Após requerimento do PSD, a jornalista Sandra Felgueiras e o presidente da RTP, Gonçalo Reis, bem como a diretora de informação Maria Flor Pedroso, foram ouvidos pela comissão de Cultura e Comunicação, na terça-feira à tarde, devido ao adiamento da emissão de um episódio do ‘Sexta às 9’, que veio expor irregularidades no processo de concessão da exploração de lítio em Montalegre, para depois das eleições legislativas . A coordenadora do programa, Sandra Felgueiras indicou que a RTP não quis emitir o programa incómodo para o Governo em época eleitoral. Já Maria Flor Pedroso rejeitou ceder a pressões ou aceitar interferências.
“Se me perguntam diretamente se era possível fazer o programa Sexta às 9 durante o mês de setembro, a minha resposta é ‘sim, era possível com o lítio'”, disse Sandra Felgueiras, no Parlamento, garantindo que “nunca em oito anos de coordenação” do programa teve “uma suspensão durante um ato eleitoral”.
A jornalista da estação pública referiu que na Direção de Informação da RTP comunica com Maria Flor Pedroso (diretora) e Cândida Pinto (diretora-adjunta), reportando semanalmente à diretora-adjunta “tudo” o que faz e o que tem “em linha de vista”.
“Eu comuniquei naturalmente à Cândida Pinto em julho que este [o lítio] seria o tema de andamento e de prossecução. Objetivamente, a reportagem que iria ser emitida dia 13 de setembro era a reportagem do lítio, era isto que estava previsto”, acrescentou.
Aos deputados, Sandra Felgueiras contou que o episódio que expôs irregularidades no processo de concessão da exploração de lítio em Montalegre não foi emitido no dia 13 de setembro, porque no dia 23 de agosto houve “uma reunião com Cândida Pinto e Maria Flor Pedroso” onde foi comunicado que o programa voltaria à grelha só em 11 de outubro.
“Foi-me dito que iria haver ajustes em função da campanha eleitoral. O que eu reparo e que vejo é que de facto os ajustes que houve foi apenas no dia 06 [de setembro]. No dia 13 não houve nada, no dia 28 houve um programa ‘Eu, cidadão’, curiosamente feito por Cândida Pinto, dia 26 não houve nenhum especial sobre Tancos apesar de o programa ‘Sexta às 9’ ter sido o amplo difusor de um caso que o Ministério Público acabou por confirmar em acusação pública”, detalhou a jornalista.
“Interferência? Seria coisa que eu jamais toleraria. Eu e a equipa que dirijo”
Depois de Sandra Felgueiras, os deputados ouviram a diretora de informação da RTP, Maria Flor Pedroso, que rejeitou a ideia de suspensão ou de qualquer interferência do Governo e justificou a alteração na programação da RTP com a programação eleitoral e, também, por não ter sido dito que havia notícia.
“A RTP não suspendeu programa nenhum durante a campanha eleitoral. Suspender, do meu ponto de vista, era uma de duas coisas: para já, tem uma carga negativa, a suspensão. Eu não tenciono acabar com nenhum dos programas, e não suspendi nenhum. Por outro lado, a possibilidade de avaliar se o programa continuaria ou não. Nada disso passou pela nossa cabeça”, garantiu a diretora de informação.
O deputado do PS José Magalhães quis “clarificar” se algum membro do Executivo teria tentado interferir, mas a diretora de informação da RTP rejeitou a ideia e disse que tal ideia seria “quase insultuosa”.
“Eu trabalho em jornalismo há 26 anos. Isto são as chamadas pressões. O jornalismo político é um jornalismo em que nós somos pressionados constantemente por fontes várias. Interferência? Seria coisa que eu jamais toleraria. Eu e a equipa que dirijo”, disse Maria Flor Pedroso.
“Nenhum de nós tem algum currículo que possa alguém pensar que nós seríamos permeáveis a alguma interferência de seja de que governo for. Eu já passei por vários primeiros-ministros, por vários presidentes da República – eu e a minha equipa -, portanto seria intolerável que tal acontecesse”, completou.
De acordo com a diretora de informação, “a interrupção do programa não teve que ver com nenhuma notícia que o programa estivesse a investigar”.
“Esta direção de informação não guarda notícias na gaveta. À direção de informação, à coordenação da RTP, não chegou a informação de que havia a notícia X e que estava pronta para ir para o ar […] Se houvesse notícia sobre o lítio, ela iria para o ar assim que ela estivesse pronta para ir para o ar, em tempo de campanha eleitoral ou não”, disse.
A prioridade foi em setembro foi a cobertura da campanha eleitoral das eleições legislativas “de uma forma plena e até, por vezes, exaustiva”, garantiu Maria Flor Pedrosos. Para isso, “foi preciso sacrificar alguns formatos”, como por exemplo os programas “Prós e Contras”, “Grande Entrevista”, “Tudo é Economia”, duas emissões de “Linha da Frente” e também o “Sexta às 9”.
“Porquê? Porque na nossa programação o Sexta às 9 ficaria apenas com uma emissão possível durante o mês de setembro, e isto foi comunicado no dia 23 de agosto” a Sandra Felgueiras, coordenadora do programa, numa reunião que contou também com a presença de Cândida Pinto (diretora-adjunta), responsável da direção pelo programa, salientou.
O presidente da RTP, Gonçalo Reis, foi igualmente ouvido pela comissão de Cultura e Comunicação, onde saiu em defesa da direção de informação da estação pública e da coordenação do programa “Sexta às 9”.
“Temos toda a confiança na direção de Informação, mas também na coordenação do ‘Sexta às 9’. Tal como a direção de informação nos tem dito, o programa é para continuar e com a Sandra Felgueiras”, assegurou Gonçalo Reis, em resposta aos deputados, no Parlamento.
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