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Resíduos podem criar 1.300 empregos e 32 milhões em Valor Acrescentado Bruto

Usar resíduos industriais como matéria-prima pode criar 1.300 novos empregos e gerar 32 milhões de euros em VAB, diz o estudo “Sinergias Circulares: Desafios para Portugal” do BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável.
6 Março 2018, 11h30

A conclusão é da associação BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável que acrescenta que atualmente 57% dos resíduos produzidos pelas 32 empresas participantes no estudo são eliminados em aterro devido a barreiras como: burocracia, barreiras legislativas, capacidade técnica/tecnológica e falta de informação.

Em 2015, em Portugal, foram eliminados 1,1 milhões de toneladas de resíduos não urbanos (fonte: Instituto Nacional de Estatística). Se estes resíduos fossem transacionados entre empresas, isto é, se em vez de serem eliminados fossem utilizados como matérias-primas, os impactos económicos anuais seriam os seguintes, segundo a BCSD: redução de consumos intermédios de 165 milhões de euros e contribuição com 32 milhões de euros em VAB (Valor Acrescentado Bruto).

O impacto social traduzir-se-ia na criação de 1.300 novos empregos e o impacto ambiental numa redução superior a 5 milhões de toneladas de extração doméstica (materiais extraídos em território nacional anualmente), diz a associação.

Estas são algumas das conclusões do estudo “Sinergias Circulares: Desafios para Portugal”, lançado hoje.

A BCSD explica que os quatro objetivos do estudo foram: mapear os tipos de resíduos, as quantidades e o concelho do país onde são produzidos; identificar sinergias entre empresas; avaliar o impacte ambiental, social e económico destas sinergias, e identificar um conjunto de ações no âmbito de políticas públicas de apoio à transição para a economia circular.

O estudo apresenta também entrevistas com Carlos Gomes da Silva, CEO da GALP, Pedro Soares dos Santos, Presidente do Conselho de Administração e Administrador-Delegado do Grupo Jerónimo Martins e Rui Teixeira, Administrador da EDP e casos de estudo de projetos de sinergias circulares já implementados da Ave, Celbi, Cimpor – Souselas, EDP, GALP, Jerónimo Martins, LIPOR e Secil.

No total, as 32 empresas participantes no estudo “Sinergias Circulares” produzem cerca de 8,3 milhões de toneladas de 267 resíduos diferentes.

Atualmente 57% dos resíduos produzidos por estas 32 empresas são eliminados e apenas 43% valorizados – uma parte dos resíduos eliminados poderia ser utilizada como matérias-primas noutras indústrias, evitando a extração de materiais virgens e a eliminação em aterro. Inverter esta situação implica analisar o potencial de transação de resíduos entre empresas, tipicamente associado a fatores como: o tipo específico de resíduo, a procura, a prática de incorporação em processos existentes e a necessidade de encontrar destinos mais adequados de tratamento e valorização, lê-se no comunicado.

“Com este estudo evidenciamos que existe um potencial económico e social associado às práticas de economia circular. Faz todo o sentido desenvolver todos os esforços políticos e empresariais para escalar esta potencialidade. É fundamental continuar a dinamizar o tema da economia circular em Portugal, fomentar o investimento nesta área e promover um diálogo constante entre a administração pública e as empresas de forma a conseguirmos, em conjunto, acelerar a identificação de soluções tecnológicas e de mercado que possam alavancar os projetos existentes e despoletar novos projetos”, afirma Sofia Santos, Secretária Geral do BCSD Portugal, na nota de imprensa.

A título de exemplo, o estudo identificou quatro resíduos que poderiam ser reutilizados como matérias-primas: os resíduos biodegradáveis podem ser usados na produção de fertilizante para jardins e agricultura; as cinzas têm destino nos setores da construção, cimenteira, asfalto ou agricultura reduzindo a extração de matéria-prima virgem; as lamas podem ser utilizadas na indústria de papel ou em fertilizantes de solos; e os solventes podem ser escoados para a produção de tintas ou de combustíveis alternativos.

“Sinergias Circulares” é um projeto desenvolvido pelo Grupo de Trabalho Economia Circular e Simbioses Industriais do BCSD de que fazem parte as empresas: Altice Portugal, Altri, Amorim, ANA Aeroportos de Portugal, Cimpor, Cortadoria Nacional de Pêlo, Deloitte, EDP, Eurest, EY, Galp, Hovione, Jerónimo Martins, Lipor, Prio Biocombustíveis, PwC, Secil, Sonae, The Navigator Company e Vieira de Almeida & Associados.

A Agência Portuguesa do Ambiente e a 3DRIVERS – Engenharia, Inovação e Ambiente são parceiras deste projeto.

O estudo apresenta ainda seis ações prioritárias de atuação que têm como objetivo desbloquear as barreiras detetadas: Alterações regulamentares para facilitar a transação de resíduos; Promover as compras ecológicas; Promover o conhecimento nas empresas; Facilitar as condições fiscais e de financiamento; Promover as plataformas coletivas para gestão de recursos; e comunicar resultados.

“Estes temas deixaram de ser ambientais para passarem a ser centrais no negócio e na competitividade das empresas. Já não falamos apenas em reduzir o impacto ambiental das empresas, mas também em reduzir custos com matérias-primas e mercadorias, em pensar os negócios de forma diferente, em criar novos empregos. Falamos em economia e em futuro”, diz em comonicado António Lorena, Managing Partner da 3DRIVERS – Engenharia, Inovação e Ambiente.

Este Conselho para o desenvolvimento sustentável conta com mais de 90 empresas que dão emprego direto a mais de 270 mil pessoas. O volume de vendas dos associados não financeiros do BCSD representa 38% do PIB nacional, valor que se traduz em mais de 65 mil milhões de euros de volume de negócios e um VAB entre 6 a 8% do PIB.

VAB é o resultado final da atividade produtiva no decurso de um período determinado. Resulta da diferença entre o valor da produção e o valor do consumo intermédio, originando excedentes. Isto é, designa a diferença entre o valor dos bens produzidos e os custos dos bens intermédios (os bens que são utilizados para produzir outros bens tais como as matérias-primas e os serviços) utilizados na sua produção. Assim o valor acrescentado é constituído pelos salários, juros e lucros (isto é, os rendimentos dos factores produtivos) utilizados ou acrescentados à produção pela empresa, setor de actividade.

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