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Respostas Rápidas: O que aconteceu ao Silicon Valley Bank?

O que aconteceu ao Silicon Valley Bank que levou a uma intervenção relâmpago das autoridades? O que significa para o sistema financeiro esta falência? O que vai acontecer a seguir? Será que o encerramento do SVB pode despoletar uma crise financeira? São algumas das perguntas a que o JE responde com a ajuda da consultora Forste.
Andrey Rudakov / Bloomberg
11 Março 2023, 13h20

O Silicon Valley Bank (SVB Financial Group), pouco conhecido do grande público, era o 16.º banco norte-americano em dimensão de ativos e um banco próximo das empresas tecnológicas.

Com sede em Santa Clara, Califórnia, o banco pertencente ao grupo SVB Financial, foi encerrado esta sexta-feira pelo Departamento de Proteção Financeira e Inovação da Califórnia, que nomeou a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) como liquidatária da instituição, segundo um comunicado publicado no site da autoridade bancária.

O que aconteceu ao SVB?

O Sillicon Valley Bank (SVB) entrou em insolvência depois de uma corrida aos seus depósitos, à qual não foi capaz de corresponder.  As startups e empresas de pequena dimensão, que eram o seu principal mercado, foram os clientes que, em pânico, lideraram a corrida aos depósitos. Antes tinha sido tentado um aumento de capital sem sucesso.  Foi portanto a falta de liquidez e de capital que determinaram a intervenção do Departamento de Proteção Financeira e Inovação, o qual nomeou a FDIC como liquidatário. “A situação do SVB deteriorou-se tão rapidamente que não podia durar apenas mais cinco horas”,  segundo o Administrador Executivo do Better Markets Dennis M. Kelleher citado pela CNN nos Estados Unidos. “Isto porque os seus depositantes estavam a levantar o seu dinheiro tão rapidamente que o banco estava insolvente, e um encerramento intradiário era inevitável devido a uma corrida clássica aos depósitos do banco”, explicou.

Porque precisava o banco de um aumento de capital?

O SVB, que usa a marca Silicon Valley Bank, anunciou um aumento de capital através da emissão de 1,75 mil milhões de dólares de ações como forma de reforçar o seu balanço. O banco referiu no prospecto sobre a operação que precisava dos fundos próprios para cobrir um buraco de 1,8 mil milhões de dólares gerado pela venda com menos-valias de 21 mil milhões de dólares de títulos de dívida, essencialmente Obrigações do Tesouro dos Estados Unidos. O portfólio estava a gerar um retorno médio de 1,79%, bem abaixo das yields (rendimento) de 3,9% dos títulos a 10 anos do Tesouro dos EUA.

Como é que o SVB chegou até esta situação de insolvência?

Uma análise da Forste revela que “o SVB tem algumas características particulares que o tornaram mais propenso a este problema, nomeadamente porque tinha uma carteira de obrigações muito grande face ao total de activos e tinha uma carteira de depositantes relativamente concentrada (start-ups de tecnologia) que reagiu de forma muito concertada ao levantar os depósitos”.

“Ao necessitar de liquidez, o SVB foi forçado a assumir uma perda na venda de parte da carteira de obrigações que consumiu mais de 10% dos seus capitais próprios. Para colmatar esta perda tentou uma operação de aumento de capital que falhou e o deixou ainda mais fragilizado”, explica Pedro Assunção, CIO da Forste.

O que implica a intervenção das autoridades no banco?

O banco vai deixar de ter licença para operar como banco e o FDIC, uma agência governamental independente que garante depósitos bancários e supervisiona instituições financeiras, assumiu o controlo dos seus depósitos.  De acordo com comunicados de imprensa dos reguladores, o Departamento de Protecção Financeira e Inovação da Califórnia fechou o SVB e nomeou o FDIC como o receptor. O FDIC, por sua vez, criou o Banco Nacional de Seguro de Depósitos de Santa Clara, que agora detém os depósitos garantidos do SVB.

A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) foi nomeada liquidatária da instituição. O que significa que o banco será liquidado depois da venda dos ativos para pagar aos credores. Isto é, entrará em insolvência.

O que disse o FDIC aos clientes do banco?

Disse que todos os depositantes garantidos terão acesso total aos seus depósitos garantidos até segunda-feira de manhã e que pagaria aos depositantes que não estão a coberto do equivalente ao nosso Fundo de Garantia de Depósitos um “dividendo antecipado na próxima semana”.

As agências do SVB também reabrirão na altura, sob o controlo da entidade reguladora para os depositantes poderem levantar o dinheiro.

