[weglot_switcher]

Resultados líquidos no sector bancário angolano caíram 13,6% em 2022, refere Deloitte

Segundo o relatório da Deloitte, esta diminuição é explicada pelo agravamento dos prejuízos do banco BPC e pelo aumento nas imparidades em 2022, que cresceram 306 mil milhões de kwanzas (330 milhões de euros) face a 2021. A descida do resultado líquido da banca é atenuada pelo aumento significativo dos resultados cambiais,
Deloitte
Deloitte
19 Julho 2023, 14h28

A Deloitte publicou o relatório Banca em Análise 2023 que analisa os bancos angolanos com base na informação financeira individual no exercício de 2022, com exceção do Banco Económico. O Banco de Fomento de Angola, detido em 48,1% pelo BPI, continua a ser o líder no ranking de resultados da banca angolana.

Em 2022, o total dos resultados líquidos no sector bancário nacional era de cerca de 366.647 milhões de kwanzas (395,5 milhões de euros), o que representa uma redução acentuada de, aproximadamente, 13,6% face a 2021, não considerando para efeitos comparativos a informação financeira de 2021 do BE.

Segundo o estudo, “esta redução é maioritariamente justificada pela reversão de imparidades ocorrida em 2021 decorrente da melhoria do rating de Angola, cujo valor global de reversão dos bancos alvo de análise ascendeu a 375.565 milhões de kwanzas (405,2 milhões de euros). Este facto não é recorrente e tem muito impacto na comparação entre 2021 e 2022”. O aumento nas imparidades em 2022 foi de 306 mil milhões de kwanzas (330 milhões de euros) face a 2021.

Adicionalmente, também penalizaram os resultados do sector o agravamento dos resultados líquidos negativos do BPC (Banco de Poupança e Crédito), cujos prejuízos agravaram de 83 mil milhões de kwanzas registados em 2021 para 120 mil milhões de kwanzas em 2022.

A descida do resultado líquido do sector bancário de Angola é atenuada pelo aumento significativo dos resultados cambiais que aumentaram em 2022 cerca de 421% – para 125.150 milhões de kwanzas (135 milhões de euros) o que compara com 24.032 milhões de kwanzas em 2021 – bem como pela melhoria na margem financeira que cresceu 6,3%.

A mitigar a queda dos lucros está ainda a variação positiva nos resultados de investimentos ao custo amortizado, nomeadamente no BAI onde foi totalizado um ganho em 2022 de 54 mil milhões de kwanzas (58,2 milhões de euros) decorrente essencialmente da mais-valia obtida com a alienação de Obrigações do Tesouro em moeda estrangeira.

A Deloitte diz ainda que, devido aos impactos resultantes dos resultados negativos apresentados pelo BPC e BE nos últimos anos, com destaque para 2019 e 2020, apresentam a evolução dos resultados considerando a exclusão destes dois bancos. O principal motivo para estes prejuízos destes bancos “decorreu da necessidade do reforço muito significativo das provisões para perdas por imparidade originadas pelo exercício de Avaliação da Qualidade dos Activos (AQA), promovido pelo BNA em 2019 onde estes bancos concentraram cerca de 96% do total das necessidades de recapitalização dos bancos objecto deste exercício”.

A Deloitte diz que “mesmo considerando a exclusão do BPC e BE desta análise, os Resultados Líquidos em 2022 registaram uma diminuição de 4% face a 2021, que se trata de uma inversão do cenário de recuperação verificado em 2021”.

De acordo com as Demonstrações Financeiras dos bancos em 2022 “verificou-se que o topo da tabela se mantém inalterado face a 2021, com excepção do BE que ocupava a 1.ª posição em 2021 e até à data não apresentou informação relativa a 2022”, refere o relatório.

Neste contexto, o BFA é o líder dos lucros no sector bancário, seguido do BAI, SBA (Standard Bank Angola), BIC e BCGA (Banco Caixa Geral Angola).

