O comportamento dos mercados financeiros nas últimas semanas causará certamente estranheza. As subidas consecutivas das bolsas de valores e da maior parte das matérias-primas pode ser intrigante, tendo em conta a evolução recente da pandemia. Vários países apresentam números recorde de novos casos de Covid-19 e estão a ser implementadas medidas restritivas à atividade que terão, obviamente, graves reflexos na frágil recuperação económica que estava em curso.

O que pode então explicar esta desconexão entre os mercados e a economia?

Uma explicação convencional seria que os mercados já estão a “ver” para além da crise, mas ainda não é claro quando e se as vacinas irão resolver completamente o problema da pandemia. A justificação mais adequada parece assentar no facto de que o bull market tem a sua génese nos estímulos fiscais e monetários dos governos e bancos centrais.

Parte importante desse dinheiro está a ter como destino os mercados de ativos e não o consumo ou o investimento das empresas. Não se trata apenas da enorme quantidade de liquidez disponível, mas também do efeito das taxas de juro muito baixas que levam os investidores a procurar alternativas de investimento. No processo, têm sido criadas bolhas especulativas, que são certamente um sinal de alerta.

Perante o agravamento da pandemia e em vésperas de tomada de posse de uma nova Administração na Casa Branca que poderá ser muito interventiva, o mercado já está a contar com mais estímulos, nos quais já parece viciado. Sé é verdade que sem eles a situação seria mais grave a nível económico e social, as medidas tomadas estão a ter efeitos colaterais nos preços dos ativos. Portanto, é caso para dizer que quanto pior estiver a economia, melhor para os mercados.