A Administradora Executiva do Grupo Nabeiro e CEO da Adega Mayor desde 2012, Rita Nabeiro, é a nova presidente do BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável Portugal, a associação empresarial sem fins lucrativos que agrega mais de 200 empresas em Portugal e as ajuda na sua jornada para a sustentabilidade. Sucede a António Pires de Lima, Presidente da Brisa, que foi quem a propôs para o lugar. É de notar que Rita Nabeiro já era vice-presidente da associação. No grupo Nabeiro, com o cargo de administradora, tutela as áreas estratégicas da Sustentabilidade e Recursos Humanos, o que é uma mais-valia para presidir à associação BCSD.
Rita Nabeiro é neta do fundador do grupo Delta, Rui Nabeiro, e irmã do CEO do grupo Nabeiro, Rui Miguel Nabeiro. Em entrevista a propósito da rubrica semanal “Decisor da semana”, revela que “gostaria que o grupo continuasse a ser uma empresa familiar nas próximas décadas, pois trata-se de um projeto ao qual o meu avô Rui e a minha avó Alice dedicaram as suas vidas, e que representa o legado e os valores que eles construíram com tanto empenho e dedicação.”
Transporta a herança do nome Nabeiro, mas é no futuro que se foca, sem perder de vista o legado humanista e a proximidade com as pessoas que herdou do avô. Licenciou-se em Design de Comunicação, mas rapidamente se juntou à empresa da família, primeiro no marketing da Delta Cafés e depois, em 2007, no lançamento de uma nova linha de negócios na área dos vinhos.
Quando questionada por que escolheu o ramo dos vinhos e não o dos cafés, respondeu: “Acredito que por vezes alguns caminhos nos escolhem.”
Chegou a ter o sonho de ser arquiteta e fala com orgulho no projeto que Siza Vieira desenhou para a Adega Mayor, o ramo de negócio que comanda dentro do Grupo Nabeiro.
Faz parte das sete mulheres portuguesas que constam do ranking da Merco Líderes, que avaliou em 16 países a importância da liderança feminina no cenário empresarial global.
É CEO da Adega Mayor desde 2012, Administradora Executiva do Grupo Nabeiro, e agora passou de vice-presidente a presidente da BCSD. É fácil ter tantos cargos de gestão e conciliar com a vida familiar e pessoal?
Admito que a gestão de tantos cargos nem sempre é fácil, sobretudo quando são bastante diferentes entre si. Desde o âmbito de atuação, à geografia onde se inserem, ao tipo de cliente e ao perfil de pessoas que estão à frente de cada uma dessas áreas. Por vezes, é um grande desafio conseguir o tão desejado equilíbrio entre a vida familiar e a profissional, pois sou exigente comigo própria e com as minhas equipas, mas acredito que, ao estar rodeada por bons profissionais, facilita imenso o trabalho do gestor e, no final do dia, consigo encontrar espaço e tempo para a minha vida pessoal.
Como administradora no Grupo Nabeiro, tutela as áreas estratégicas da Sustentabilidade e Recursos Humanos. Podemos considerar que a sua experiência em sustentabilidade é a pedra de toque para ter sido escolhida para a presidência do BCSD?
As palavras sustentabilidade e respeito sempre fizeram parte do meu vocabulário, em particular no âmbito social, porque o meu avô Rui Nabeiro, fundador do Grupo Nabeiro, sempre nos incutiu esta forma de estar na empresa e na família. Cresci com uma noção clara sobre a importância da responsabilidade social, sobre o impacto positivo que podemos ter na vida das pessoas que nos rodeiam e especialmente na comunidade onde estamos inseridos. A Delta Cafés reflete a forma como entendemos a sustentabilidade e todas as suas variáveis. Talvez por isso, continue a ser reconhecida como “Marca de Confiança” pelas Seleções do Reader’s Digest há 23 anos consecutivos. É uma marca reconhecida pelos portugueses e que, ao longo dos anos, consolidou o seu posicionamento como referência no mercado, não apenas pela qualidade dos seus produtos (que não descuramos, naturalmente), mas igualmente pelo compromisso com práticas sustentáveis e amplamente responsáveis. Este compromisso reflete-se também, por exemplo, no estudo da Merco, que destaca a Delta como uma das empresas líderes na área da sustentabilidade, reconhecendo a sua dedicação ao integrar soluções inovadoras que impactam positivamente o meio ambiente e a sociedade.
