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Relações entre Portugal e França mais fortes após pandemia

Troféus Luso-Franceses voltaram a ser atribuídos numa gala presencial, num quadro de reforço das relações de investimento e comerciais entre Portugal e França.
7 Novembro 2021, 11h00

A 27ª edição dos Troféus Luso-Franceses, uma iniciativa promovida pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa, que decorreu nos últimos meses, constituiu uma prova da resiliência das relações económicas entre Portugal e França, depois do período de exceção provocado pela pandemia de Covid-19. O regresso dos Troféus, depois de um ano de interregno, ficou marcado por um recorde de candidaturas, tendo sido recebidas 55 propostas, de onde foram selecionadas as 16 empresas candidatas aos seis galardões em disputa.

Na gala de atribuição dos prémios, que decorreu presencialmente, depois de não se ter realizado no ano passado, foi referido o papel que França tem como investidor em Portugal e como parceiro comercial. O total do investimento direto estrangeiro (IDE) francês em Portugal ultrapassou os 12,8 mil milhões de euros, no final do primeiro semestre deste ano. No final do ano passado, representava 7,9% do total de IDE captado por Portugal e posicionava a França no Top 5 dos investidores estrangeiros.

Paralelamente, numa demonstração do crescendo de importância, França subiu, em 2014, à segunda posição no ranking dos principais clientes de bens portugueses, lugar que manteve nos últimos cinco anos. Com um excedente comercial da ordem de 1,5 mil milhões de euros favorável a Portugal, o mercado francês é estruturante para as empresas portuguesas.
“É o segundo maior cliente de Portugal e no IDE a presença é muito transversal”, afirmou o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, durante a gala de atribuição dos Troféus Luso-Franceses, para sublinhar que, além do volume, esta relação tem também uma vertente estratégica, que tem implicações mais profundas para o desenvolvimento.

“O significado do investimento não é apenas números”, sublinhou.
Na sua intervenção, o governante destacou a transversalidade do investimento direto francês, dando como exemplo o sector da aeronáutica, onde Portugal quer criar um cluster relevante e onde pontuam a Lauak e o universo Airbus. Realçou que “o alinhamento do investimento industrial francês em Portugal é único”, ao mesmo tempo que se estreita a relação entre Portugal e França com milhares de pequenas e médias empresas portuguesas que fazem da França a primeira escolha. “E essa é uma dimensão de qualidade com spillovers muito positivos”, afirmou.
“Os empresários franceses são bem-vindos a Portugal e são parte do nosso desenvolvimento”, concluiu. Em termos gerais, são cerca de 750 empresas com capital francês que operam em Portugal e que empregam mais de 60 mil trabalhadores

Relação bilateral especial
Os números da relação comercial entre os dois países foram realçados pelo conselheiro económico da embaixada de França em Portugal, Ronan Venetz, o qual afirmou que 2020 foi um ano de reforço da França como parceiro comercial de Portugal. Frisou que, no ano passado, França foi o país que mais reforçou o investimento em Portugal e apontou a crescente dinâmica da relação franco portuguesa, que será relevante no próximo semestre, altura em que a França assumirá a presidência da União Europeia.
A mesma tónica foi realçada pelo embaixador português em Paris, Jorge Torres Pereira. “A relação bilateral é especial e a relação política consolidou-se com visões muito parecidas da Europa. Temos a mesma perspetiva de inclusão, da transição verde e do desenvolvimento digital”, afirmou.
O diplomata realçou a ligação da comunidade luso descendente e a decisão da classe média francesa, que, diz, tem Portugal como primeiro destino. Em 2020, “a França foi – pela primeira vez – o país que gastou mais dinheiro em Portugal em termos de turismo. Por outro lado, Torres Pereira salientou “a adaptação e resiliência das empresas francesas em Portugal, com a recuperação de alguns sectores de forma mais rápida do que pensávamos”.

