As potências económicas mundiais consumiram mais de 100 mil milhões de toneladas em materiais por ano, atingindo máximos históricos. Feitas as contas, se considerarmos todos os minerais, combustíveis fósseis, metais e biomassa que entram anualmente na economia mundial, apenas 8,6% foram reutilizados afastando ainda mais as metas ambientais.
As conclusões são da autoria da organização Circle Economy e serão apresentadas, esta terça-feira, no arranque do Fórum Económico Mundial, em Davos. Ao Jornal Económico, o CEO da instituição considera que a importância deste relatório vai em linha com as prioridades deste fórum, que se centram em torno das questões da sustentabilidade. “É encorajador que a agenda do Fórum Económico Mundial esteja mais focado na sustentabilidade este ano, mas o foco real deve estar em transformar essa conversa em ação e fazer com que governos e líderes empresariais se comprometam com agendas transformadoras de circularidade”, explica Marc de Wit, principal redator deste documento.
A análise denuncia que em dois anos, verificou-se um aumento de 8,4% de todos os recursos que entraram na rota da economia mundial, tendo crescido de 92,8 mil milhões de toneladas em 2015 para 100,6 mil milhões em 2017, o último ano em que foram feitos registos. No mesmo período, a quantidade de recursos extraídos aumentou em 9%, tendo o Circle Economy registado um crescimento de 84,4 para 92 mil milhões de toneladas. A organização conclui, portanto, que o total de materiais reutilizados no mundo cresceu apenas 3%, de 8,4 para 8,65 mil milhões de toneladas.
“Arriscamos-nos a um desastre global se continuarmos a tratar os recursos do planeta como se fossem ilimitados. Os governos devem adotar, urgentemente, soluções baseadas numa economia circular se quisermos garantir uma qualidade de vida a 10 mil milhões de pessoas sem desestabilizar os processos planetários críticos”, afirma Marc de Wit.
Governos devem agir “urgentemente”
O relatório argumenta que os países estão particularmente bem posicionados para lidar com o crescente défice de circularidade e exorta os governos a estabelecer roteiros nacionais para a circularidade. O JE questionou de Wit sobre se a resposta a estes avisos ambientais tem sido suficiente e se relatórios desta natureza têm influenciado, de alguma maneira, a posição das administrações nacionais.
“Os governos estão cada vez mais cientes do papel fundamental que desempenham na criação de uma economia circular”, explica o responsável ao JE, acrescentando que tem visto um movimento crescente dentro do espaço da economia circular. “Mas é preciso trabalhar mais para medir o progresso da agenda circular a nível nacional e internacional”.
O documento defende ainda que ao serem adotadas novas práticas, que isso pode tornar as suas economias mais competitivas, melhorar as condições de vida, ajudar a cumprir as metas de emissões de CO2 e evitar a desflorestação. Por isso, identifica diferentes estratégias para diferentes países com base nos padrões de vida de sua população e em sua pegada ecológica.
Aos olhos dos autores deste relatório, Portugal, juntamente com os restantes membros da União Europeia os Estados Unidos e o Japão, situam-se na categoria de “países de transição” (Shift country) consumindo 10 vezes mais recursos por pessoa do que os “países em construção” e produzindo volumes muito altos de resíduos, dado que maior parte do consumo é importado.
Para diminuir o consumo pouco sustentado, o Circle Economy apela para que se faça a transição para um consumo mais “verde”, que se ganhe mais noção sobre quais os impactos de importação e exportação de bens e que se acelere a transição para as energias renováveis de forma a descarbonizar as suas economias e criar sistemas de capacidade renovável abundantes, armazenamento e redes inteligentes.
“Portugal é classificado como um “Shift country” porque mostra níveis muito altos de desenvolvimento humano e uma pegada ecológica alta (4,1 hectares globais)”, explica Marc de Wit ao Jornal Económico. “Em termos de progresso do desenvolvimento em direção a um espaço seguro social e ecológico, isso coloca Portugal quase igualmente longe desse espaço seguro, juntamente com países como o Líbano ou o Gabão. Estes países têm níveis muito mais baixos de desenvolvimento humano, mas ficam mais próximos dos limites ecológicos do planeta.”
O relatório do Circle Economy vai ser apresentado na íntegra, esta terça-feira, no inicio do Fórum Mundial Económico, em Davos. A “crise climática” foi o tema escolhido para marcar os 50 anos da conferência que junta os principais líderes da política e economia mundial numa estância de esqui na Suíça. A organização do Fórum Económico Mundial quer ainda chamar a atenção para os “confrontos económicos” e a “polarização política doméstica”, apontados como os “riscos significativos” que o planeta enfrenta em 2020. A tensão entre EUA e Irão e a guerra comercial que opõe Washington a Pequim são temas que deverão provocar o aquecimento local.
Taguspark
Ed. Tecnologia IV
Av. Prof. Dr. Cavaco Silva, 71
2740-257 Porto Salvo
online@medianove.com