O sector português da logística vai ter de se transformar para se adaptar à forma como o negócio se vai desenvolver, mas também para aproveitar as oportunidades que se colocam. Para Fernando Mascarenhas, partner de Advisory da KPMG, o futuro passará sempre por maior investimento.
A logística portuguesa necessita de apoios para responder aos desafios que se colocam ao sector?
À semelhança de outros sectores, os desafios elencados [para o sector da logística] representam a necessidade de transformação significativa do modelo operativo e do modelo de relação tradicionais. Endereçar estes desafios implica refletir estrategicamente sobre as oportunidades e ameaças e definir o posicionamento mais adequado, perspetivado sobre um paradigma mais aberto, de plataforma e de cooptição, sendo um exercício que muitas empresas terão dificuldade em fazer internamente. Dessa reflexão resultarão, com certeza, requisitos que implicarão não só níveis de investimento importantes, mas também a capacitação em termos da gestão e da força de trabalho num novo paradigma de transformação digital.
No presente contexto, em que se prepara a operacionalização do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e o desenho do novo quadro financeiro plurianual europeu (PT2030), fará pleno sentido identificar e alavancar sobre o tipo de apoios previstos ao investimento, à capacitação humana e à transição digital e ambiental.
Quais são os principais estrangulamentos detetados no desenvolvimento do sector da logística, interna e externamente?
A este nível, importa tomar como ponto de partida as características do tecido logístico nacional, fortemente atomizado, em particular no que respeita ao subsector de transporte rodoviário. Tal introduz desafios a vários níveis, mas destacava apenas dois: se, por um lado, a dimensão aporta agilidade e flexibilidade, por outro, limita a capacidade para operar transformações estruturais e investimentos avultados, principalmente num contexto em que as margens operacionais são reduzidas e a crise erodiu o balanço de muitas empresas; [depois], a menor dimensão cria também desafios em termos do grau de maturidade tecnológica e de gestão, fundamentais para interiorizar as vantagens da digitalização e das oportunidades para participação em economias de plataforma.
O que pode a logística portuguesa aproveitar de um eventual movimento de reestruturação das cadeias de abastecimento, na sequência das debilidades identificadas durante a crise pandémica?
A restruturação das cadeias logísticas no sentido de um encurtamento das mesmas, suportado em sourcing mais regional/local, é uma oportunidade para as empresas produtoras portuguesas, cuja concretização exige uma resposta ajustada da logística nacional. Tal implica potenciar ligações rápidas, consistentes, eficientes na ótica dos custos, com os elos correspondentes nas cadeias de valor, permitindo que os produtos portugueses possam ser alternativas competitivas às de fornecedores situados noutras geografias. Representa, assim, uma oportunidade adicional para a logística nacional, em incremento de volume e extensão da rede de alcance. Esta resposta implica, também, repensar modos de transporte, e, em particular, a ferrovia e o transporte marítimo com os mercados alvo, exigindo, como tal, forte coordenação com os investimentos previstos em matéria de infraestruturas de transporte.
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