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Seguradoras: que respostas serão precisas para envelhecimento, alterações climáticas e digitalização

Mal refeita da pandemia a indústria seguradora tem de dar resposta a três grandes temas do momento: a demografia com o aumento da população idosa, as alterações climáticas e a digitalização.
27 Novembro 2021, 18h00

A pandemia trouxe alterações de comportamento dos segurados. As preocupações subiram ao nível da proteção de saúde, dos eventos climáticos e a nível da poupança para a reforma, tendo em conta as alterações demográficas e eventuais insuficiências de recursos no final da vida ativa. Em simultâneo entrámos num modelo de trabalho híbrido e na necessidade de um novo tipo de mobilidade. Do lado dos empresários mantém-se risco assinalado em anos anteriores, como o risco cibernético e a necessidade de proteção de rendimentos.

Aliás, um estudo da corretora de seguros AON datada deste mês de novembro contém os riscos conhecidos em 2021 mas já projeta os 10 riscos mais relevantes esperados para 2024. O risco de cyber ataque mantém-se como o mais relevante, seguido da desaceleração da economia, do risco das alterações do preço das commodities, ainda o risco de interrupção de negócio, a subida das taxas de juro, o aumento da competição empresarial, o eventual falhanço a nível da inovação para a satisfação das necessidades dos consumidores, o tema regulatório, os riscos pandémicos – que é apenas o 9º risco mais relevante e com tendência para desaparecer – e, por último, o risco de liquidez nas empresas e famílias.

Gap protection
E quando se fala da necessidade de novas coberturas surgem problemas a nível de capacidade de proteção de sinistros, as chamadas “gap protection” que foram assinaladas na recente conferência anual do regulador de seguros (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões) como um tema a necessitar de uma nova abordagem. No mesmo evento, o presidente da associação dos seguradores (APS), Galamba de Oliveira, frisava que a indústria estava “disponível para a trabalhar a proteção dos riscos catastróficos, sendo que os seguradores não têm capacidade para os riscos sistémicos”. Estas soluções de parceria são comuns em outros países. No caso de Espanha a experiência tem 50 anos e já inclui catástrofes e terramotos e no Reino Unido inclui o risco de inundações. Sem dar soluções concretas, o ministro das Finanças João Leão, disse no mesmo evento da ASF, que “importa corrigir” os gaps das apólices que excluem eventos pandémicos e importa “corrigir as lacunas como os eventos climáticos”. Admitiu ainda vir a alterar-se o tipo de cobertura de risco que terá de passar pelos setores privado e público. Anteriormente e na mesma conferência o presidente da APS tinha afirmado que mutualizar o risco permite trazer escala para que esse risco possa ser absorvido e repassado para resseguradoras internacionais. Refere Carla Sá Pereira, partner da EY, que “do lado da gestão do risco, as alterações climáticas estão a ter um forte impacto na frequência e severidade de eventos climáticos extremos e mesmo algumas catástrofes naturais. É importante que se proceda a uma reavaliação dos riscos, fazendo-a refletir nos prémios, mas também podem surgir novos produtos”. Adianta que “as empresas de seguros estão ainda a enfrentar uma pressão cada vez maior para tomar medidas no combate às alterações climáticas. Este tema tem estado nas suas prioridades, mas julgamos que se vai intensificar o investimento dedicado a esta área, quer pelo impacto que aquelas têm nos dois lados do balanço das empresas de seguros, quer pelo impacto reputacional que determinadas medidas, ou inação, podem ter na sua marca. De facto, o investimento em medidas que contribuam para a mitigação daquele fenómeno, para além do óbvio contributo para a sustentabilidade do planeta, podem constituir uma poderosa estratégia de marketing para chegar a clientes individuais e empresas que estejam sensibilizados para esta questão e a trabalhar no mesmo sentido”. Refere Steven Brackveldt, ceo do grupo Ageas Portugal, que “nestas tendências, claro que se inclui a crescente preocupação ambiental e consciencialização de que o nosso planeta está no limite e de que a tomada de ação é urgente. As alterações demográficas, onde se incluem o envelhecimento das populações e as diferenças intergeracionais, têm impacto no mercado de trabalho e nas escolhas dos consumidores, assim como a evolução tecnológica, cada vez mais exponencial, com tudo o que traz de bom, mas também com os desafios que coloca”. Refere ainda que “qualquer risco é segurável desde que o seja ao preço adequado”. Adianta que aquilo que não era segurável há 30 anos pode sê-lo agora. A questão que se coloca “é se há clientes disponíveis para pagar o preço justo para o risco em causa. E por outro lado, se é viável financeiramente para uma seguradora lançar produtos para nichos demasiado pequenos. É de sublinhar que os riscos decorrentes das alterações climatéricas e do aumento da probabilidade de grandes catástrofes naturais, assim como os riscos associados ao aumento da esperança média de vida, irão sempre colocar grandes desafios ao sector, tendo enormes questões de imprevisibilidade, assim como complexidade na estimativa dos seus custos futuros. De realçar que o mutualismo do risco relacionado com a atividade seguradora poderá ser uma alavanca para maior propensão a riscos desconhecidos, contudo a sustentabilidade de médio e longo prazo será sempre um fator de forte impacto na decisão”.

Trabalho e tecnologia
Os fator geracional, os modelos de trabalho, o talento, a regulamentação, os mercados financeiros, a confiança e a sustentabilidade são alguns dos desafios avançado pelo CEO da Zurich Portugal, António Bico. Frisa que as diferentes gerações “foram sempre um fator determinante no desenvolvimento das mudanças que acontecem no mundo, já que impõem novas formas de pensar, agir, questionar e de encarar o futuro. Os baby boomers, os millennials e a geração Z vivem hoje em comunidade e vão continuar a colocar-nos novos desafios e exigências. No setor segurador temos de conseguir proporcionar e dinamizar os modelos e as metodologias de negócio que correspondam às expetativas de todas estas gerações, em simultâneo”. Frisa Carla Sá Pereira que “o foco no cliente vai continuar a introduzir alterações no setor”. As empresas de seguros estão cada vez mais interessadas em conhecer os diferentes perfis de clientes e melhorar os momentos e formas de contacto com os seus clientes. Adianta que “as necessidades das novas gerações são diferentes, pelo que é crucial que tenhamos um setor mais ágil e preparado para se adaptar a diferentes necessidades”.

Poupança
Os seguros e a tecnologia são instrumentos essenciais na poupança. Refere o ceo da Ageas Portugal e citando um inquérito pan-europeu da Insurance Europe (esta entidade integra a Associação Portuguesa de Seguradores) que “a maioria dos portugueses prefere receber informação sobre produtos de poupança em formato digital em vez de papel. Isto leva-nos à clara importância da digitalização. Situação transversal a muitos outros temas, permitindo que a informação chegue ainda mais rápido ao seu recetor.”

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