Há uns anos as pessoas perguntavam-me “o que vais querer fazer para o resto da vida?”. Recordo-me que a questão, em cada letra e em cada palavra, criava-me arrepios. Ficava indignado com o porquê de ter de decidir uma coisa que parecia tão distante.

O “para o resto da vida” parecia uma espécie de Odisseia em que não sabia sequer quem eu era: a personagem principal? Um mero espetador conduzido pelas decisões precipitadas do passado? E se no futuro o mundo tivesse mudado de tal forma que já não me encaixasse nos standards laborais? Não me parecia possível definir uma posição profissional pensada no presente, mas que tinha de ter aplicabilidade para todo o sempre: nós, pessoas, mudamos e vamo-nos apercebendo em cada fase de aprendizagem o que faz mais sentido continuar/encerrar nas nossas vidas.

Hoje, não muitos anos depois, esta questão começa a ser substituída por uma bem mais interessante e que as organizações começam a adotar: qual é o seu propósito?

Passar de função – concreta, demarcada e permanente – para a conceção de propósito, onde se podem aglomerar e trabalhar diversas competências pessoais e profissionais, muda substancialmente a tensão sobre as expectativas quanto ao futuro. Não esquecendo, ainda, que pode ser uma valiosa forma de autoidentificação de recursos transferíveis para as organizações.

A ideia de propósito considera uma esfera central que ativa umas quantas outras em efeito roldana. Por exemplo, eu considero que um dos meus propósitos é a comunicação como forma de criação de pontes para o bem-estar. Este propósito pode estender-se a campos tão amplos como a vida profissional, amorosa, familiar, social (e até comigo próprio). A ecologia é um sucesso que começa logo aqui: o desenvolvimento de carreiras felizes obriga a que pensemos os contextos nas múltiplas dimensões de interação, daí que mais do que nunca se escreva e fale sobre o equilíbrio na relação trabalho – vida pessoal.

Esta abordagem, menos tensa, não forçosa de presentes que podem não fazer sentido como futuros distantes, retira uma grande carga de stress e reforça que somos pessoas com competências técnicas específicas (é verdade), mas também temos umas outras tantas interdisciplinares e intercontextos que são adaptáveis a várias etapas e funções.

Isto é importante porquê? Se é certo que temos uma população – sobretudo a mais jovem – com mais habilitações académicas e maior mobilidade social, também é certo que temos mais incerteza do que o mundo pode esperar destes indivíduos agora e no futuro.

O mundo está em evidente globalização e, no futuro, algumas profissões provavelmente vão extinguir-se surgindo também outras, resultantes dos fluxos naturais de mercado e de tecnologização. No entanto, nós continuaremos cá e não vamos ser espectadores da mudança, vamos participar dela.

Assim, a par da responsabilidade que as estruturas sociais e organizacionais devem ter para com os cidadãos/funcionários, identificar o propósito pessoal alicerçado em competências-chave, pode ser um excelente caminho para a promoção de vidas com mais bem-estar.

Qual é o seu propósito?