“De destacar a recuperação do Banco Keve que apresentou um resultado líquido em 2022 de 26.501 milhões de kwanzas (28,6 milhões de euros), quando em 2021, tinha apresentado um resultado líquido de 20.357 milhões de kwanzas, resultante do crescimento do produto bancário em cerca de 253%, com especial impacto da melhoria da margem financeira e dos resultados cambiais”, lê-se no relatório.

Já o BPC continua a apresenta um resultado negativo em 2022 de 120.397 milhões de kwanzas (129,8 milhões de euros). Isto depois de apresentar o segundo maior prejuízo da história da banca angolana em 2020, cerca de 524.923 milhões de kwanzas (566,2 milhões de euros), logo depois do Banco Económico (Ex-BES Angola), que em 2019 reportou um prejuízo de 531.183 milhões de kwanzas (573 milhões de euros).

Os Bancos VTB Angola e o BCI (Banco de Comércio e Indústria) registaram igualmente prejuízos em 2022, embora o BCI tenha reduzido bastante o valor face a 2021, tendo apresentado um resultado líquido negativo em 2022 de 329 milhões de kwanzas (355 mil euros).

O VTB, que tem como principal acionista o VTB Moscovo, que “tem tido alguns constrangimentos na sua atividade bancária, apresentando um produto bancário negativo em 2022”, diz a Deloitte.

O agregado da margem financeira e da margem complementar dos bancos angolanos levou ao crescimento de aproximadamente 6% do produto bancário, que passou de 1.185.717 milhões de kwanzas (1.279 milhões de euros) em 2021 para 1.255.659 milhões de kwanzas (1.354,3 milhões de euros) em 2022.

“No que respeita a este indicador, verificou-se a manutenção da posição de liderança do BFA, tendo apresentado um total de produto bancário de 269.056 milhões de kwanzas (290 milhões de euros), o que corresponde a um aumento de cerca de 12% comparativamente ao ano de 2021, o qual teve um contributo significativo do aumento dos resultados cambiais”.

A Deloitte lembra que a economia angolana cresceu, pelo segundo ano consecutivo, tendo obtido uma taxa de crescimento do produto interno bruto de 3,0% em 2022, e que houve um controlo da inflação, tendo a taxa de inflação anual, para 2022, atingido o valor de 13,9%, significativamente inferior aos 27,0% registados um ano antes.

Ora, uma das consequências directas desta diminuição foi a redução das taxas de juro no mercado de capitais. Este movimento de redução das taxas de juro no mercado de capitais foi visível nas emissões primárias de dívida pública, tendo-se verificado uma redução significativa, o que causou um impacto significativo na redução da margem financeira dos bancos.

Relativamente ao restante TOP 5, o BAI permanece na 2.ª posição, tendo o SBA passado a ocupar o 3.º lugar. Adicionalmente, o BPC subiu 10 posições no ranking passando a ocupar o 4.º lugar, fruto da melhoria dos resultados cambiais e dos resultados de investimentos ao custo amortizado. Já o BIC (dono do EuroBic) mantém a posição alcançada em 2021, ou seja, a 4.ª posição.

O BE foi excluído do ranking de 2022, por indisponibilidade de informação.

Em 2022, os cinco bancos que registaram as maiores taxas de crescimento do resultado líquido do exercício foram o Keve, o BDA (Banco de Desenvolvimento de Angola), o Banco Sol, o BCI e o Banco BIR, tendo o resultado líquido destes bancos aumentado em 230%, 135%,106%, 96% e 80%, respectivamente, face a 2021.

Por falar em resultados, a Deloitte também fala dos dividendos relativos ao exercício de 2022, que registaram uma redução de 27% face a 2021, com um valor global de 164.680 milhões de kwanzas (177,6 milhões de euros), com uma percentagem de distribuição média de dividendos a rondar os 33% dos resultados líquidos passíveis de distribuição. Em 2021 a percentagem média de distribuição de dividendos ascendeu a 32%.

