Entre as Pequenas e Médias Empresas, há um problema estrutural “porque os empresários confundem muito cumprimento fiscal com a gestão financeira”, o que limita o potencial de muitos negócios.
A garantia é de Rita Maria Nunes, especialista em gestão estratégica que representa em Portugal a empresa norte-americana The Alternative Board (TAB). Esta última trabalha com “cerca de 40 empresas” em território nacional, cujo volume de faturação total está entre 40 e 45 milhões de euros. De resto, tem presença em outros 24 países.
Em entrevista ao Jornal Económico (JE), a própria explica que a atividade passa por dar apoio aos empresários para que possam “gerir os seus negócios de forma mais leve e tranquila”. O modelo de negócios centra-se em PMEs e especializa-se em microempresas, que são excessivamente dependentes do dono.
Em muitos casos, estas “delegam no contabilista externo ou numa administrativa interna, que nem sequer tem qualquer conexão à visão estratégica do negócio, todo o planeamento e análise dos números”, aponta.
Esta situação leva a que não existam previsibilidade ou relatórios regulares, pelo que “não conseguem negociar com a banca”, assim como não elaboram um orçamento. Neste contexto, a TAB propõe-se a trabalhar para mudar o paradigma, de forma a remover barreiras de âmbito financeiro, burocrático ou noutro âmbito que se colocam aos negócios.
O objetivo passa por propor “alterações que permitem ao dono não estar tão preso ao negócio e permitem ao negócio não estar tão dependente dele”. Nesse sentido, os serviços da TAB envolvem sessões individuais que visam preparar estes empresários para fazerem parte de um board, explica Rita Maria Nunes. “Transpomos aquilo que as grandes empresas fazem nos Conselhos de Administração para a realidade das PMEs”.
Trata-se de um serviço de “CFO por avença”, mas como é que isto se executa na prática?
“Todos os meses, os nossos clientes sentam-se num board composto por seis a oito empresários, onde vão expor o tópico do mês”, que pode ir desde a necessidade de despedir pessoas ao propósito de aumentar vendas. Aqui serão exibidos “vários caminhos possíveis para resolver aquela questão”, sendo que a decisão final cabe sempre ao empresário em causa, que nunca deixa de ser incentivado a desenvolver o negócio, sublinha a especialista.
“Nós apoiamos o empresário muito na lógica de o colocar a pensar sobre o que tem, o que está a acontecer na empresa e como é que de facto vai resolver essa situação”, salienta.
“Avença do contabilista serve para tudo”
Rita Maria Nunes não tem dúvidas de que a falta de literacia financeira, pelo que “a gestão financeira dos negócios também reflete muito” esse fator. Prova disto é que continuam a surgir erros “típicos”, como é o caso das funções atribuídas ao contabilista, cuja avença “muitas vezes serve para tudo menos para o que deveria servir, que é a questão do cumprimento fiscal”.
Ainda assim, a própria diz que empresários entre os 35 e os 45 anos “já são um bocadinho diferentes” e regista que “há vontade de mudar”. Porém, a burocracia gera uma série de dificuldades.
“A complexidade para entender a fiscalidade em Portugal é tão grande que os empresários que querem ter as coisas a 100%, desistem, delegando totalmente no contabilista”, ao mesmo tempo que muitos empresários vivem “quase com medo” ao pensarem “qual será a próxima multa das finanças”.
Neste sentido, o volume de burocracia constitui “uma barreira gigante ao empreendedorismo”. Aqueles que querem escalar o negócio e fazê-lo chegar a outros países, “a meio do caminho já estão cansados”, garante. Neste sentido, “nós, empresários, sentimos que o Estado é o sócio maioritário”, atira, com ironia.
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