A desigualdade entre géneros é muitas vezes vista como um tema de “igualdade de resultados”, o que não só considero errado, como a sua promoção é indutora de injustiças, quer para homens, quer para mulheres.

A “ciência” está na igualdade de oportunidades, para que se possa ser mãe, cuidadora, gestora ou profissional liberal, ou, porque não, ter diferentes focos ao longo da vida. Sem culpas, sem obrigatoriedades e com escolha. Mas esse não é o mundo em que vivemos e, por isso, a pergunta: será mesmo que queremos mulheres?

Em pós-eleições, comecemos pelas “mulheres na política”. Um estudo recente do medialab-ISCTE mostra a sub-representação das mulheres no comentário político na TV, rádio e meios online (24%,34%,19%).

Interessante ainda é a percentagem de mulheres sem posicionamento político conhecido: quase metade. Contrastando com apenas 16% dos homens, revelador também das próprias estruturas partidárias. Na TV a participação decresceu de 2022 para 2023, mas não é caso único. Também na Assembleia da República baixou a representatividade, tal como já tinha acontecido em 2022.

Mas pior mesmo é a falta de presença nos processos de tomada de decisão. Tudo isto ocorre depois das odes ao eleitorado feminino no último dia de campanha, no Dia da Mulher. Porque para votos, enfeite, propaganda ou preenchimento de quota, aí, já se pode “querer mulheres”.

Quero focar no mercado de trabalho. A rigidez explica parte da dificuldade em sair em situações de abuso, dificulta a reentrada pós-maternidade, há pouca cultura de flexibilidade para compatibilizar diversos estilos de vida. Pouco crescimento, pouca rotatividade, pouca flexibilidade.

Eis causas que distorcem o mercado de trabalho com forte impacto na diversidade de género. Temos ainda uma economia pobre, com baixa cobertura de respostas sociais, e são as mulheres que assumem o papel de cuidadoras. Isto não se resolve com quotas, para além de ser legítimo querer ser escolhida por valor.

A solução não é procurar igualar o que é diferente, mas sim garantir as condições de base. Importa ainda defender uma cultura onde não se beneficie a tomada de decisões de base informal e em lógicas fechadas. Por isso defendo a transparência da tomada de decisão, que tem impacto para todo o tipo de corporativismos e em prol da boa gestão, quando o foco tem estado, erradamente, na “transparência dos vencimentos”.

O problema está antes, em tratar igual o que é diferente, só agrava injustiças. E por isso a pergunta: quer-se mesmo transparência e igualdade de oportunidades?