Em 1900, numa foto de uma rua de Nova Iorque, havia um carro e a rua era dominada por cavalos. Em 1913, numa foto idêntica, havia uma carroça puxada a cavalos e a rua era dominada por automóveis. Inovações disruptivas são assim: rápidas e óbvias post factum.

Neste momento ocorrem simultaneamente duas revoluções deste calibre: a eletrificação e a condução autónoma. A eletrificação visa resolver a questão energética (o petróleo é uma fonte de energia finita), ajudando o ambiente no processo e limitando a dependência face a países politicamente instáveis. A autonomia visa reduzir a sinistralidade e os impactos desta, e maximizar a utilização da frota automóvel mundial – por toda a população e a toda a hora. Estas revoluções, da forma como a tecnologia e os mercados automóveis estão a evoluir, estarão completas em 30 anos, deixando os carros de combustão interna para colecionadores.

As consequências de ambas as revoluções serão profundas. A eletrificação levará a uma redução significativa da exploração de petróleo, a uma menor pegada ecológica e a um realinhamento geopolítico a favor de economias do conhecimento e a desfavor da OPEC. Incentivará também a micro-geração e o micro-armazenamento de energia, reduzindo significativamente as elétricas, diminuindo o PIB (se eu produzo energia em casa, não há transação para incluir no PIB, mesmo que aumente o consumo de energia) e os impostos (por exemplo, a taxa audiovisual).

A condução autónoma será ainda mais disruptiva. Se o carro se conduz a si próprio, qualquer um pode ser transportado, desaparecendo necessidades como levar os filhos à escola ou os sogros à vila. O preço dos seguros e das reparações será também menor, pois os acidentes reduzir-se-ão para menos de 10%. A comodidade será também maior: o carro, sabendo a nossa agenda, aquece-se 15 minutos antes, sai da garagem e encontra-nos à porta (localiza-nos via telemóvel); deixa-nos no emprego e vai estacionar-se potencialmente a quilómetros de distância; e depois faz as tarefas familiares que aceitarmos via telemóvel.

Em termos da economia nacional, há classes profissionais que irão ser reduzidas ou que poderão desaparecer por completo. A guerra atual entre Táxis e Uber deixará de fazer sentido, porque qualquer um de nós pode colocar o carro pessoal a render, bastando para isso autorizarmos o fabricante a colocar o carro disponível para esse efeito (mesmo que seja só para uma rede de conhecidos ou pré-aprovados). O carro que hoje está parado 90% do tempo passará a gerar rendimento e um segundo carro disponível para clientes registados na aplicação será uma fonte de rendimento como hoje é uma segunda casa arrendada. Quando a revolução chegar aos camiões de mercadorias, é fácil imaginar os grandes impactos em termos de distribuição. Nas cidades, estradas de painéis solares, baterias e carregadores de autocarros urbanos por indução serão instaladas, com os condutores a dar lugar a pequenas equipas de plantão para alguma situação não prevista. Resumindo: mais engenheiros, menos condutores e menos carros, maior taxa de utilização dos mesmos.

Se o iPhone de Steve Jobs revolucionou os telemóveis, o Modelo 3 de Elon Musk irá revolucionar o automóvel. Só que a escala será muito maior.