[weglot_switcher]

Queiroz Pereira monta sucessão no maior grupo industrial nacional

O dono da Semapa deixou cargos executivos, optou por gestão profissional, preveniu o desmembramento do grupo e salvaguardou o património das filhas.
5 Maio 2017, 07h50

A exemplo do que sucedeu nos anos mais recentes com grandes grupos empresariais portugueses de base familiar, Pedro Queiroz Pereira (PQP) já garantiu as linhas com que se há de coser o processo de sucessão na Semapa, holding que controla o maior grupo industrial português da atualidade, controlando a The Navigator Company (ex-Portucel), na área da pasta e papel; a Secil, no segmento dos cimentos, além da ETSA, no ambiente.

Tal como antes dele Américo Amorim (Grupo Amorim), Belmiro de Azevedo (Sonae) ou Alexandre Soares dos Santos (Jerónimo Martins), também Pedro Queiroz Pereira acautelou a sucessão, mas ao contrário dos anteriores a opção não foi via descendência, mas antes pela alternativa da gestão profissional.

No rescaldo da violenta guerra com Ricardo Salgado, na débacle do Grupo Espírito Santo (GES), mais publicamente visível a partir de setembro de 2013, durante a qual Pedro Queiroz Pereira foi um dos poucos que se opôs frontalmente ao banqueiro, o patrão da Semapa começou a acautelar nos bastidores, de forma discreta, mas pragmática, não só a sobrevivência futura do grupo empresarial que ergueu ao longo de décadas, mas também a salvaguarda patrimonial das suas três filhas. A via da gestão profissional surge porque nenhuma das suas filhas demonstrou vontade ou tem experiência na gestão de empresas nas áreas em que as do universo de PQP atuam.

O Jornal Económico sabe que o ex-piloto de ralis decidiu largar mão do volante do grupo empresarial da Semapa, The Navigator Company e Secil, entre outras firmas, no âmbito deste processo de implosão do GES/BES, quando, em fevereiro de 2014, perde o seu antigo braço direito José Honório, à altura CEO da Portucel.

Diogo da Silveira assume essas funções a 1 de abril desse ano, numa operação-relâmpago. Depois de atingir 65 anos, data-limite para exercer cargos executivos no grupo, Pedro Queiroz Pereira tem outra questão para resolver: um substituto para si próprio como CEO da holding Semapa. A solução é apresentada a 1 de julho de 2015, com a entrada em funções nesse cargo de João Castello Branco.

“Esta designação, representa um marco importante na história do Grupo Semapa e reflete o movimento de rejuvenescimento e dinamismo que se quer imprimir ao mesmo, mantendo sempre uma orientação para o crescimento e desenvolvimento sustentável”, sublinhava a mensagem de abertura do relatório e contas da Semapa referente ao exercício de 2015, sintomaticamente assinada pelos dois gestores.

O tripé da gestão profissional das grandes empresas do grupo é completado já no final do ano passado, com a  nomeação de suíço Otmar Hübscher para presidente executivo da cimenteira Secil, aproveitando a sua experiência no Brasil à frente do número um mundial do setor, a Lafarge-Holcim.

Em paralelo, o Jornal Económico apurou que Pedro Queiroz Pereira salvaguardou a posição patrimonial das suas filhas, tendo criado um family office, um fundo privado fechado, subscrito apenas por estas familiares, que gere o acervo patrimonial da fortuna do empresário, incluindo uma posição acionista de controlo nas empresas do grupo (Semapa, The Navigator Company, Secil, ETSA e outras). As regras desse family office, neste caso, um SFO – Single Family Office (fundo unifamiliar) deverão impor que as suas descendentes mantenham a titularidade destes ativos por um determinado prazo, só os podendo alienar em certas condições. Desta forma, o empresário também terá evitado que, no futuro, o grupo empresarial possa vir a ser desmembrado ou adquirido por uma ou mais das suas irmãs, com quem Pedro Queiroz Pereira agravou a sua má relação durante o descalabro do GES/BES.

O grupo empresarial criado e liderado por Pedro Queiroz Pereira, agora apenas na função de chairman, tem atividade industrial permanente em seis países de quatro continentes – Portugal, Angola, Tunísia, Líbano, Brasil, Estados Unidos – além de ter um projeto de investimento de grande envergadura em curso em Moçambique (ver texto na próxima página) e ter preparada a entrada em outros mercados. No ano passado, a holding Semapa faturou 2.074,4 milhões de euros, registou um EBITDA de 489,1 milhões de euros e obteve lucros de 114,9 milhões de euros. Mas a fortuna criada por Pedro Queiroz Pereira não se fica por aqui, estendendo-se a propriedades e outros imóveis, por exemplo.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.