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RIO é Mau, Vote no RIO!

O que ninguém imaginava, nem os mais descrentes,  é que o consulado -Rio seria “isto”. Uma guerra civil permanente, com o grupo parlamentar, com as concelhias, mas também com os “seus”, a própria direção e secretariado-geral, com inúmeras demissões e afastamentos.
8 Agosto 2019, 07h15

Rui Rio tem sido um líder tão mau para o PSD, que essa é a principal razão pela qual se deve votar no partido de Sá Carneiro! Confusos? Já explico.

De facto o ex-presidente da Câmara do Porto chegou à liderança do maior partido português com a promessa de dar um “banho de ética” à política do burgo. Assim à primeira vista é “poucochinho”, mas a concretizá-lo, já não seria mau. As opções eram poucas ou nenhumas, tratando-se de uma óbvia presidência de transição. Até porque os nomes perfilados para uma liderança de longo prazo, quer da facção liberal-passista, quer da vertente mais social-democrata centrista, sabiamente resguardaram-se de desgastes imprudentes.

O que ninguém imaginava, nem os mais descrentes,  é que o consulado -Rio seria “isto”. Uma guerra civil permanente, com o grupo parlamentar, com as concelhias, mas também com os “seus”, a própria direção e secretariado-geral, com inúmeras demissões e afastamentos. Politicamente, entre longos e incompreensíveis silêncios, deixando órfã a oposição à esquerda, registam-se posições desastrosas, como a do apoio ao descongelamento integral do tempo de serviço dos docentes ou a anuência à tentativa de politização do Conselho Superior do Ministério Público. Uma bala de prata no coração do que de melhor Rio tinha para propor aos portugueses: rigor nas contas e separação de poderes.

Até nos timings Rio foi infeliz, produzindo estas posições absurdas nos momentos em que Costa tinha a corda ao pescoço, com os inúmeros casos do seu Governo (familygate, Tancos, incêndios). Perante um executivo governamental mentiroso, que aplicou uma austeridade encapotada, que faliu e ruiu as funções elementares do Estado desperdiçando os anos de maior prosperidade económica que a Europa viveu nas últimas décadas, e uma oposição mesclada entre a liderança desastrosa que acima explanei, e uma alternativa democrata-cristã errática, cujo maior legado que deixará é a memória colorida de um vestido com kiwis, era inevitável que o populismo chegasse a Portugal.

É verdade, poucos se aperceberam mas o populismo que graça nas democracias em crise da Europa comunitária (e da quase-ex-comunitária) estendendo-se ao Continente Americano, chegou em força ao nosso país. Partidos da esquerda mais conservadora veem-se definitivamente (?) ultrapassados pela narrativa popularucha e demagógica de agremiações como o Bloco de Esquerda ou, agora, o PAN. Diga-se , para início de conversa, que PAN e BE são o mesmo partido, com a diferença que a maior parte dos “aderentes” bloquistas não dispensam um cozido, ou um ensopado de borrego.

De resto toda uma agenda escondida, que no caso do BE havia sido desmascarada em 2009 e 2011 por (imaginem só!) José Sócrates em famosos debates em que encostou Louçã às cordas, naquele que terá sido o mais relevante contributo do ex-engenheiro para a democracia portuguesa. Ficaram então os portugueses aterrorizados ao saber, pela simples leitura dos programas eleitorais do Bloco, que este defendia a restruturação da dívida (logo saída do euro, consequentemente salários muito mais baixos, empréstimos exponencialmente mais altos) bem como o término dos benefícios fiscais para os PPR’s, para despesas de saúde ou educação, devidamente untados com PRECquianas nacionalizações. Tudo entretanto esquecido e abafado pela estridência das Catarinas e Mortáguas.

Já o PAN defende (aparentemente) uma mudança do paradigma antropocêntrico, como se o primado da pessoa humana não implique que toda a envolvência universal seja intransigentemente defendida, até para garantia da sobrevivência do Homem. Que dizer de um partido que, travestido de ambientalista, defende em alguns casos penas superiores para quem mata um animal do que para quem mata uma pessoa? Eu adoro a minha cadela, e não nutro qualquer simpatia pelo meu vizinho. Mas longe de mim defender que o Estado consagre os mesmos direitos à minha “Palha” do que ao antipático da casa ao lado. Mais, todos os partidos com representação parlamentar são unânimes na defesa dos princípios fundamentais da boa prática ambiental, de resto elementos fundadores do projeto Europeu.
Compreendo a graçola popular que diz “ se os políticos são uns malandros, vou votar nos animais”. Mas a verdade é que votar no PAN não é votar nos animais, mas em políticos com políticas radicais e extremistas.

Posto isto, a sondagem da TVI desta semana é assustadora. A possibilidade matemática do PS fazer maioria absoluta com um partido desta natureza é preocupante. Pior, essa sondagem abre a possibilidade para a existência de uma maioria de 2/3 com a esquerda radical que propicie uma revisão da Constituição que já tarda há uma década. Como será então uma revisão constitucional sem o outro partido moderado do Regime, o PSD? Essa é uma miragem que os portugueses não estão a avaliar convenientemente. Debaixo do fogo aceso da campanha, que nos dias de hoje parece não ter fim, e expurgando a nossa memória recente dos soundbytes populistas em privilégio da memória remota,  é tempo de pararmos e refletirmos o que somos, o que acreditamos e do que queremos fazer parte enquanto sociedade de matriz ocidental. Há vida no dia seguinte aos próximos atos eleitorais (incluindo aqui as Regionais da Madeira).

O mundo da política e dos políticos está cheio de imperfeições e de agentes imperfeitos. Mas se defendo um modelo de sociedade livre, competitiva, solidária, que respeite todas as minhas vontades que não afrontem o outro, devo deixar que o sistema representativo funcione, escolhendo os projetos que identifico comigo. Porque os líderes vão e vêm.

Como dizia no início, Rio é tão mau que essa é a principal razão para se votar PSD, pois o regime democrático da III República viverá (sem ele, Rio) após 6 de Outubro. Aliás, é bom que sobreviva a esse dia. Com um sistema de pesos e contrapesos equilibrado, moderado, que não coloque em causa definitivamente os ganhos de 4 décadas e meia de democracia. Se os outros não votam no PSD porque não gostam de Rio, essa é a melhor razão para que o caro leitor o faça, impedindo que a alternativa moderada à direito passe à irrelevância, e que nos tornemos numa espécie de Albânia na ponta da Europa. Boas férias!

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