Relativamente ao ranking de distribuição de dividendos propriamente dito, o estudo da Deloitte revela que que o BFA se mantém como líder dos bancos que distribui mais dividendos do sector bancário nacional, o que é uma boa notícia para o português BPI que é dono de 48,1% do capital.

O Standard Bank de Angola ultrapassou o BAI, neste ranking em 2022. A fechar o TOP 5 surge o Banco Caixa Geral (Angola), detido em 51% pela Caixa Geral de Depósitos, que mantém a 4.ª posição já alcançada em 2021 e o BCS – Banco de Crédito do Sul que ocupa a 5.ª posição.

Peso do crédito a clientes no ativo aumentou 2 pontos percentuais

No 17.º relatório, a Deloitte revela que o peso do crédito a clientes nos bancos angolanos aumentou 2 pontos percentuais em 2022 no total dos ativos, passando de 18% para 20%, em resultado da prossecução de políticas para estímulo da concessão de crédito orientadas pelo Executivo e pelo BNA.

Em contrapartida, o peso dos títulos e valores mobiliários manteve-se praticamente inalterado face ao registado em 2021, representando agora cerca de 34% do total da estrutura de Activos do Sistema Financeiro, fruto da exposição significativa dos Bancos nacionais à dívida pública angolana Nacional.

Por outro lado, o valor total dos ativos dos bancos analisados equivale a 17.037 mil milhões de kwanzas (18,37 milhões de euros) no final de 2022, correspondendo a um crescimento de aproximadamente 4,3%, face ao exercício de 2021.

“De acordo com as Demonstrações Financeiras dos bancos angolanos que foram objecto do estudo em 2022, e tendo sido expurgada informação de 2021  do BE (Banco Económico), para efeitos comparativos, o activo do sector bancário apresentou um crescimento de 4,3%, em oposição à redução de 4,4% registada em 2021”, refere a Deloitte.

Adicionalmente, o total de crédito líquido ascendeu a 3.480 mil milhões de kwanzas (4.1542 milhões de euros) em 2022, o que corresponde a um aumento de cerca de 13%1 face a 2021, sendo que a variação entre 2020 e 2021 cifrou-se em 4,9%.

O ranking do total de ativos é liderado pelo BAI, seguido pelo BFA, BIC, BPC e pelo ATL (Banco Millennium Atlantico).

No final de 2022, os cinco maiores bancos representavam 65% do total dos ativos dos bancos analisados pela Deloitte, o que compara com uma concentração de 69% em 2021 (sem considerar a informação de 2021 do BE), uma vez que TOP 5 registou uma redução dos seus ativos totais, de cerca de 1,5%, que se concentrou no BIC, BPC e ATL, que viram os seus activos reduzir em cerca de 401 mil milhões de kwanzas (432,5 milhões de euros).

Nos restantes bancos, verificou-se que a maioria (12 dos 17 bancos) registaram um crescimento no valor dos seus ativos em 2022.

“No que diz respeito ao posicionamento dos cinco bancos com maior volume de crédito líquido, com excepção do BFA e do BAI que trocaram de posições em 2022, os restantes bancos do TOP 5 mantiveram o posicionamento similar, nomeadamente o Banco BIC que cimentou a posição de liderança que ocupa desde 2019, com o ATL e SBA na 2.ª e 5.ª posição, respectivamente”, refere a Deloitte.

O rácio de crédito vencido ascendeu a 20,8% em 2022, sendo que em 2021 este rácio foi de aproximadamente 29,8%, o que representa uma descida significativa em 2022, fruto da melhoria do ambiente macroeconómico nacional e do saneamento da carteira de crédito do BPC.

A Deloitte diz que caso não fosse considerado o BPC neste rácio, observar-se-ia um rácio de crédito vencido de 21,3% e de 18,0% em 2021 e 2022, respectivamente.

