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Racismo no desporto: O planeta dos macacos

Esporádicos, isolados, pontuais. É assim que normalmente são descritos os episódios de racismo no desporto, que existem há décadas, são uma constante em alguns recintos e nada indica que venham a desaparecer. Pedro Almeida, investigador e autor da tese ‘Futebol, raça e Nação’ prefere a realidade aos eufemismos: existe racismo no futebol porque a sociedade portuguesa é, no seu coletivo, profundamente racista. Outra coisa seria difícil de suceder num país que tem o mais longo histórico de colonialismo do mundo.
22 Fevereiro 2020, 09h00

Um grupo de respeitáveis pais de família vimaranenses decidiu este domingo juntar-se à claque organizada da equipa do Vitória de Guimarães – que milita na primeira divisão do campeonato de futebol e jogava na altura com o F. C. Porto – para demonstrar o seu pouco apreço por um membro da equipa adversária, Moussa Marega, atirando-lhe com cadeiras prontamente arrancadas do seu sossego de plástico e imitando, com assinalável perfeição darwinista, o grito dos macacos. O jovem, um negro oriundo do Mali, tomou-se de fúrias e abandonou o jogo, ganhando um inesperado protagonismo que com certeza não procurava e estragando o final da tarde às figuras gradas da Nação, Presidente da República e primeiro-ministro incluídos.

Paralelamente, os portugueses emaranharam-se no debate sobre as razões da ocorrência deste colorido episódio, tentando discernir sobre o que está por trás dele e avaliando até que ponto tudo isto pode ser sintoma de enfermidade social ou, ao contrário, não passar daquilo a que alguns chamam ‘paixão pelo futebol’ e que aparentemente desculpabiliza todos os dislates, dos mais indefensáveis aos ainda mais indefensáveis. O debate é daqueles que com certeza teve um princípio, já passou por um meio, mas nunca terá um fim, até porque, ao contrário do que alguns meios envolvidos, desde logo os clubes de futebol, gostam de fazer crer, o assunto é velho e o episódio em referência está muito longe de ser inesperado, fortuito ou pontual.

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