Em 2016, o mercado de capital de risco europeu investiu cerca de 6,5 mil milhões de euros, enquanto nos EUA esta modalidade de financiamento atingiu os 39,4 mil milhões. Acresce que os fundos de capital de risco têm montantes pouco expressivos na UE, 56 milhões de euros em média, por comparação com os 156 milhões nos EUA. Não é, por isso, de estranhar que muitos projetos europeus migrem para outros ecossistemas. Tanto assim que, em 2017, a UE registou 26 unicórnios contra 109 americanos.
Os números são da Comissão Europeia que, para mitigar este flagrante gap entre os dois lados do Atlântico, lançou recentemente o VentureEU. Trata-se de um fundo pan-europeu de capital de risco para incentivar o investimento em empresas inovadoras em fase de arranque ou de expansão. Fundo, esse, que deverá mobilizar 2,1 mil milhões de euros de investimentos públicos (410 milhões da própria UE) e privados.
O VentureEU vem ao encontro da principal debilidade do ecossistema europeu: a dimensão do mercado de capital de risco. As empresas de capital intensivo europeias que desejam escalar os seus negócios têm muitas vezes de procurar financiamento nos EUA, justamente porque o mercado de capital de risco na UE (fundos públicos e privados) não demonstra capacidade de alavancagem deste tipo de projetos. Esta situação verifica-se, sobretudo, nas fases de expansão (later stage) das empresas.
O problema do mercado de capital de risco europeu não deve, contudo, ser imputado ao setor privado, pois sabemos que há projetos que, pelo seu elevado risco, dificilmente são alavancados por investidores. A grande diferença entre a UE e os EUA nesta matéria reside nos fundos públicos, que na liberal América se revelam bem mais generosos. O apoio público ao empreendedorismo e à inovação na UE ainda depende muito das diferentes políticas nacionais, não havendo, como devia, um envelope financeiro considerável ao nível comunitário.
Acresce que o mercado único digital europeu tarda em consolidar-se e em produzir os efeitos esperados. Ora, nos EUA, as empresas tecnológicas têm à partida acesso a um grande mercado interno. Pelo contrário, na UE, os empreendedores tech ainda são forçados a lidar com os diferentes regimes regulatórios dos 28 Estados-membros. Importa, pois, agilizar o mercado único digital, de forma a potenciar o talento, conhecimento, especialização e proximidade à indústria tradicional do setor tecnológico europeu.
Mas o gap empreendedor entre a UE e os EUA dificilmente diminuirá sem uma mudança de paradigma no ensino europeu, de molde a incutir nas novas gerações uma cultura empreendedora. Desenvolver este mindset, assim como as competências digitais dos jovens, parece-me fundamental para preparar a sociedade europeia para a revolução tecnológica em curso, a qual exige mais iniciativa, mais criatividade, mais versatilidade e mais mobilidade.