De acordo com os Indicadores de Solidez Financeira do Sector Bancário, publicados em 15 de Março de 2023 pelo Banco Nacional de Angola com dados de Dezembro de 2022, o rácio de crédito vencido do sector é de 14,4%, acrescenta o estudo.

Segundo os dados disponibilizados pelo BNA, “foi verificado um aumento de 4,2 pontos percentuais no Rácio de Fundos Próprios Regulamentares (ou Rácio de Solvabilidade) face a 2022, equivalendo a 28,4%, mantendo-se deste modo acima do valor mínimo regulamentar com uma margem de segurança, o que demonstra a resiliência do sector”, acrescenta a consultora no seu relatório.

A melhoria deste rácio resultou igualmente do aumento dos capitais sociais de alguns bancos, com destaque para o BPC, BCGA, BDA, BCI e BNI, refletindo um impacto positivo sobre os fundos próprios regulamentares.

O valor total dos capitais próprios tem vindo a apresentar uma clara tendência de crescimento desde 2014 (com excepção de 2019), tendo-se verificado um aumento entre 2015 e 2022 a rondar os 321%, segundo o estudo. “De forma generalizada, observa-se um aumento dos Capitais Próprios dos Bancos, num total de 18 Bancos, o que é um indicador muito positivo para o sector”, refere a Deloitte que detalha que “apenas o BE apresentou Capitais Próprios negativos, estando em curso a implementação do Plano de Recapitalização e Reestruturação aprovado pelo BNA no final de 2021, não tendo apresentado, até à data de publicação do estudo, informação financeira de 2022”.

Rentabilidade e eficiência

No que respeita à rentabilidade medida pelo Retorno dos Capitais Próprios Médios (ROAE), verificaram-se alterações significativas na posição relativa dos Bancos, entre 2021 e 2022. O Keve assumiu a liderança deste ranking em 2022, saindo da 25.ª posição em 2021, por troca com o SCBA que ocupa agora a 18.ª posição.

Esta performance decorre do Keve ter regressado aos lucros em 2022, na ordem dos 25.501 milhões de kwanzas (27,5 milhões de euros), após um prejuízo registado em 2021 de 20.357 milhões de kwanzas.

“Destaca-se a subida do Banco Yetu à 2.ª posição do ranking, no ano em que registou o maior lucro da sua história, tendo subido da 3.ª posição ocupada em 2021. Também se destaca a performance do BIR, SBA e BCGA que fecham o TOP 5 e que no anterior já ocupavam lugares cimeiros neste ranking”, adianta a Deloitte.

No que respeita ao cost-to-income, verificou-se uma tendência generalizada de redução deste indicador, resultado de uma melhoria de performance dos bancos, que resultaram em alterações significativas na posição relativa dos Bancos, entre 2021 e 2022. Do TOP 5 registado em 2021, o BCH, BCGA e SBA permaneceram em 2022, tendo o BCH subido da 2.ª para a 1.ª posição, o BCGA da 5.ª para a 2.ª posição em 2021 e o SBA perdeu uma posição no ranking.

Os restantes Bancos do TOP 5 são o BFA que ocupa o 3.º lugar do ranking (6.º lugar em 2021), com um rácio de 38%, e o BCS, que ocupa o 5.º lugar do ranking (11.º lugar em 2021), com um rácio de 39%, o qual registou uma redução de cerca de 9 pontos percentuais que revela a melhoria da eficiência do Banco.

Por outro lado, o BNI deixou a 7.ª posição do ranking, com o agravamento do seu rácio de 44%, em 2021, para 141%, em 2022, tendo caído para a 22.ª posição, justificado pela diminuição muito acentuada dos resultados cambiais, resultante em grande medida da reavaliação da carteira de Obrigações do Tesouro indexadas ao Dólar dos Estados Unidos e em moeda estrangeira, bem como da redução da margem financeira em 2022.

 

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.