logístico, são muitos parceiros, é preciso congregar muitas vontades, mas é um bom exemplo de mobilização”, refere Miguel Gil Mata.
Esta agenda mobilizadora prevê um investimento “com muitas faces, todas elas complementares”, salientou o presidente do conselho administrativo da Produtech. “Foi preciso um trabalho de planeamento, alinhamento complexo, demorado e profundo, para que se conseguisse este alcance”, diz o diretor geral da Produtech.
O projeto vai criar um total de 85 novas tecnologias de produção, tendo como objetivo desenvolver aquilo que será uma nova geração de tecnologias de produção que “permitam às nossas empresas serem empresas de futuro”, refere Pedro Rocha. “O projeto tem uma componente de investigação, desenvolvimento e inovação, que vai permitir testar as novas tecnologias em ambientes reais, ou seja, em fábricas de setores, com utilizadores reais, e vai permitir uma productization daquilo que são estas tecnologias”.
Para além de criar toda uma nova fileira de tecnologias de produção, o R3 pretende também capacitar os trabalhadores da indústria com a utilização das tecnologias.
Segundo Pedro Rocha, o cluster tem cinco principais objetivos, sendo eles “promover a consolidação e a qualificação da fileira das tecnologias de produção; segundo, mobilizar estes atores para a investigação, desenvolvimento e inovação; terceiro, reforçar a visibilidade e a internacionalização destas empresas; quarto, promover a informação estratégica ao serviço da fileira e da economia nacional e, não menos importante, promover o desenvolvimento e a cooperação entre estes atores e os seus negócios”.
Apesar de ser a primeira grande iniciativa financiada pelo PRR, este aparecimento foi “natural” para o cluster, que reuniu os associados e apresentou linhas estratégicas que poderiam ser seguidas. “Depois, os associados apresentaram projetos e nós, em conjunto com as empresas, fomos alinhando prioridades, permitindo a implementação de uma iniciativa que pretendemos que seja estratégica para a fileira e para a economia nacional”, afirmou o presidente do conselho administrativo da Produtech.
No entanto, nem tudo é fácil para o cluster. “Enfrentar um nível de burocratização desproporcional” é o que custa mais, refere Miguel Gil Mata. “Cria-se uma intenção meritória de criar incentivos através de um conjunto de ferramentas, e depois a máquina do Estado não consegue evitar bloquear ou dificultar grande parte destas iniciativas com uma carga burocrática que diminui o alcance destas iniciativas”.
“O problema está na capacidade de fazer acontecer. As pessoas colocam-se à defesa, e na dificuldade de lidar com a burocracia, não decidem”, sublinha Miguel. “Como cluster, temos um canal de comunicação, mas mesmo com este canal, o efeito é muito reduzido; não conseguimos desbloquear as coisas e enfrentamos um grande nível de desconfiança das entidades oficiais”.
Contudo, este cluster ajuda as empresas a ‘navegar’ nesta massa crítica e guia-as nestas regras administrativas. “No entanto, a própria máquina administrativa do Estado precisa de se modernizar e tornar os seus processos mais eficientes e menos burocráticos”, destaca Pedro Rocha, que realça que o objetivo desta máquina deve ser “tirar as incertezas às empresas e dar-lhes todas as ferramentas para que possam realizar os seus investimentos”.
“Como cluster, temos vindo a alertar continuamente sobre pontos menos bons que têm de ser melhorados, sobre as dificuldades que existem no terreno, no sentido de que estes atores sejam capazes de agilizar os seus próprios processos, porque só isso permite que os projetos sejam implementados adequadamente e que possam ir buscar os benefícios para toda a economia portuguesa”, frisa o diretor geral da Produtech.
Já sobre os principais desafios que o setor enfrenta, Miguel Gil Mata dá destaque aos desafios macroeconómicos e geopolíticos. “No momento de estagnação económica, o volume de vendas e a atividade destas empresas é afetada, e o clima de protecionismos também tem impactos sobre o setor, nomeadamente na chegada de uma possível ‘trade war‘”.
A falta de mão de obra qualificada também é um dos desafios do setor, no entanto, este é transversal a todos os anos, sendo que o cluster tem vindo a apostar na formação e na ‘desmistificação’ da indústria, que era vista como “suja e pouco atrativa”.
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