A reunião desta quinta-feira do Banco Central Europeu acontece um dia depois de se ter ficado a saber que a inflação portuguesa aumento em março face ao mês anterior em 0,2 pontos percentuais – num movimento a que não escapam várias economias do bloco dos 27. Dito de outra forma: a prudência que a instituição tem demonstrado em termos de mudança de ciclo no que tem a ver com as taxas de juro talvez aconselhe a que essa mudança fique retida para melhor oportunidade. Mesmo que isso contraste com os pedidos que todos os dias surgem do lado da economia real – fasta de reter investimentos e de poder contar com o alívio do aperto dos consumidores.
Mas isso – isso a que poderia chamar-se noutros tempos a ‘mensagem das ruas’ – não é o que importa para os dirigentes do BCE, liderados por Chistine Lagarde. Tanto mais que o grupo de sábios da instituição parece detestar a inovação: prefere esperar pacientemente pelas decisões da homóloga Reserva Federal para não colocarem em perigo o alinhamento das economias dos dois lados do Atlântico.
Num quadro em que a inflação se recusa a ser domesticada, essa contenção é, para um número alargado de economistas, a melhor opção. Mas nem só de taxas de juro vive o BCE. O encontro desta quinta-feira é o primeiro a realizar-se depois de o BCE ter apresentado o seu novo quadro operacional, e é provável que Christine Lagarde dê detalhes sobre algumas questões que ficaram pendentes, como as novas rondas de liquidez para bancos (TLTROs) e a carteira estrutural de títulos que acaba de ser apresentada pela Comissão Europeia.
Para alguns analistas, os mercados querem saber quando e a que ritmo o BCE vai baixar o preço do dinheiro, mas, a partir de hoje, nem o próprio banco central sabe. A instituição deixou muito claro nos últimos meses que todas as suas decisões são agora “dependentes de dados”, e com esta premissa, tendo em conta que a última reunião foi há menos de um mês e meio, “é muito difícil para o BCE ter visto algum sinal que o tenha convencido da necessidade de mudar a sua mensagem”, refere o jornal “El Economista”. “Mal se passaram cinco semanas desde a última reunião do Conselho do BCE e, portanto, há poucas estatísticas adicionais para refletir. Por isso, é difícil para um banco central que se baseia em dados desviar-se do curso”, confirma Kevin Thozet, membro do comité de investimento da Carmingnac, citado por aquela fonte.
Os dados sobre a Zona Euro informam que a inflação do mês de março continuou a moderar o seu avanço para 2,4% em termos homólogos. Embora seja a leitura mais baixa desde julho de 2021, não parece ser suficiente para o BCE decidir mudar as taxas de juros nesta reunião. Junho, setembro e dezembro parecem ser as datas certas para as alterações do preço do dinheiro serem introduzidas nos mercados europeus. Aliás, convém recordar que essa a mensagem de sempre: o BCE deixou sempre mais ou menos claro que a primeira descida deveria coincidir com o final do primeiro semestre. Ainda não chegámos lá. E quando chegarmos lá, não é certo que haja um movimento de descida, tanto mais que, nos Estados Unidos, a inflação parece também não estar devidamente domada. Nem era suposto: as eleições presidenciais marcadas para novembro aconselham a que o governo federal atire dinheiro para dentro dos bolsos dos contribuintes (outro nome para a condição de eleitores), não vão eles fazer más opções no momento do voto.
“Não esperamos grandes mudanças do BCE esta semana”, disse o Bank of America. “A confiança de que nos estamos a aproximar do início dos cortes de juros está a crescer, mas ainda depende de mais dados, insuficientes para que sejam tomadas ações concretas “.
A ata da reunião de março, lembra o “El Economista”, mostrou que se tratou de uma reunião com poucas notícias e que os membros do Conselho do BCE estão convencidos da necessidade de dispor de mais dados para tomar a decisão de alterar as taxas de juro na área do euro.
Uma semana após a última reunião, o BCE apresentou um guia com o qual esclareceu que tipo de ferramentas tencionava utilizar no futuro. E houve novos desenvolvimentos: o primeiro foi o anúncio de que, em setembro, iriam reduzir o diferencial entre os diferentes índices de referência das taxas de juro utilizados pelo BCE, a taxa de refinanciamento, a taxa de cedência de liquidez e de depósito. A ideia da instituição é incentivar os bancos a usarem as operações semanais de financiamento oferecidas pelo banco central e, por isso, cortará em setembro o preço que cobra, estreitando o diferencial que existe nessa frente. Há muitos detalhes que precisam de ser esclarecidos, e é possível que Lagarde e a sua equipa considerem esta reunião o momento mais apropriado para fazê-lo. O primeiro concentra-se no momento em que o BCE introduzirá novas operações de TLTRO, o que, segundo o próprio, será feito quando “o balanço de ativos começar a crescer de forma constante”. Quanto ao fim do semestre, ainda faltam dois meses – pelo menos segundo o calendário civil, que não é sempre coincidente com o calendário dos bancos centrais.
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