A dívida pública americana está a nível recorde, 34 milhões de milhões de dólares, 26,5 deles nas mãos do público. É obra, 140 vezes o PIB português e 125% do PIB americano. Mas ainda pior é a dinâmica da dívida: no ano passado foram somados 5,8% do PIB. Em 2023 só o serviço desta dívida atingiu quase 880 mil milhões de dólares, quatro vezes o nosso PIB e um aumento de mais de 160 mil milhões face ao ano anterior.

O serviço da dívida já é a rubrica do orçamento americano de mais rápido crescimento. Era 1,2% do PIB a meio da década de 2010 e 1,8% no final, 2,4% o ano passado e está projetado a 3,1% este ano; o Congressional Budget Office põe-no a um milhão de milhões em 2026.

Com estes números uma questão fica no ar: esta dívida é sustentável? Para já, sim, é a resposta dos mercados, pois os EUA conseguem que ela seja comprada, logo quem a compra acredita que vai ser paga. O que é surpreendente dada a estratégia suicida dos congressistas republicanos, com a confusão com shutdowns e crises de teto da dívida que criam – as agências de rating retiraram aos EUA a classificação de AAA por considerarem que há um problema de governance: em junho o país esteve a dois dias de não honrar os seus compromissos com os credores.

Não seria a primeira vez, aconteceu em 1812, quando o Tesouro e parte de Washington – incluindo a Casa Branca e o Capitólio – foram incendiados pelos britânicos, e em 1979 quando um problema de processamento de texto provocou um atraso em 4000 pagamentos, cerca de 122 milhões de dólares, que fez a taxa dos títulos subir 60 pontos base e por isso custou 12 mil milhões ao Tesouro americano.

Quanto custa um default? Em 2023 o Council of Economic Advisers estimou que um default levaria a uma perda de entre um e oito milhões de empregos nos EUA. Segundo Mark Zandi, da Moody’s Analytics, oito milhões de empregos e uma redução de dez milhões de milhões de dólares da riqueza das famílias. Mas seria mais grave o pandemónio nos mercados financeiros internacionais.

Desaparece o ativo sem risco, com tratamento favorável nas regras prudenciais, e que é colateral em muitas operações financeiras. E acentua-se um caminho que se avizinha, se Trump vencer as eleições: o uncoupling das economias europeia e americana, uma espécie de cada um por si cujos primeiros sinais são o regresso do protecionismo nos EUA e o loosening da NATO. A prazo será o Make America Small – o fim do exorbitante privilégio do dólar e o mundo deixa de financiar os défices gémeos americanos.