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Reunião do comité central do PCP: Cinco desafios de um partido em convulsão

O comité central do Partido Comunista (PCP) está esta segunda-feira reunido para analisar a situação política e social do partido, depois de, nos últimos meses, vários militantes e funcionários comunistas se ter insurgido contra a linha política seguida pela atual liderança. Saiba quais os desafios que o PCP enfrenta.
8 Abril 2019, 12h45

Na Soeiro Pereira Gomes, em Lisboa, decorre esta segunda-feira uma reunião que pode redefinir a orientação política do Partido Comunista (PCP). Vários militantes e funcionários do partido tem acusado os membros da atual direção de serem “traidores do marxismo” e terem cedido aos interesses “pequeno-burgueses”. Os críticos, que nunca se recompuseram depois do acordo que viabilizou a Geringonça, questionam as recentes demissões e falam em “perseguições” às vozes dissonantes do partido.

Face a isso, o comité Central do PCP vai reunir-se para analisar a situação política e social do partido, bem como as tarefas entregues aos funcionários. Este fim de semana, o secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, afirmou que está a ser vítima de uma “campanha de ódio e difamação”. Saiba quais os cinco principais desafios da atual liderança:

1 – Críticas à solução governativa adotada em 2015
A falta de apoio à decisão do PCP de assinar o acordo que levou o Governo socialista de António Costa ao poder é um dos desafios que a atual direção enfrenta. Recentemente, o despedimento do Miguel Casanova, filho do histórico comunista José Casanova, fez estalar o verniz no partido. A versão do PCP é de que a demissão terá sido motivada pela recusa de uma transferência de funções, mas o antigo funcionário alega que em causa estiveram as críticas dirigidas à Geringonça. A somar-se ao caso de Miguel Casanova veio o de Guilherme Antunes. O militante que pertencia à direção política da concelhia de Cascais diz-se vítima de “perseguição política” por ter criticado os acordos de Governo assinados pelo PCP em 2015. O PCP diz que as “calúnias” ao partido, revelaram um comportamento “indigno de quem se afirma comunista”, a que se somaram suspeitas de desvio de dinheiro dos cofres da concelhia.

2 – Descontentamento interno e desrespeito de deveres
Em solidariedade com Miguel Casanova e Guilherme Antunes, outros funcionários do PCP apresentaram a demissão, com alguns deles a negarem “de qualquer atividade partidária”. Os críticos do partido dizem que o PCP não pode silenciar a reprodução de atos semelhantes ao de Miguel Casanova e Guilherme Antunes, que segundo dizem, “estão a acontecer às dezenas” de norte a sul de Portugal. Acusam a atual direção de “trair” os ideais marxistas e de ter cedido aos interesses pequeno-burgueses e destilam críticas inflamadas nas redes sociais. O PCP acusa os funcionários críticos da liderança comunista de estarem a desrespeitar os deveres enquanto quadros do partido e estarem a promover uma campanha de ódio e difamação contra a atual direção do partido.

3 – Perspetivas pouco otimistas para as próximas eleições
Embora a nova projeção do Parlamento Europeu tenha dado o mesmo número de eurodeputados comunistas para as próximas eleições europeias, não há como ignorar a queda prevista na primeira sondagem. A projeção, publicada no início de março, apontava para que a coligação PCP e PEV (CDU) elegesse apenas o cabeça de lista às europeias, João Ferreira, quando atualmente conta com três eurodeputados. João Ferreira desvaloriza a questão, dizendo que há sondagens “para todos os gostos” e que o povo se conquista diariamente com campanha nas ruas. Mas o risco de uma nova queda nas eleições, depois do fracasso nas autárquicas é um dos grandes desafios que o partido vai enfrentar.

4 – Redefinição de uma nova linha política sem o PS
Na lista de opções nada fáceis que o PCP terá de fazer em breve está a necessidade de redefinir linhas programáticas para as eleições legislativas que se avizinham. O partido vai concorrer de forma isolada e, depois de quatro anos a suportar no Parlamento o Governo de António Costa, o partido vai ter de se “despegar” do PS e definir uma nova estratégia política para se reafirmar enquanto alternativa.

5 – Reivindicação de um novo secretário-geral
Às críticas à atual direção do partido juntam-se os apelos para a nomeação de um novo secretário-geral do partido. Nas redes sociais, foram vários os militantes e funcionários do PCP que partilharam uma publicação, onde Guilherme Antunes sugeria o ex-deputado comunista Miguel Tiago. “É novo, tem 39 anos. É firme e um orador experimentado. É inteligente, culto e marxista-leninista”, sublinha Guilherme Antunes, na publicação, dando conta da “significativa acutilância político/ideológica” para o “lançamento de Miguel Tiago ao cargo de secretário-geral do partido”. A esta publicação, Miguel Tiago respondeu com um aviso: “Acho lamentável que se use o nome de um camarada, no caso o meu, para fazer provocações ao partido”.

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