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Queda da natalidade e envelhecimento podem reduzir crescimento do PIB em 0,6 pontos por ano até 2050

Estudo do McKinsey Global Institute traça um cenário negro para a demografia portuguesa, como aliás para parte do mundo desenvolvido. E lança propostas para uma reação rápida em termos estruturais.
25 Março 2025, 07h00

Dois terços da população mundial vivem em países com taxas de natalidade abaixo do nível de reposição de 2,1 filhos por mulher. Portugal apresenta uma taxa de 1,5. Nas economias avançadas e na China, a população em idade ativa – a que gera atividade económica – cairá dos atuais 67% para 59%. Em Portugal, de 63% para 53%, refere um estudo do McKinsey Global Institute (MGI). Que avança que “sem reformas urgentes, as economias avançadas e emergentes enfrentarão um abrandamento do crescimento económico e uma pressão crescente sobre os sistemas de pensões e as finanças públicas. Se não forem tomadas medidas, o envelhecimento da população reduzirá em 0,6 pontos percentuais por ano o crescimento do PIB per capita português nos próximos 25 anos. O número de pessoas em idade ativa por reformado passará de 2,6 para 1,6.

O estudo da McKinsey sublinha que Portugal enfrenta um dos maiores desafios entre os países de todo o mundo. Com uma taxa de natalidade de cerca de 1,5 filhos por mulher e uma percentagem crescente da população na reforma, o crescimento económico e as finanças públicas estarão sob pressão crescente. A população portuguesa em idade ativa atingiu o seu máximo em 1999, situa-se atualmente em 63% e diminuirá para 53% em 2050. Prevê-se que o número de pessoas em idade ativa por cada pessoa com mais de 65 anos diminua dos atuais 2,6 para 1,6, dentro de apenas 25 anos. As alterações demográficas, por si só, poderão reduzir o crescimento de Portugal até 0,6 pontos percentuais ao ano, até 2050. Como referência, o crescimento anual nos últimos 25 anos foi de 1,1%, o que significa que o impacto demográfico poderá eliminar mais de metade desse crescimento.

“As alterações demográficas, ao contrário de outros fenómenos, têm uma vantagem importante: evoluem lentamente e são altamente previsíveis”, afirma Marc Canal, investigador sénior do MGI. “Portugal tem um enorme desafio demográfico, que só poderá ser superado com uma maior participação no mercado de trabalho e um aumento substancial da produtividade. Além disso, é fundamental repensar o contrato social entre gerações.”

A transformação demográfica global, caracterizada pela diminuição das taxas de natalidade e pelo envelhecimento da população, está a mudar radicalmente a estrutura económica mundial, de acordo com o estudo, intitulado Dependency and Depopulation? Confronting the consequences of a new demographic reality.

Dois terços da população mundial vivem em países com taxas de natalidade inferiores ao nível de reposição de 2,1 filhos por mulher. Esta situação poderá levar algumas economias avançadas e a China a perder entre 20% a 50% da sua população até 2100. A McKinsey descreve o futuro como “a era da escassez de jovens”. As pirâmides populacionais já não se assemelham a pirâmides e estão a assumir a forma de obeliscos, caracterizados por um aumento acelerado da população idosa e uma redução significativa do número de jovens.

O estudo indica que, nas economias avançadas e na China, a população em idade ativa cairá para 59% do total em 2050, contra os atuais 67%. Neste contexto demográfico, prevê-se que o crescimento do PIB per capita diminua substancialmente, em mais de 0,5 pontos percentuais por ano em vários países, a menos que a produtividade e a participação no mercado de trabalho aumentem. A pressão sobre os sistemas de pensões e as finanças públicas continuará a intensificar-se. Prevê-se que o número de pessoas em idade ativa por cada reformado (a chamada “taxa de suporte”) diminua dos atuais 3,9 para 2 em 2050. Esta transformação terá um impacto direto no consumo: atualmente, as pessoas com mais de 65 anos são responsáveis por 2,1 euros em cada 10 euros gastos. Em 2050, prevê-se que este valor aumente para 3,1 euros, o que trará implicações significativas para as estratégias empresariais.

“Estamos num ponto de viragem. Os modelos económicos baseados no crescimento da população ativa são coisa do passado. Precisamos de mudanças profundas para sustentar o aumento do nível de vida”, afirma Chris Bradley, sócio sénior e diretor do MGI. “Na ausência de mudanças, as economias avançadas poderão ver o crescimento do PIB per capita cair substancialmente nas próximas décadas, o que afetará a prosperidade das gerações futuras.”

O estudo do MGI destaca que, para se adaptarem a esta nova realidade, as empresas terão de repensar as suas estratégias para captar o mercado sénior, gerir equipas multigeracionais e investir em tecnologias que impulsionem a produtividade. Ao mesmo tempo, os governos terão de desenhar políticas públicas que incentivem este investimento, bem como o reforço da poupança para a reforma, a saúde pública e a promoção da longevidade saudável. O estudo também indica que o epicentro do consumo e do trabalho se deslocará para regiões emergentes, além da China. De acordo com as tendências atuais, prevê-se que a população chinesa passe de 18% da população mundial total, para 6% até ao final do século. Ao mesmo tempo, até 2100, um terço da população mundial será proveniente da África subsariana.

O McKinsey Global Institute (MGI) foi criado em 1990 com o intuito de “fornecer uma base de factos para ajudar na tomada de decisões sobre as questões económicas e comerciais mais importantes para as empresas e líderes políticos mundiais”.

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