Pelo seu efeito multiplicador, a indústria é historicamente o principal motor de desenvolvimento económico dos países. Neste sentido, é com preocupação que assistimos ao processo de desindustrialização das economias mais desenvolvidas, tendência a que Portugal não escapou. À semelhança do que acontece no resto da Europa, a indústria portuguesa tem um peso no PIB inferior a 20%, quando nas décadas de 1970 e 1980 andava perto dos 30%.

A partir da década de 1990, acentuou-se a terciarização da economia nacional e houve uma redução contínua do contributo da indústria para o PIB, que estabilizou um pouco acima dos 10%. Isto apesar do aprofundamento da orientação exportadora da indústria portuguesa, da maior incorporação tecnológica e do crescimento do valor acrescentado. De resto, a indústria continua a ser o setor que mais valor cria para o país.

A globalização promoveu a deslocalização das cadeias de produção da indústria ocidental para países com menores custos do fator trabalho, como a China ou a Índia. Mas, no caso português, foi também determinante um contexto económico que, a partir da década de 1990, passou a favorecer as atividades de produção de bens não transacionáveis. Por outro lado, fomos penalizados pelo facto de a nossa base industrial estar muito centrada em setores especialmente expostos à concorrência global, como o têxtil, por exemplo.

Dito isto, parece-me existir também um problema geracional a constranger o desenvolvimento da indústria portuguesa. O setor é ainda pouco atrativo para os jovens, que preferem investir nos serviços e no imobiliário por serem menos intensivos em capital, recursos humanos e tecnologia e por proporcionarem retorno económico mais rapidamente. Seria bom que mais jovens prosseguissem o grande legado deixado pelos chamados “capitães da indústria”, como os recentemente falecidos Américo Amorim e Belmiro de Azevedo, entre muitos outros da sua geração.

Interessa, pois, criar em Portugal um contexto económico que promova a emergência de projetos industriais liderados por jovens. Para isso, há que saber aplicar o conhecimento tecnológico e científico que o país hoje produz no desenvolvimento de novos produtos, preferencialmente em setores baseados em fatores de competitividade mais avançados, como as utilities, as energias, a eletrónica, a maquinaria, a metalomecânica, entre outros. Importa também estabelecer parcerias entre empresas de média/alta tecnologia e empresas dos setores tradicionais, de forma a potenciar a nossa longa experiência na manufatura.

O país deve estabelecer como meta de médio prazo um peso da indústria no PIB de 20%, acompanhando o evoluir favorável das exportações. Mas tal só se afigura possível com um maior envolvimento das novas e mais qualificadas gerações na indústria, quer como empresários, quer como quadros especializados. O talento é fundamental para a reindustrialização do país.