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Reitora da Católica aponta dedo ao estatismo e critica condicionamento de vagas no mestrado de Medicina

Fernando Alexandre, ministro da Educação, Ciência e Inovação, ouviu Isabel Capeloa Gil, admitindo: “O nosso sistema de educação superior é todo ele excessivamente regulamentado, limitando a capacidade de realização das ambições. Na cerimónia Ilídio Pinho e Vasco de Mello foram feitos doutores Honoris Causa.
10 Fevereiro 2025, 07h00

No Dia Nacional da Universidade Católica Portuguesa, que se celebrou esta sexta-feira, a reitora, Isabel Capeloa Gil, apontou o dedo ao estatismo no Ensino Superior e criticou o “condicionamento injustificado do número de admissões ao mestrado integrado de Medicina da UCP”.

“Acreditámos sempre que um sistema de ensino forte exige diversidade, espaço para a diferença, o que nem sempre é compreendido face ao sufocante estatismo de que o país sofre há séculos e isso leva a incompreensões como o facto de num país com uma crise evidente do sistema de saúde se continuar a fazer condicionamento injustificado no número de admissões no Mestrado integrado de medicina da UCP”, afirmou.

O curso de Medicina de “excelência” foi, salientou, criado a “custo zero” para o país, apenas a expensas das famílias, e anualmente dá mais de 5 milhões de euros em bolsas de méritos e sociais e tem um programa de apoio estratégico a estudantes refugiados e carenciados, o fundo Papa Francisco.

A reta final da intervenção de Isabel Capeloa Gil, subordinada ao tema “O Saber Como Esperança”, foi dedicada à Universidade Católica Portuguesa. Lembrou  a sua criação em 1967 – “Não estamos feitos para criar consenso” – salientou o seu contributo para a capacitação do país  nas suas quatro localizações: Lisboa, Porto, Braga e Viseu – “Servimos Portugal no ensino e na ciência que produzimos, no serviço à sociedade” e terminou citando o padre António Vieira: “Se servistes a pátria, que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, ela o que costuma”.

Um convidado escutava com particular atenção: Fernando Alexandre, ministro da Educação, Ciência e Inovação, que horas antes viu aprovada, em Conselho de Ministros, a reforma do RJIES – Regimento Jurídico das Instituições de Ensino Superior. Ao usar da palavra, muitos mais tarde, respondeu, no sentido apontado pela reitora. Primeiro admitiu: “O nosso sistema de educação superior é todo ele excessivamente regulamentado, limitando a capacidade de realização das ambições, e há muita ambição nos nossos cientistas, nos nossos dirigentes, e que fica muitas vezes aquém, precisamente por não termos o enquadramento institucional que precisamos”. Depois, salientou que a reforma “vai reforçar a autonomia das instituições”.

A Universidade Católica Portuguesa distinguiu este ano uma dupla de empresários com o doutoramento Honoris Causa: Ilídio Pinho e Vasco de Mello. Foi um momento alto da cerimónia que levou ao Auditório Cardeal Medeiros autoridades civis, religiosas e académicas.

Ao usar da palavra, após a imposição das insígnias e recebimento da carta doutoral, Vasco de Mello, presidente dos Conselhos de Administração da Brisa e da José de Mello Capital, holding que controla o Grupo José de Mello, bisneto do fundador do grupo CUF, garantiu o compromisso do legado com o país. “Queremos continuar a ser uma família com vocação empresarial por (pelo menos) mais 120 anos”. Uma família empresarial que, salientou, “deve seguir os exemplos dos antepassados ao nível do empreendedorismo, da determinação e do rigor, sem nunca esquecermos que o nosso sucesso resulta em grande parte da dedicação e profissionalismo de todos os que trabalham conosco”. 

Miguel Athayde Marques, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, que, na qualidade de padrinho, faz o elogio de Vasco de Mello, evocou o passado para explicar o presente, destacando a cultura empresarial responsável, a transparência, a ética e a preocupação com a cidadania. “Alfredo da Silva e os seus sucessores imprimiram uma cultura empresarial muito própria que atualmente ainda perdura no Grupo José de Mello, caracterizada por três grandes linhas de força: empreendedorismo, liderança  e compromisso”. 

João Pinto, diretor da Católica Porto Business School, na qualidade de padrinho fez o elogio de Ilídio Pinho, de 86 anos, fundador da COLEP Portugal – Embalagens, Produtos, Enchimentos e Equipamentos, da Ilídio Pinho Holding, da Fomentinvest  e da Fundação Ilídio Pinho, que se destaca por iniciativas como a “Ciência na Escola” e pelo apoio à cultura e arte. “Hoje reunimo-nos não apenas para celebrar um homem, mas um legado que se constrói através de décadas de visão, de dedicação e de serviço à sociedade (…) O engenheiro Ilídio Pinho é uma figura que transcende o sucesso empresarial  – é o exemplo de como a liderança quando aliada a valores humanistas pode transformar vidas e comunidades. Mais é um patriota, um verdadeiro ativo de Portugal e da Portugalidade”, disse.

Ilídio Pinho, por seu turno, explicou que se tornou um empresário global quando começou a receber propostas de cooperação por parte de empresas multinacionais que receavam investir no nosso país. “Portugal  no 25 de Abril e no período do PREC (Processo Revolucionário em Curso) passou a ser considerado um país de alto risco e muitas multinacionais proibiram as suas delegações de investir em Portugal. A solução foi encontrar na minha empresa, a COLEP, o parceiro estratégico para assumir os seus investimentos e lhes fornecer os seus produtos com alta e confidencial tecnologia para não perder mercado. Aceitei assumir riscos, transformando a COLEP numa empresa multiserviços, contornando a cadeia de valor em parceria com multinacionais possuidoras de tecnologia nossa desconhecida”.

O empresário considerou depois que este exemplo na forma de contornar a cadeia de valor poderia ser aplicado estrategicamente à economia portuguesa, afirmando categórico: “As ideias inovadoras não devem nem podem morrer”. E há lições que podem ser aprendidas. “Com o mundo em convulsão e a Europa em crise, tenho mesmo esperança, mas tenho mesmo, mais do que nunca em Portugal. A nossa geografia e a nossa história permitem-me dizer que o futuro está aqui.”

Na cerimónia foi também feita a imposição das insígnias e entrega das cartas doutorais aos novos doutores da Universidade Católica. Helena Carmo fez história ao tornar-se a primeira pessoa surda a obter um doutoramento na UCP, um marco significativo para a inclusão académica e o reconhecimento da Língua Gestual como objeto de estudo científico de elevado valor. Foram ainda entregues as medalhas de prata e ouro aos colaboradores da Universidade que completaram 25 e 40 anos de serviço.

A cerimónia, subordinada ao tema “O saber como Esperança”, foi aberta pelo o magno chanceler da UCP e patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, que deixou uma mensagem: “A esperança nunca pode realizar-se de forma isolada, mas é sempre um compromisso amplo com todos e aqui poderíamos dizer realmente católica”.

Por seu turno, D. José Tolentino de Mendonça, Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé), enviou uma mensagem em que evoca a evocou a necessidade de “uma educação para a esperança”.

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