Muitos dos jovens que estudam em Lisboa e no Porto vivem nestas cidades, mas uns expressivos 38,1% são estudantes deslocados, que vivem, temporariamente, nestas duas áreas urbanas sujeitas a grande pressão imobiliária.
“Dos estudantes deslocados, expostos aos custos da habitação temporária, 48% não possuem contrato formal de arrendamento e 51% dos estudantes dizem que o senhorio não emite recibos de renda, o que limita o acesso a apoios específicos e aumenta a situação de vulnerabilidade”, revela o estudo “Cartografia e dinâmicas socioeconómicas dos estudantes do ensino superior do Grande Porto e da Grande Lisboa”, divulgado esta quinta-feira, 21 de novembro.
O estudo do EDULOG, think tank para a Educação da Fundação Belmiro de Azevedo, que tem como autores António Magalhães, Maria José Sá, Joyce Aguiar e Daniela Pinto, revela ainda que a família cobre, na maior parte dos casos, as despesas de alojamento, de alimentação e de transporte nas duas principais áreas metropolitanas do país. Com efeito, 66,5% dos estudantes depende da ajuda familiar para frequentar o Ensino Superior e apenas 17,8% têm acesso a bolsas de estudo.
Os investigadores também confirmam com dados aquilo que todos sabemos: as residências universitárias não chegam para as encomendas. “A oferta é insuficiente, o que agrava a dificuldade de acesso a alojamento de qualidade e a preço acessível”, afirmam, adiantando que apenas 3% dos estudantes que concorrem a uma vaga numa residência universitária obtêm lugar. Os que o obtêm fazem uma avaliação positiva, principalmente no Grande Porto, onde os níveis de satisfação são maiores e refletem o acesso a condições adequadas de estudo, como a ligação à internet e o mobiliário, essenciais para uma experiência académica positiva.
Na Grande Lisboa, contudo, acrescentam os investigadores, “os níveis de satisfação são um pouco mais baixos, indicando uma possível carência na infraestrutura das residências e um maior descontentamento com os custos associados”.
Em termos de mobilidade, o transporte público é o meio mais utilizado, com 75,4% dos estudantes, na Grande Lisboa, e 58,4%, no Grande Porto, a recorrerem a este tipo de transporte para as deslocações diárias. No Grande Porto, os estudantes deslocam-se mais a pé (18,4%) do que na Grande Lisboa (10,5%), e entre os meios de transporte, o metro e o autocarro urbano são os mais utilizados em ambas as regiões, sendo o metro particularmente importante na Grande Lisboa (48,1% dos estudantes o utilizam) e no Grande Porto (com um uso de 39,5%). No entanto, os estudantes da Grande Lisboa mostram-se muito insatisfeitos com a cobertura e a qualidade da rede de transportes, enquanto os do Grande Porto demonstram uma maior satisfação com os serviços prestados, nomeadamente com o metro e os autocarros urbanos.
“Esta análise é um alerta sobre a urgência de se criar condições mais justas e equitativas para o acesso ao Ensino Superior nas maiores áreas urbanas do país, promovendo soluções que facilitem o percurso académico dos jovens e que contribuam para um futuro mais inclusivo e preparado”, afirma Alberto Amaral, coordenador científico do Conselho Consultivo do EDULOG.
O estudo sugere que as instituições de Ensino Superior e as políticas públicas poderiam beneficiar de “um reforço nas estratégias de apoio social, com especial atenção para as áreas de alojamento acessível e suporte financeiro aos estudantes deslocados”. Sugere igualmente a criação de mais “alojamentos subsidiados, o aumento das bolsas de estudo e a revisão dos critérios de elegibilidade”. Além disso, acrescenta, “a expansão e melhoria dos serviços de transporte e da infraestrutura de ciclovias nas áreas da Grande Lisboa e do Grande Porto seriam passos importantes para facilitar o acesso dos estudantes aos campos universitários. Essas melhorias proporcionariam maior conveniência, mas também promoveriam opções de transporte sustentáveis, alinhando-se com as expectativas e necessidades dos estudantes”.
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