[weglot_switcher]

Quinta da Alorna quer duplicar faturação em dois anos

“As nossas exportações são absorvidas maioritariamente pelo mercado brasileiro, britânico, holandês e polaco. É para nós uma prioridade acompanhar estes mercados e garantir a fidelização e ‘engagement’ com a marca”, refere Pedro Lufinha ao JE.
  • Branco, verde, tinto ou rosé.
25 Abril 2021, 19h00

A Quinta da Alorna (QA) prevê fechar 2021 com uma faturação superior a quatro milhões de euros apenas no segmento dos vinhos, que normalmente vale dois terços do volume de negócios da empresa, mas os objetivos a cinco anos são ainda mais ambiciosos. Em entrevista exclusiva ao Jornal Económico, Pedro Lufinha, diretor geral, explica os novos desafios deste produtor agroalimentar, cuja atividade não se resume aos vinhos.

“Em 2021, temos um objetivo de aumentar a faturação de vinhos em cerca de 20%, para os 4,070 milhões de euros. Na exportação, prevemos crescer cerca de 13%, ascendendo a 1,9 milhões de euros”, revela Pedro Lufinha, diretor geral da QA em declarações ao Jornal Económico.

“Apesar de estarmos em plena pandemia, 2020 acabou por ser um ano bastante positivo para a Quinta da Alorna. Em termos de faturação, tivemos um crescimento de 9% face ao ano anterior na área vinhos. Este crescimento resulta sobretudo do aumento de vendas em artigos de preço médio mais baixo, disponíveis nas grandes superfícies. A significativa redução de atividade do canal Horeca (hotéis e restaurantes), quer em Portugal quer no estrangeiro teve, sem dúvida, um forte impacto no nosso negócio pois reduzimos substancialmente as vendas dos nossos vinhos de maior valor acrescentado, nomeadamente os Grande Reserva, Reserva e vinhos de sobremesa”, adianta este responsável.

No entanto, Pedro Lufinha, explica que, “como contrapeso, houve um forte crescimento no canal ‘off trade’ (super e hipermercados) o que fez com que, apesar de todas as condicionantes, o ano de 2020 fosse um ano positivo para a Quinta da Alorna, tendo incrementado as vendas em quantidade em cerca de 24% e em valor em cerca de 9%. No final de 2020, a QA tinha registado um crescimento da faturação de vinhos de cerca de 37% face a 2015.

Por seu turno, “a exportação teve um crescimento de 11,6% em 2020 e representou cerca de 46% das vendas em valor”. Na verdade, a exportação tem sido uma vertente forte da atividade da QA, tendo registado um crescimento de 69% face a 2015, tendo em 2020 ascendido a cerca de 1,7 milhões de euros.

“As nossas exportações são absorvidas maioritariamente pelo mercado brasileiro, britânico, holandês e polaco. É para nós uma prioridade acompanhar estes mercados e garantir a fidelização e ‘engagement’ com a marca. Para além de estarmos a reforçar a presença da QA nos EUA, Rússia e na China, estamos simultaneamente à procura de novos mercados tais como o mercado francês e alemão”, assume Pedro Lufinha.

Estes indicadores positivos resultam também de um investimento contínuo. “Nos últimos cinco anos, investimos cerca de 2,2 milhões de euros. O que norteia os nossos investimentos em inovação e tecnologia é conseguirmos ser ambientalmente mais sustentáveis e podermos aumentar a qualidade dos nossos vinhos. Nesse sentido, a QA tem apostado, cada vez mais, em soluções tecnológicas que permitam que este projeto seja cada vez mais sustentável. Exemplo disso é o investimento feito em seis centrais fotovoltaicas que permitiram produzir cerca de 139% da energia que é consumida na adega”, assinala o diretor geral da QA.

Pedro Lufinha recorda que “há vários anos que temos vindo a investir em equipamentos e sistemas que nos permitam utilizar de forma mais eficiente os recursos escassos, nomeadamente água e energia, e nos permitam desenvolver uma agricultura de precisão, tendo investido em sondas de humidade, variadores de velocidade e caudalímetros para os ‘pivots’ de rega, tractores com autoguiamento, utilização de imagens de satélite com aplicação de filtros NDVI”.

De acordo com o diretor geral da QA, “também em termos de adega, temos investido em tecnologia que nos permite, de forma mais rápida e eficaz, analisar as uvas para sabermos o seu ponto exacto de maturação em função do perfil de vinho que pretendemos produzir e em equipamentos que nos permitem fazer vinificações de quantidades menores, permitindo incrementar significativamente a qualidade dos mostos e consequentemente do produto final”.

“Os nossos enólogos são também muito relevantes neste processo de inovação, na medida em que todos os anos fazem experiências de vinificação, aquando da vindima. São estas experiências que nos permitem ter hoje em carteira algumas novidades que apresentaremos ao longo deste ano e seguintes”, promete Pedro Lufinha.

