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Carga fiscal: quando aumentar salários e dar prémios não chega

Um número crescente de empresas tenta contornar a subida da carga fiscal e compensa os trabalhadores com benefícios em espécie e serviços prestados no local de trabalho.
5 Julho 2018, 07h33

O aumento da carga fiscal nos últimos anos e as mudanças que essa tendência provocou no mercado laboral têm impacto na forma como as empresas gerem os recursos humanos e tentam destacar os quadros mais valiosos. Embora continue a ser comum haver pagamentos de prémios e valorizações salariais com as promoções, há um número crescente de entidades empregadoras a contornar os impostos adicionais recorrendo a outros mecanismos de recompensa.

“É um fator motivacional bastante importante para os profissionais”, começa por sublinhar Vânia Borges, responsável de Recursos Humanos da Adecco. Em declarações ao Jornal Económico, a gestora adianta que as empresas “continuam a recompensar financeiramente os colaboradores”, mas admite que este esforço financeiro não tem muitas vezes o efeito pretendido, já que os trabalhadores acabam por “não ver um resultado líquido no seu vencimento, devido à subida de escalão de rendimento”. Não vendo o salário aumentar tanto como gostaria, “o profissional tende a não valorizar a compensação extra e consequentemente as empresas sentem-se menos estimuladas em continuar com estas recompensas”.

Mas especificamente nos prémios, continua, as empresas continuam a apostar no seu pagamento, apesar da carga fiscal. “Atualmente a maioria dos benefícios são tributados, não existindo grande margem para que as empresas possam recompensar os seus colaboradores sem aumentar o custo dos encargos do seu vencimento”, justifica.

Segundo esta gestora, o que algumas empresas começaram a fazer, em complemento aos prémios e aos benefícios, é investir na oferta de serviços mais diferenciados no local de trabalho. Hoje há empresas que oferecem massagens e até experiências gastronómicas aos funcionários. A atribuição de dias extra de férias, nomeadamente no dia de aniversário, é também uma medida de gestão com utilização crescente, tal como os presentes em género, entre os quais cabazes, viagens ou eventos que incluem a família dos colaboradores.

“Deste modo os empregadores garantem que os colaboradores usufruem na totalidade dos benefícios que estão a atribuir, ainda que muitos destes serviços sejam tributados em sede de Segurança Social, no caso dos rendimentos em espécie”, explica Vânia Borges.

Nova geração de benefícios

Além da carga fiscal sobre o trabalho que afetou Portugal de forma mais intensa durante o programa de assistência financeira, os estudos internacionais mostram que as mudanças geracionais na população empregada também estão a mudar a forma de premiar os funcionários. A seguradora norte-americana Metlife realiza há 16 anos um estudo anual sobre os benefícios atribuídos a trabalhadores e a última edição, publicada este ano, recomenda que as recompensas não devem ser apenas financeiras.

“Os empregados de hoje não são tradicionais. Oferecer benefícios tradicionais e rígidos nem sempre os satisfaz”, refere o relatório, feito com base em mais de 2600 entrevistas a trabalhadores. Um dos pontos mais vincados pelos funcionários é a ambição de terem mais flexibilidade nos horários de trabalho, de forma a conciliar a vida laboral com a familiar. Quando questionados sobre que benefício gostariam que o empregador disponibilizasse para ajudar a equilibrar as responsabilidades em casa e no trabalho, a resposta foi taxativa: cerca de 71% queriam horários de trabalho flexíveis.

Os trabalhadores mostraram também interesse em benefícios na forma de experiências que os desafiassem profissional e pessoalmente, embora a maioria dos funcionários continue a valorizar as empresas que ajudam a  proporcionar maior segurança financeira. Mas os tradicionais seguros de saúde ou planos de pensões, que muitas empresas já atribuem também em Portugal, podem não ser suficientes para isso. Ofertas mais específicas como seguro de vida, seguro automóvel ou mesmo o seguro da casa do trabalhador estão entre os benefícios mais apreciados pelos trabalhadores ouvidos no estudo.

De resto, a Metlife realça que a chegada da geração millennial às empresas está a provocar mudanças profundas, com maior pressão sobre as empresas para serem mais transparentes nos benefícios a atribuir. Num mundo em que as redes sociais se globalizaram, há hoje plataformas eletrónicas em que os candidatos a um posto de trabalho podem consultar as avaliações que outros funcionários e ex-funcionários fazem dessa empresa.  É o caso das plataformas Glassdoor e Indeed, com as quais os trabalhadores ganharam mais opções e informações para responsabilizar as empresas no espaço público.

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