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Queda do banco alemão faz temer cenário pior que falência do Lehman

Este ano, as ações já caíram 52%, avaliando o banco em 16 mil milhões de euros, um valor não muito longe da multa proposta pelos EUA.
Kai Pfaffenbach/Reuters
1 Outubro 2016, 15h32

O setor financeiro está em sobressalto por causa do Deutsche Bank e as bolsas continuam a fus­tigar os títulos da instituição financeira. O gigante alemão tem estado sob pressão pela sua exposição ao mercado de derivados, crise de dívida europeia e de­vido à multa de 14 mil milhões de dólares (12,5 mil milhões de euros) que poderá ter de vir a pagar nos EUA, por más práticas ocorridas antes da crise financeira de 2008.

“As provisões de 5,5 mil milhões parecem curtas, mesmo que a multa seja revista em baixa. Assim, o risco de o banco ter de aumentar os rácios de capital é real. Perante o risco de diluição do valor das ações atuais, o preço tem caído fortemente”, explicou Eduardo Silva, gestor da corretora XTB, em declarações ao Jornal Económico.

O nervosismo nos mercados é notório. Desde o início do ano, as ações já caíram 52%, avaliando o banco em cerca de 16 mil mi­lhões de euros, um valor não muito longe da multa.

A dimensão do banco coloca-o no topo da lista em termos de risco sistémico. Há mesmo quem considere que o risco sistémico da queda de um Deutsche Bank é superior à falência de alguns países como Portugal. O cenário traz alguns fantasmas da crise de 2008 e levanta dúvidas sobre se o sistema financeiro estaria preparado para a queda de um banco desta dimensão.

“A queda de um Deutsche Bank seria equivalente à falência do Lehman Brothers, ou seja, uma catástrofe, mas que exigiria ações muito mais rápidas e definitivas quanto à banca europeia”, adiantou Pedro Lino, CEO da Dif Brokers.

Nesta altura, a grande dúvida é sobre a capacidade de o banco alemão conseguir “gerar resultados para se reorganizar e, ao mes­mo tempo, poder competir e pagar as multas decorrentes de atividades passadas. Claro que não creio que este valor aplicado pelo regulador americano seja inocente e o facto de a Comissão Europeia estar a visar as empresas americanas pode contribuir para um menor grau de abertura em flexibilizar o valor da multa”, acrescentou Pedro Lino.

A tese de que esta é uma retaliação dos EUA à Europa, nomeadamente pela aplicação de multas a alguns gigantes norte-americanos como a Apple e a Google, tem vindo a ganhar adeptos.

Todo este cenário tem pressionado a chanceler alemã, assim como o Banco Central Europeu (BCE), a atuarem. Para já, parece excluída a possibilidade de algum tipo de resgate. Ainda ontem a Reuters avançava, citando deputados das duas maiores forças políticas com assento no Bundestag, que tanto o Governo como os principais grupos parlamentares alemães não apoiam uma operação de salvamento com dinheiro público.

“As alternativas são alienar ativos, que já verificámos foi o primeiro passo que a instituição tomou, com a venda da Abbey life por mil milhões. Outro cenário é um aumento de capital, a administração recusa que esta hi­pótese esteja, para já, em cima da mesa. Podemos assistir a uma fusão, pouco provável nesta fase. Por fim, temos investimento privado ou público na instituição”, acrescentou Eduardo Silva.

Em Portugal, a sucursal do Deutsche Bank está, atualmente, a passar por um processo de re­estruturação, estando previsto o fe­cho de 15 balcões e a saída de alguns trabalhadores, revelou à Lu­sa, nesta semana, o presidente do banco. Atualmente, o Deutsche Bank tem cerca de 400 trabalhadores em Portugal, com 50 balcões e, segundo o responsável Bernardo Meyrelles, irá fechar 15 destes, sobretudo nas cidades de Lisboa e do Porto, onde há agências mais próximas entre si.

Em contrapartida, o plano passa pela abertura de seis centros de investimento, dos quais quatro já estão em funcionamento, onde o enfoque será feito em clientes com valor patrimonial mais elevado.

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