A jovem empresária Paula Rego, da ilha de São Miguel, tinha o sonho de ser veterinária mas as restrições à produção de leite trocaram-lhe as voltas aos 17 anos de idade. Hoje volvidos três anos, gere a reconhecida Queijaria Furnense, que fabrica mais de três centenas de Queijo do Vale por dia.
“É um negócio familiar que surgiu devido às quotas leiteiras. A União Europeia decidiu que os produtores, de 2015 para 2016, não podíamos ultrapassar certa quota. Na altura, houve muitos produtores que a passaram e perderam 7 cêntimos por cada litro. Nós também podíamos ter ficado falidos, mas continuamos a ser produtores de leite e a estar no programa das Vacas Felizes”, conta a empreendedora micaelense ao Jornal Económico (JE).
A família açoriana previa ultrapassar o limite e, para resolver o problema, fez um investimento na ordem dos 300 mil euros numa fábrica de queijo. “Não cruzámos os braços. Metemos mãos à obra e mudámos o destino do nosso leite, para não atingir a meta, fazendo queijo. Acontece que não sabíamos fazer queijo. A nossa primeira opção ver como é que as coisas funcionavam, e mesmo assim ficavam todos horríveis. Aquilo não era queijo não era nada”, confessa.
Ao longo de um ano e meio foram aperfeiçoando a técnica e arrecadando auxílio de dois ou três colaboradores – inclusive o de um ex-queijeiro da Terra Nostra – e acabou por ter um produto capaz de chegar às mesas dos açorianos. “Todo o leite é da nossa exploração e o nosso objetivo sempre foi diferenciar. Então, lembrámo-nos de juntar a água azeda das furnas, de usar um recurso natural”, explica Paula Rego.
Em 2016, estes queijeiros transformavam 550 litros de leite por dia, passaram para mil nos anos seguintes e, mais recentemente, ultrapassaram a barreira dos 2 mil litros diários, o que os levou a variar o produto e a criar bombons de queijo. No próximo ano, os donos da Queijaria Furnense irão lançar oficialmente outro negócio: visitas guiadas à sua exploração (estábulo e pasto), onde os turistas poderão, por exemplo, ordenhar as vacas.
Spin-off põe turistas a jogar em museus
Lázaro Raposo é o CEO da Cereal Games, uma empresa criada em 2014 que se dedica sobretudo ao desenvolvimento de jogos “sérios e educativos” e que nasceu no seguimento de uma tese de mestrado. Hoje, a startup açoriana cria jogos com tecnologias como a Realidade Aumentada (RA) ou a Internet of Things, tendo recebido investimentos da Portugal Ventures (a par com a Azores Touch e a Yara Pets, num total de 800 mil euros) e do Competir+ – Sistema de Incentivos para a Competitividade Empresarial (3.457,62 euros).
“Temos trabalhado muito com municípios, escolas, centros de ciência e museus, tendo em conta o nosso foco nos jogos universais. É um público, um segmento, que reconhece a nossa capacidade de dar resposta à necessidade de se criarem experiências atrativas e inovadoras”, refere ao JE, aquando de uma visita ao Nonagon – Parque de Ciência e Tecnologia de São Miguel.
Três dos projetos que criaram foram um simulador de paleontologia para a ilha de Santa Maria, uma plataforma digital de distribuição de jogos para profissionais e um “Museum Hunter”, para a Câmara Municipal da Ribeira Grande.
“A autarquia tem uma rede de quatro museus mas essa rede não estava ligada. Ou seja, os visitantes de um museu não davam continuidade indo aos outros”, conta o designer de jogos. Assim, a equipa da Cereal Games criou uma solução de incentivo: uma espécie de caderneta de cromos. “É um Pokémon meets caderneta da Panini. Cada museu tem uma série de cromos e com RA consigo apontar para a peça do museu, há pistas e começo a colecionar. Com o espírito de colecionador fomentado, as pessoas acabam por ter curiosidade e percorrer os outros”, explica Lázaro Raposo, que é licenciado em Informática, Redes e Multimédia pela Universidade dos Açores.
https://jornaleconomico.pt/noticias/segredo-ainda-por-explorar-acores-procuram-startups-ideias-para-renovar-o-turismo-493679
*A jornalista viajou até Ponta Delgada a convite da GesEntrepreneur
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