Nos próximos cinco anos, a QA prevê investir 4,5 milhões de euros, com maior incidência entre 2022 e 2024. Deste investimento global, 48% vão ocorrer na área agrícola, incluindo a vinha, e 43% na área dos vinhos. Para o presente ano, está previsto um investimento de cerca de 525 mil euros, “essencialmente em aumento de capacidade da adega, reforço da qualidade dos vinhos e constante reforço da garantia de qualidade alimentar – estamos a concluir o processo de certificação IFS -, reforço de equipamento automático de rega para explorarmos diretamente a área agrícola que está atualmente arrendada, para a plantação de amendoeiras, uma nova cultura que teremos a partir de 2022, e plantação de cerca de 40 hectares de vinha”.

Segundo o diretor geral da QA, serão também reforçados os sistemas de informação, além de estar previsto o reforço da equipa, com a contratação de uma nova pessoa para assessorar o diretor agrícola e de um novo adegueiro. A estrutura da QA será ainda reforçada no ‘controlling’ e nas estruturas de ‘customer service’ e ‘customer marketing’ e da equipa comercial.

A propriedade da QA, detida pela família Lopo de Carvalho, tem cerca de 2.800 hectares. Para além da vinha, que ocupa 160 hectares, tem cerca de 500 hectares dedicados a regadio e cerca de 1.900 hectares de floresta, pelo que nem tudo são vinhos. “Na área silvícola, a QA tem montado de sobro, de onde retira a cortiça, pinhal manso para produção de pinhão e eucaliptos para produção de pasta de papel. Esta relevante área florestal ajuda igualmente a mitigar as emissões de dióxido de carbono para a atmosfera. Na área de regadio estamos, atualmente, a produzir em exclusivo para a indústria agroalimentar. Como principais produções posso destacar o milho; a batata, para a Matutano; o amendoim, para a PepsiCo; ervilhas e batata doce. Adicionalmente, a QA conta ainda com seis centrais de produção de energia fotovoltaica na propriedade”, explica Pedro Lufinha.

Com quase 300 anos de história, a QA entrou agora numa nova fase, de mudança de imagem. “Pretendemos duplicar a faturação em cinco anos e triplicar resultados no mesmo período. Para tal, necessitamos que a imagem reflita o crescimento de qualidade (…) já ocorrida há vários anos. A assinatura que escolhemos para o relançamento da marca foi ‘Quinta da Alorna. Tanto por descobrir’. Com esta mensagem, pretendemos atingir dois grandes objetivos: a descoberta das diversas gamas de vinho que temos no nosso  portefólio e que são desconhecidas do grande público, nomeadamente os vinhos de maior valor acrescentado; e a diversidade de atividades que compõem o nosso negócio, nesta propriedade tão vasta”, resume Pedro Lufinha.

Assim, os vinhos representam cerca de dois terços da faturação global da QA. “Nas restantes áreas de negócio, no final de 2020, tínhamos registado um crescimento da margem líquida de cerca de 39% face a 2015”, garante o diretor geral da QA.

Nos vinhos, a QA produz a partir das castas Fernão Pires, Arinto, Alvarinho, Verdelho, Moscatel, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Viognier, nas brancas; e Touriga Nacional, Castelão, Touriga Franca, Trincadeira, Tinta Roriz, Tinta Miúda, Souzão, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon e Syrah nas tintas. “Talvez as mais emblemáticas sejam as que estão nos vinhos reserva: a Touriga Nacional, o Cabernet Sauvignon, o Arinto e o Chardonnay. Da região, as castas mais relevantes são o Castelão e o Fernão Pires”, resume Pedro Lufinha.

No que respeita ao enoturismo, “temos uma loja aberta ao público na quinta e fazemos visitas à adega e provas de vinhos por marcação (interrompidas no âmbito do confinamento)”. “O palácio da Quinta da Alorna é utilizado exclusivamente pelos acionistas e por clientes (importadores, distribuidores, canal Horeca, etc.) sempre que existe a necessidade de ficarem alojados na sequência de reuniões e provas”, explica Pedro Lufinha. O diretor geral da QA assume que a faturação desta área, da loja de vinhos, “é relevante: cresceu entre 2015 e 2019 cerca de 20%, mas reduziu em 2020 devido ao confinamento e à impossibilidade de deslocação à loja, não tendo sido compensada com as compras por outros meios”.

“Prevemos a médio prazo criar circuitos de passeio pela quinta, retomar as provas de vinhos e avançar com novos projetos nesta área que ainda estamos a discutir e avaliar internamente”, adianta Pedro Lufinha.

Segundo o diretor geral da QA, “em 2015, tínhamos cerca de 60 colaboradores, tendo hoje em dia cerca de 50, na medida em que a equipa agrícola tem vindo a diminuir por atingirem a idade da reforma e tem sido muito difícil recrutar novos colaboradores”.

“Assim, desde 2019 temos vindo a recorrer a trabalho temporário para alturas específicas do ano, ligadas essencialmente à vinha, nomeadamente poda e vindima”, admite Pedro Lufinha.

