Esta é uma das razões que torna particularmente relevante ter uma carteira equilibrada e criteriosamente gerida, que possa estar menos vulnerável ao impacto gerado pelos momentos de especial volatilidade.

Exemplos de bolhas não faltam e um dos mais ilustrativos foi, certamente, o das dotcoms, com uma valorização acentuada das ações tecnológicas antes da viragem do século, seguida de uma queda vertiginosa nos anos seguintes, mas vemos também o inverso: setores que conseguem manter um bom desempenho durante longos períodos de tempo e nos quais os investidores continuam a encontrar e realizar valor.

Olhando especificamente para os últimos 19 anos no mercado acionista do Reino Unido (o período mais longo com dados compilados pela Datastream) e sem esquecer que desde 1998 vivemos dois períodos de grande valorização e dois grandes crashes, concluímos que oito dos 10 principais setores de atividade trouxeram um contributo positivo aos investidores.

O setor dos consumíveis domésticos, com grande parte dos produtos base comprados pelas famílias (detergentes por exemplo) foi o que maior rentabilidade proporcionou. Se tivéssemos investido mil libras neste setor a 30 de março de 1998, teríamos no final de março último 6.423 libras, considerando o reinvestimento dos dividendos e descontando o impacto da inflação.

As utilities (fornecimento de água, eletricidade, etc.) também registaram bom desempenho e teriam convertido as mil libras em 3.884. Seguiram-se as matérias-primas (metais, químicos, etc.) cujo valor se aproximaria das 3.000 libras.

Do lado inverso, ficam as tecnológicas e financeiras, com uma redução para 486 e 845 libras, respetivamente.

Nos últimos 20 anos, o mercado de ações do Reino Unido registou altos e baixos que o levaram a extremos, com a bolha das dotcom e a crise financeira global como protagonistas das quedas. Estes dois acontecimentos justificam em grande parte o porquê dos consumíveis e utilities se rentabilizaram enquanto os setores tecnológico e financeiro ficaram para trás.

Os primeiros são considerados setores defensivos e fontes de rendimento mais fiáveis em períodos de elevada volatilidade, uma vez que a procura por bens essenciais continua a existir. Em paralelo, os investidores saíram dos setores diretamente envolvidos nas situações de crise.

Se reduzirmos o período em análise para os últimos 10 anos – em que a crise financeira foi o único momento de crash – só no setor financeiro se teria perdido dinheiro, com as mil libras investidas a 30 de março de 2006 a valer 623. Os setores defensivos mantiveram-se como os mais atrativos e a grande diferença vem das tecnológicas (2.836 libras).

Se é certo que não podemos prever o futuro e que o passado não é um guia fiável para saber o que acontecerá a seguir, podemos sempre aprender com ele ao mesmo tempo que observamos as atuais valorizações para identificar os setores e empresas que apresentam melhor potencial. Uma forma de o fazer é através da comparação dos preços e ganhos (rácio P/E) para perceber de onde vêm as melhores perspetivas de valor e hoje encontramo-las nas telecomunicações, consumíveis e tecnológicas.