A economia da zona euro pode sofrer uma recessão de entre 5% e 12% este ano devido às medidas implementadas no bloco da moeda única e à volta do mundo para conter o surto da Covid-19, alertou esta quinta-feira Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE).
“A zona euro está a enfrentar uma contração económica de magnitude e velocidade sem precedentes em tempos de paz”, disse a francesa, em conferência de imprensa após a reunião do Conselho de Governadores do BCE.
Lagarde recordou que as medidas para conter a disseminação do coronavírus (COVID-19) interromperam a atividade económica em todos os países da zona euro e em todo o mundo. Os indicadores de inquéritos sobre o sentimento dos consumidores e das empresas caíram, sugerindo uma forte contração no crescimento econômico e uma profunda deterioração nas condições do mercado de trabalho, adiantou.
“Dada a alta incerteza em torno da extensão final das consequências económicas, os cenários de crescimento produzidos pelo staff do BCE sugerem que o PIB da área do euro poderá cair entre 5% e 12% este ano, dependendo crucialmente da duração das medidas de contenção e do sucesso das políticas para mitigar as consequências económicas para empresas e trabalhadores”, sublinhou.
A presidente do BCE explicou que a pandemia do coronavírus e as medidas de contenção associadas afetaram severamente os setores de manufatura e serviços, afetando a capacidade produtiva da economia da zona euro e a procura interna. Recordou que dados divulgados pelo Eurostat esta manhã mostraram que no primeiro trimestre de 2020, que foi parcialmente afetado pela disseminação do coronavírus, o PIB real da zona euro diminuiu 3,8%, face ao anterior, refletindo o impacto das medidas de contenção das últimas semanas do trimestre.
“A forte desaceleração da atividade económica em abril sugere que o impacto provavelmente será ainda mais severo no segundo trimestre”, avisou Lagarde, sublinhando que no cenário mais adverso, o BCE vê uma recessão de 15% entre abril e junnho.
Flexibilidade é a chave
O BCE nas últimas semanas lançou vários estímulos monetários para responder aos impactos económico e financeiros da pandemia da Covid-19. A 18 de março anunciou o Pandemic Emergency Purchase Programme (PEPP), que consistes principalmente da compra de ativos no valor de 750 mil milhões de euros, e que veio complementar o programa que já existia, o APP, de 20 mil milhões de euros por mês, ao qual também já tinha sido adicionado (a 12 de março) um total de 120 mil milhões de euros em compras até ao final do ano.
Entretanto, o banco central flexibilizou o programa, removendo o limite de compras por país e por tipo de ativo, incluindo dívida de high yield, por exemplo. Além disso, o BCE lançou várias medidas para ajudar os bancos da zona euro, de forma que a liquidez gerado pela política acomodatícia seja transmitida para a economia real.
Alguns analistas têm referido a possibilidade de o BCE poderá vir a precisar de aumentar o valor do PEPP, devido à demora de uma resposta orçamental a nível comunitário, e para evitar o alargamento do spread entre as taxas das dívidas soberanas da zona euro, com as da periferia eventualmente penalizadas por cortes nas notações.
Lagarde disse que essa questão não foi discutida na reunião do Conselho de Governadores, mas sublinhou que o BCE está mais determinado que nunca para reforças o compromisso para assegurar condições financeiras que apoiem todos os setores e países para poderem absorver este choque simmétrico e sem precendentes.
A presidente do BCE usou por várias vezes a palavra flexibilidade. “Com isto em mente, vamos vamos uso completo da flexibilidade que está inscrita no PEPP e outros componentes do nosso conjunto de políticas para assegurara que a política monetária chegue a todos os setores e países da mesma forma”.
Lagarde salientou que este programa é diferente de todos os outros programas, por ser direcionado, temporário e flexível. “Recordo que o tempo de vida do PEPP irá ser determinado pelo Conselho de Governadores. O programa não vai acabar antes do final do ano, mas dependendo na duração da crise, poderá ser prolongado para além de 2020”, frisou.
[Atualizada às 15h45]
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