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Restaurantes valem 75% do comércio de rua em Lisboa

No último ano registaram-se aberturas de 231 lojas na capital portuguesa. Consultoras imobiliárias assumem que o setor está dinâmico, mas nem todas acreditam que continue assim nos próximos anos.
10 Junho 2019, 09h00

O setor da restauração/alimentação foi o principal impulsionador nos negócios imobiliários no mercado do comércio a retalho da capital em 2018, com a abertura de 231 lojas de rua na cidade, o que representa 75% deste tipo de comércio. Os dados pertencem a um estudo da consultora imobiliária Savills Portugal, direcionado para a tendência e evolução do mercado retalhista em 2019.

O Jornal Económico questionou a Savills e outras consultoras multinacionais do setor imobiliário, para tentar perceber como a restauração está a ‘puxar’ pelas rendas em Lisboa, mas também no Porto. “O setor da restauração tem sido de fato um dos principais responsáveis pelos níveis de absorção de espaços verificados em Lisboa e Porto, principalmente nas zonas turísticas  e consequentemente poderá ser apontado como o setor que mais tem ditado a dinâmica do mercado”, explica Cristina Cristóvão, diretora do ‘Retail Department’ da Savills Portugal.

Esta opinião é partilhada por Sandra Campos, ‘Partner e Head of Retail’ da Cushman & Wakefield, que acrescenta os “inúmeros projetos de reabilitação que disponibilizam novos espaços de comércio e fazem renascer zonas quase esquecidas”. Sobre se os players mais ativos pertencem aos grupos de restauração ou distribuição alimentar, todas as consultoras estão de acordo em que são ambos os setores. “A distribuição alimentar está com uma expansão bastante dinâmica, focada nos centros de cidade para lojas de conveniência”, afirma Patrícia Araújo, ‘Head of Retail’ da JLL Portugal.

Por sua vez, Carlos Récio, diretor de comércio da CBRE, indica que “no setor da restauração assistimos a uma expansão de grupos nacionais, mas também à entrada de grupos internacionais que veem no nosso mercado uma oportunidade de investimento”. Cristina Cristóvão, é a única que acredita numa redução do setor nos próximos anos. “Este dinamismo será menos intenso devido à escassez de oferta nas zonas mais centrais, que tem vindo a impulsionar os valores de arrendamento para níveis por vezes incomportáveis para este tipo de atividades”, frisa.

Por seu turno, Sandra Campos sublinha que “a menos que algo de muito errado aconteça no nosso país, acredito que o setor tem um futuro promissor”.

Já Patrícia Araújo destaca o papel de Lisboa e do Porto como cidades que “estão cada vez mais cosmopolitas e com um público mais exigente e sofisticado, obrigando os grupos a reinventarem-se para acompanhar esta evolução”, enquanto que Carlos Récio coloca especial enfoque na área da restauração motivada pelo “fenómeno do turismo em Portugal”, que “é irreversível e o crescimento registado nos últimos anos tem alavancado muitas das zonas de restauração em desenvolvimento, com a introdução de diferentes conceitos”.

Questionados sobre quais as tendências mais previsíveis para o mercado retalhista, os responsáveis das consultoras imobiliárias apontam para várias direções. “O e-commerce como canal complementar às lojas físicas poderá provocar eventuais necessidades de redução de áreas por parte de alguns operadores, assim como a necessidade dos operadores e promotores imobiliários de adotarem novas ferramentas tecnológicas que revolucionem a experiência do consumidor em loja”, salienta Cristina Cristóvão, da Savills Portugal.

Por sua vez, Sandra Campos, da Cushman & Wakefield, assume como sendo “previsível que entrem no nosso país grupos internacionais de restauração já com forte presença em outros mercados”, acreditando que também seja “expectável que os fundos de investimento comecem a sentir atração por este setor de atividade e é natural que o setor dê vida a novas zonas da cidade, dinamize bairros e contribua para uma revitalização crescente”.

Já Patrícia Araújo, responsável da JLL Portugal, destaca os “food-markets, onde se juntam vários restaurantes num só espaço, são uma tendência incontornável do mercado”, mas também as “lojas inteligentes, mais tecnológicas em que a experiência é o facto mais valorizado”.

Carlos Récio, da consultora CBRE, acredita que “a sustentabilidade, que é uma preocupação para as gerações mais jovens, e os conceitos diferenciadores ou inovadores, que procuram muitas vezes inspirações em culturas internacionais” é igualmente uma tendência, juntamente com “a comida saudável”, que “está cada vez mais na ordem do dia”, em Portugal.

 

Artigo publicado na edição nº1990, de 24 de maio do Jornal Económico

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