Em termos comerciais, o canal ‘off trade’, historicamente, representa cerca de 60% a 65% da faturação, tendo crescido para cerca de 76% em 2020 devido ao confinamento e desvio do consumo dos restaurantes para os supermercados”, explica Pedro Lufinha, acrescentando que “o nosso objetivo de médio e longo prazo é aumentar a nossa percentagem de venda no canal ‘on trade’, local onde vendemos vinhos de maior qualidade e valor acrescentado, nomeadamente os Reserva, Grande Reserva e vinhos de sobremesa”.

Sobre o desafio de renovar a imagem de casa quase tricentenária, o diretor geral da QA considera que “é uma consequência de várias outras mudanças que ocorreram e estão a ocorrer”. “A empresa é detida pela família Lopo de Carvalho e em 2019 houve uma passagem da gestão da quarta para a quinta geração da mesma. Embora o conselho de administração, familiar, seja não executivo, emana as orientações estratégicas para a gestão. Assim, com esta alteração foi feita uma grande reflexão estratégica sobre as diversas áreas de atividade que temos atualmente, bem como as áreas que têm potencial para crescimento da empresa e, entre outros, foi iniciado um novo ciclo, assente numa estratégia de desenvolvimento da área de vinhos. Após vários anos no mercado, a marca sentiu necessidade de afirmar a sua identidade para poder crescer em três pilares estratégicos: notoriedade, vendas e rentabilidade”, esclarece Pedro Lufinha.

“Porquê agora? Com restaurantes, bares, discotecas e garrafeiras fechados, idas ao supermercado limitadas para compras essenciais e operações de enoturismo e feiras internacionais canceladas, a Quinta da Alorna aproveitou a oportunidade para reinventar a forma como aborda o mercado, rejuvenescer a imagem da marca e, assim, conquistar novos consumidores. A alteração de imagem estava praticamente desenvolvida no início dos constrangimentos resultantes da pandemia em março de 2020, pelo que tivemos que adiar o lançamento da nova imagem para o final do ano. Apesar da reabertura dos mercados ter sido inferior ao que era esperado, optámos por lançar a nova imagem e reforço da gama de modo a estarmos melhor posicionados no momento de reabertura do canal Horeca. Vamos dando a conhecer a nova imagem, abordando os distribuidores, suas equipas de venda e de ‘marketing’, dando-lhes ferramentas para poderem adicionar os nossos vinhos em carta aquando da reabertura desse canal”, justifica o diretor geral da Quinta da Alorna.

A mudança de imagem será outro acelerador para o aumento das vendas da empresa: “pretendemos duplicar faturação em cinco anos e triplicar resultados no mesmo período” e, “para tal, necessitamos que a imagem reflita o crescimento de qualidade dos mesmos já ocorrida há vários anos”.

“A assinatura que escolhemos para o relançamento da marca foi ‘Quinta da Alorna. Tanto por descobrir’. Com esta mensagem, pretendemos atingir dois grandes objetivos: a descoberta das diversas gamas de vinho que temos no nosso portefólio e que são desconhecidas do grande público, nomeadamente os vinhos de maior valor acrescentado; a diversidade de atividades que compõem o nosso negócio, nesta propriedade tão vasta. A qualidade dos nossos vinhos é cada vez maior e essa diferença sente-se de ano para ano: a seleção das melhores castas e o recurso às mais inovadoras tecnologias de vinificação fazem com que a Quinta da Alorna seja reconhecida pela qualidade e excelência dos vinhos que produz. Para além do reconhecimento nacional e internacional, essencial para o sucesso da Quinta da Alorna, pretendemos ser marca líder de mercado e ser a preferência dos consumidores. Não pretendemos implementar apenas algumas melhorias, a nossa ambição é saltar para um novo patamar. Para tal, teremos que acompanhar o crescimento de vendas com investimentos, nomeadamente em vinha mas, sobretudo, em marca. Esta nova imagem e comunicação pretende conseguir criar proximidade, interesse e expectativa no consumidor de modo a estar desperto e disponível para nos acompanhar nestes lançamentos, provar e recomendar os nossos vinhos aos seus amigos, criando uma dinâmica de recomendação e passa palavra em relação aos nossos produtos. A Quinta da Alorna tem muito mais do que um novo logótipo ou um novo rótulo: estamos a passar por um profundo processo de renovação que inclui reforço da equipa, novo ‘site’, novo filme institucional, uma forte estratégia digital integrada com foco numa nova abordagem nas redes sociais e contacto com o consumidor, e novos materiais de ponto de venda.  Por outro lado, o crescimento da Quinta da Alorna passa também pela exploração de novos negócios, nomeadamente reforço das vendas a cadeias de distribuição no estrangeiro: moderna, grossistas, ‘online’ e garrafeiras. A própria loja da Quinta da Alorna irá sofrer uma transformação no sentido em que será feito um grande investimento no canal ‘online’”, revela Pedro Lufinha.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.