“Os números estão todos em alta”, disse. “O futuro das relações no domínio económico avizinha-se ótimo”, garantiu.
Finalizou apontando um fenómeno ligado às redes de empresas com uma Câmara de Comércio Franco Portuguesa, sedeada em Paris, através da qual se começou um processo de consolidação com as várias associações empresariais que trabalham em várias cidades francesas a tornaram-se afiliadas da câmara de comércio na capital francesa. O futuro passará por uma Federação dessas câmaras de comércio e indústria, vaticinou.

Troféus regressaram ao palco, com público
Eurico Brilhante Dias, Jorge Torres Pereira e o chefe do Serviço Económico da Embaixada de França em Portugal, Ronan Venetz, foram os principais intervenientes na gala de entrega dos Troféus Luso-Franceses 2021, onde as empresas, claro, tiveram o maior destaque
Os troféus Luso-Franceses 2021 foram entregues à La Redoute, Faurecia, Monsurgel, Ciclo Fapril Indústrias Metalúrgicas, Natixis, BlueCerts e Joyeux Portugal.
O Troféu Inovação foi entregue à Ciclo Fapril Indústrias Metalúrgicas, empresa dedicada ao fabrico de componentes soldados metálicos, baseados em estampagem e quinagem de chapa, corte e dobragem de tubo e arame e tornearia/mecanização. A sua candidatura teve por base um projeto concluído em 2020, para elevadores destinados a torres grua com sistemas de estrutura tudo em um, designado ALL IN ONE, e que foi desenvolvido com o objetivo de tornar mais leve e fluído o processo de transporte, stockagem e instalação dos elevadores em torres grua.

O Troféu Desenvolvimento Sustentável foi entregue à Natixis em Portugal. Para a empresa francesa, as temáticas ligadas ao desenvolvimento sustentável assumem um papel central e, nesse sentido, foi definido um eixo Green, focado não só em temas ambientais, como também em métodos e estratégias sustentáveis no âmbito das Tecnologias de Informação.
O Troféu Investimento foi entregue à La Redoute. Sediados em Leiria, trabalham mais de 200 colaboradores nas mais diversas áreas, repartidas por um polo com a equipa comercial e outro com as equipas de Finance e IT, que prestam um serviço à escala internacional. Sendo a única filial do grupo com logística própria, a La Redoute inaugurou duas lojas no último ano, em Lisboa e no Porto.
A empresa Monsurgel que recebeu o Troféu PME, especializou-se no comércio de castanha congelada e exporta 100% dos seus produtos para mercados como França, Itália e Hungria.

A Faurecia foi a vencedora do Troféu Exportação. A empresa francesa do setor automóvel que desenvolve, produz e fornece componentes para os principais fabricantes automóveis. Em Portugal desde 1988 tem, atualmente, cerca de 4 mil colaboradores, repartidos pelas suas sete instalações.
O Troféu Startup foi recebido pela Bluecerts, uma startup francesa, com escritórios no Porto e que é um fornecedor de serviços de confiança, uma das três principais empresas de confiança digital da Europa. Assente em tecnologias para proteger os dados e identificação digital com uma solução PKI altamente escalável para ajudar as organizações a realizar transações desmaterializadas com segurança.

O júri constituído por representantes das principais entidades portuguesas e francesas como IAPMEI, AICEP, Conselheiros do Comércio Exterior e empresários, distinguiu a Joyeux Portugal com o Troféu do Júri.
Trata-se de uma marca francesa de cafés-restaurante solidários e inclusivos, Café Joyeux, que emprega pessoas com dificuldades intelectuais e de desenvolvimento, como a trissomia ou o autismo (ver entrevista neste Especial). Tem por missão tornar a diferença visível, potenciar o encontro e propor mais emprego a pessoas que estão afastadas do meio laboral. A totalidade dos lucros resultantes do volume de negócio dos cafés-restaurantes contribuem para o desenvolvimento e abertura de novos locais. A marca vai abrir o primeiro Café Joyeux em Lisboa durante o mês de novembro e no primeiro trimestre de 2022 em Cascais.

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