[weglot_switcher]

45% dos trabalhadores jovens dizem não ser possível relatar irregularidades sem receio de represálias

Estudo da consultora EY, que analisa comportamentos de integridade empresarial em Portugal, conclui que 90% dos trabalhadores consideram que os efeitos da Covid-19 poderão aumentar os riscos de comportamentos antiéticos. Jovens trabalhadores e gestores de topo têm diferentes perceções sobre ética comportamental.
20 Maio 2021, 08h00

Quase metade dos trabalhadores juniores consideram que não é possível denunciar dentro de uma empresa irregularidades sem o receio de sofrer represálias. Esta é uma das principais conclusões do Relatório de Integridade EY 2021, que incide sobre a ética e integridade na conduta empresarial.

O relatório da EY aponta que a pandemia da Covid-19 veio acentuar os desafios à integridade e à conduta ética empresarial. Desde logo, com os trabalhadores mais jovens a manifestar insegurança quanto a denúncias internas sobre irregularidades. Não obstante, a EY refere que 100% dos membros de conselhos de administração acreditam que “as denúncias de condutas antiéticas não comportam quaisquer consequências negativas”.

Fica claro que os trabalhadores mais jovens e os gestores de topo têm leituras diferentes quanto à denúncia de irregularidades que coloquem em causa a ética e integridade empresarial. Segundo a EY, há “uma disparidade quanto às perceções de ética comportamental nos diferentes níveis hierárquicos dentro das organizações”. Ainda assim, a consultora salienta que os trabalhadores juniores “confiam na integridade dos seus líderes”, enquanto “os membros de conselhos de administração confiam no cumprimento das regras de integridade nas suas organizações”.

Globalmente, 71% dos trabalhadores afirmam “não estar dispostos a agir de modo antiético para melhorar a sua progressão profissional ou o seu pacote remuneratório”. Contudo, a EY conclui que existe um “risco” dos comportamentos antiéticos agravarem-se, devido ao contexto pandémico.

Para Pedro Subtil, forensic & integrity services leader da EY Portugal, Angola e Moçambique, todas as organizações de todos os sectores enfrentam “desafios críticos para a sustentabilidade dos seus negócios e para a sua integridade”, evidenciados hoje pelo contexto pandémico. “A curto prazo, em Portugal, as organizações terão de alinhar-se com novos requisitos legais”, sublinha o gestor.

Por isso, a consultora recomenda que as empresas reforcem “os sistemas de gestão de compliance“, alinhando-os” com os requisitos regulatórios previstos, por exemplo, na recém-aprovada Estratégia Nacional Anticorrupção”. Acresce, para prevenir e detetar comportamentos irregulares, a recomendação de que as organizações “devem implementar mecanismos como o ‘Canal de Denúncia’, salvaguardando os denunciantes, em linha com a diretiva europeia de Whistleblowing“.

Ora, estas recomendações são reforçadas por 90% dos inquiridos para o Relatório Integridade EY 2021, que dizem “que é um desafio para as organizações manterem os seus padrões de integridade nas difíceis condições de mercado que atravessam”. De facto, apenas 23% dos trabalhadores dizem “estar muito confiantes na integridade de terceiros, como fornecedores e parceiros de negócios”.

Assim, a EY faz outra recomendação: “as organizações devem implementar sistemas de due diligence para avaliar a integridade de terceiros com quem se relacionam comercialmente, e os riscos que importam para a integridade da própria organização”.

Este apelo à criação de due diligence é reforçada por 41% dos inquiridos do estudo da EY, que consideram que “as organizações onde trabalham não dão formação aos trabalhadores sobre privacidade de dados e regulamentação aplicável”, como o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD). A consultora relembra, ainda, que a aceleração digital induzida pela Covid-19 “aumentou exponencialmente os ciberiscos, sendo essencial que as organizações protejam os seus dados de forma ética”.

A EY defende, assim, quatro “ações-chave críticas”, que as empresas devem adotar para salvaguardar a ética e integridade dos negócios. Tratam-se de passarem a avaliar conduta pessoal dos trabalhadores, através de mecanismos de compliance, criar canais específicos para reportar irregularidades de forma anónima, monitorizar a integridade de terceiros e proteger os dados da atividade.

O Relatório de Integridade EY 2021 analisa os comportamentos de integridade corporativa no mercado português, tendo por base um inquérito realizado pela consultora, durante o mês de março, a 103 colaboradores de diferentes posições hierárquicas – membros dos conselhos de administração, gestores e trabalhadores juniores). Os participantes responderam, de forma anónima, a questões sobre os desafios éticos enfrentados pelas suas organizações, no período que antecedeu a crise da Covid-19 e, também, no auge da pandemia.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.