A Polícia Judiciária (PJ) desmantelou uma organização criminosa transnacional de branqueamento de capitais e de evasão fiscal, que tem como epicentro a zona de armazéns da Varziela, em Vila do Conde, mais conhecida como “Chinatown”. A Operação “Cash-a-lot” levou a sete detenções, entre as quais um empresário de origem chinesa, suspeito de ser o arquiteto da organização criminosa que em apenas 24 meses fez depósitos em numerário no montante superior a 141 milhões de euros e movimentou 209 milhões de euros através de uma “conta veículo”. Valores que a PJ suspeita serem apenas a ponta do iceberg de uma rede milionária com dezenas de contas bancárias de cidadãos nacionais (chamadas de contas mula), usadas para a lavagem de dinheiro.
O Jornal Económico (JE) sabe junto de fonte próxima à investigação que entre as 45 pessoas singulares e coletivas que foram constituídas arguidas, a esmagadora maioria são pessoas de etnia cigana que, a troco de comissões, eram utilizadas como money mules. Ou seja, carregadores de dinheiro para ajudarem a organização criminosa a permanecer indetetável e anónima e a movi mentarem grandes somas de dinheiro, que, na investigação “Cash-a-lot”, não são justificáveis pela mera atividade comercial.
Na mira da justiça estão sus peitas dos crimes de associação criminosa, branqueamento, fraude fiscal e falsificação de documentos, praticados pela rede milionária controlada por cidadãos nacionais e estrangeiros. “A Polícia Judiciária, através da Diretoria do Norte, realizou uma operação policial para dar cumprimento de 67 mandados de busca, pela presumível prática dos crimes de associação criminosa, branqueamento, fraude fiscal e falsificação de documentos, praticados por uma organização de carácter transnacional, controlada por cidadãos nacionais e estrangeiros”, avançou a PJ. Na sequência das buscas realizadas nos municípios de Espinho, Paredes, Póvoa de Varzim, Porto, Valongo, Vila do Conde, Vila Franca de Xira e Vila Nova de Gaia, foram constituídos argui dos 45 pessoas singulares e coletivas e detidos sete suspeitos.
Segundo a PJ, “a organização em causa utilizava o sistema bancário nacional para sustentar o processo de branqueamento, pro cedimento alicerçado na criação sucessiva de sociedades e contas bancárias tituladas pelas mesmas, por onde fluem as vantagens na sua maioria provenientes da prática do Trade Based Money Laundering (processo para disfarçar lucros de atividades ilícitas como se fossem fundos legítimos, utilizando transações de comércio internacional para ocultar a origem do dinheiro)”.
Os montantes provenientes de origem criminosa, depositados continuamente nas contas bancárias criadas para o efeito, eram depois transferidos para contas correspondentes domiciliadas em países europeus terceiros.
Em causa estão valores “astronómicos”, segundo a investigação, face aos montantes agora detetados na conta veículo do empresário de origem chinesa, suspeito de ser o arquiteto da organização criminosa, detido nesta quarta–feira, 10 de dezembro. “No espaço de 24 meses, a investigação apurou a existência de depósitos em numerário no montante superior a 141 milhões de euros, num total movimentado, através da “conta veículo” de 209 milhões de euros”, revelou a PJ.
Estes montantes podem, assim, ser apenas a ponta do iceberg, face aos valores apurados apenas numa conta do empresário chinês e no espaço temporal de dois anos, podendo ser muito maiores se a investigação alargar este período e detetar ainda outras contas do principal suspeito deste esquema.
Imóveis e carros de luxo apreendidos
A PJ dá conta de que, no decurso da operação policial, foram apreendidas/alvo de arresto, em cumprimento de ordem judicial, através do Gabinete de Recuperação de Ativos na PJ/Norte, seis imóveis urbanos, nove viaturas de gama alta, 74 contas bancárias controladas pelos suspeitos em território nacional e saldos de contas bancárias domiciliadas em 11 países europeus, num total de 67 contas bancárias.
Foram ainda apreendidos cerca de 300 mil euros em numerário, documentação diversa relativa à prática dos factos, material informático, cartões bancários e de telecomunicações, documentação falsa e armas de fogo.
A operação policial envolveu cerca de 170 elementos da Diretoria do Norte da PJ e ainda elementos das unidades de Braga e de Vila Real, contando também com a colaboração de elementos da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica.
As diligências foram acompanhadas por duas magistradas do Ministério Público do DIAP Regional do Porto. Os detidos foram nesta quarta-feira presentes à competente autoridade judiciária no Tribunal de Instrução Criminal do Porto, para primeiro interrogatório judicial e aplicação das medidas de coação. O inquérito é titulado pelo DIAP Regional do Porto.
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