O seguro padrão do FDIC cobre até 250 mil dólares (236 mil euros) por depositante, por banco, para cada categoria de titularidade de conta. O FDIC disse que os depositantes sem seguro obterão certificados de liquidação para os seus saldos. O regulador disse que pagará aos depositantes não segurados um dividendo antecipado na próxima semana, com possíveis pagamentos de dividendos adicionais à medida que o regulador vender os ativos do SVB.

Os depositantes com mais de 250 mil dólares vão receber alguma coisa?

Se os depositantes com mais de 250.000 dólares acabarão por receber todo o seu dinheiro de volta será determinado pela quantia de dinheiro que o regulador receber ao vender os activos do SVB ou se outro banco tomar posse dos activos restantes. Há preocupações na comunidade tecnológica de que até que esse processo se desenrole, algumas empresas possam ter problemas com a folha de pagamentos salariais, uma vez que ficaram sem acesso ao dinheiro que estava SVB.

Qual a importância desta falência?

É a maior falência bancária dos EUA desde a crise financeira global há mais de uma década e a segunda maior falência de uma instituição financeira na história dos Estados Unidos. No fim de 2022, o banco contava 209 mil milhões de dólares de ativos e cerca de 175,4 mil milhões em depósitos, precisaram as autoridades. A última falência de um banco nos EUA desta dimensão foi o Washington Mutual em 2008, que tinha 307  mil milhões de dólares em ativos.

Pode o SVB ser o “canário na mina” de problemas mais graves no sector financeiro?

“É difícil tirar conclusões para o sistema bancário em geral partindo deste caso particular”, explica Pedro Assunção, CIO da Forste.

“Os grandes bancos americanos e europeus são muito mais diversificados do que o SVB, geograficamente, em carteiras de activos e em base de depositantes e, portanto, o risco de um ‘bank run’ é muito reduzido. Também é errado assumir que o SVB pode ser um Lehman Brothers de 2023”, refere a Forste.

A consultora de investimento diz que “o SVB não desempenha um papel fundamental no sistema financeiro global como em 2008 a Lehman desempenhava com uma posição enorme no mercado de derivados, sobretudo de crédito, e sendo contraparte de bancos em todo o mundo. Portanto, dificilmente a queda do SVB terá consequências mais amplas”.

Depois da queda significativa do sector bancário americano na bolsa nesta quinta-feira e do sector bancário Europeu nesta sexta-feira, “não nos parece que o choque se propague muito mais”. Mas, adianta Pedro Assunção, “convém lembrar que o maior risco no sector bancário está em bancos com uma discrepância grande entre a duration dos seus activos e passivos, sobretudo num momento como o actual em que a subida de taxas de juro desvaloriza os activos e torna mais fácil a concorrência para a captação de depósitos. Por isso, esta subida continuada das taxas de juro de curto e longo prazo é uma benesse para o sector financeiro na forma de margens mais elevadas, mas também aumenta o seu perfil de risco”.

Também outros analistas concordam, neste caso citados pela CNN, consideram que apesar do pânico inicial em Wall Street com a corrida ao SVB é improvável que o colapso do banco desencadeie o tipo de efeito dominó que dominou o setor bancário durante a crise financeira.

“O sistema está mais bem capitalizado e líquido do que nunca”, disse o chief economist da Moody’s, Mark Zandi à CNN. “Os bancos que agora estão com problemas são pequenos demais para serem uma ameaça significativa ao sistema mais amplo”, defendeu.

Porque caíram as ações da banca depois da intervenção no banco SVB?

A intervenção das autoridades norte-americanas no banco californiano Silicon Valley Bank (SVB), depois da sua derrocada em Wall Street (perda de mais de 60% na quinta-feira), fez disparar o chamado índice do medo’.

Ainda antes do arranque da sessão de bolsa de sexta-feira, o regulador financeiro suspendeu a negociação das ações do SVB. O supervisor dos mercados suspendeu ainda os títulos do First Republic, um dos bancos que foi contagiado pela preocupação em torno do SVB, depois de durante a sessão desta sexta-feira as ações terem tombado mais de 50%. Várias outras ações de bancos foram temporariamente interrompidas na sexta-feira, incluindo o PacWest Bancorp e o Signature Bank.

As ações do BCP fecharam a cair 3,14% na sexta-feira, já em Espanha o Santander tombou 4,21%. São apenas alguns exemplos do impacto do índice do medo despoletado pela falência do SVB.

Também as ações de grandes bancos norte-americanos foram impactadas na quinta-feira, com Wells Fargo a cair 6%, o JP Morgan Chase a recuar 5,4%, o Bank of America a perder 6% e o Citigroup a mostrar uma queda de 4%.

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