Não obstante, a minha atenção e interesse sobre estes temas foram aumentando ao longo das duas últimas décadas, devido, em particular, à minha proximidade com a atividade agrícola da Adega Mayor, que sofre, como sabemos, impactos diretos das alterações climáticas e que afetam significativamente as condições de cultivo das vinhas, como o processo de produção do vinho. Em 2015, integrámos o PSVA (Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo), uma iniciativa da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, que promove práticas sustentáveis na produção de vinho. Este programa é um exemplo de referência em sustentabilidade no setor dos vinhos, tanto a nível nacional como internacional. Em 2022, a Adega Mayor obteve a certificação em produção sustentável e, através do compromisso Act4Nature, promovido pelo BCSD, está, neste momento, a concluir a conversão da área total de vinha para modo de produção biológico.
O BCSD Portugal é uma organização focada na promoção do desenvolvimento sustentável nas empresas e, na qualidade de administradora executiva responsável por estas áreas no Grupo Nabeiro, tive o privilégio de integrar a última direção presidida pelo António Pires de Lima. Reconhecendo o meu envolvimento e compromisso com estas questões, o António desafiou-me a assumir a liderança do BCSD, sucedendo-o agora no cargo de presidente. O objetivo mantém-se: continuar a servir a associação e os seus associados. O legado da última direção é sólido, tornando o BCSD numa associação mais forte, mais representativa e mais influente.
O que pretende trazer para este mandato na associação? Há alguma coisa a fazer para melhorar a jornada das empresas na sustentabilidade?
Neste mandato, partimos de uma base sólida deixada pela direção anterior, que reforçou o papel da associação como uma forte referência na sustentabilidade empresarial. O meu compromisso é dar continuidade ao bom trabalho realizado até aqui, aprofundando o impacto através de três pilares estratégicos, nomeadamente na capacitação e conhecimento para a transformação; na influência estratégica e compromisso com o futuro; na promoção da inovação e colaboração para um impacto positivo, destacando ainda dois eixos transversais de atuação, especificamente através de uma comunicação estratégica e de uma coerência institucional com os princípios da sustentabilidade.
Queremos reforçar o papel do BCSD Portugal enquanto voz de referência na sustentabilidade corporativa. Queremos estar mais próximos dos nossos associados, promovendo a partilha ativa de conhecimento, criando pontes entre empresas e sendo um parceiro de excelência na definição de políticas públicas no âmbito da sustentabilidade. Ao mesmo tempo, queremos continuar a criar valor económico, continuar a apoiar e dotar as empresas com ferramentas práticas, formação e orientação estratégica para integrar os critérios ESG nas suas decisões, mesmo num contexto de adiamento da aplicação da CSRD. A inovação, nomeadamente a tecnologia e a inteligência artificial, serão essenciais para acelerar a transformação e desburocratizar processos.
Se o greenwashing continua a ser um desafio real, hoje enfrentamos também o fenómeno do greenhushing — o receio de comunicar ações sustentáveis por medo de críticas ou escrutínio. É urgente promover uma cultura de transparência e comunicação responsável, onde as empresas se sintam seguras e encorajadas a partilhar o seu progresso, mesmo que ainda em fase de aprendizagem. Vivemos um tempo de transformação profunda, marcado pela convergência de crises — climática, social, económica e geopolítica — que está a redefinir o papel das empresas na sociedade. O planeta e as gerações futuras exigem de nós uma visão clara, uma ação urgente, mas coerente. Os desafios que enfrentamos pedem mais do que intenções: pedem liderança, compromisso e coragem para atuar com responsabilidade e impacto.
A revista Economist fez uma capa que dizia ESG: Three letters that won’t save the planet. Começam a surgir dúvidas sobre a eficácia dos requisitos ESG. São dúvidas fundadas?
O artigo da revista The Economist aponta algumas das vulnerabilidades e incoerências da abordagem ESG (ambiental, social e de governação), falando do nível de complexidade e exigência para as empresas e da falta de foco para a resolução do ponto mais urgente e quantificável da crise ambiental, nomeadamente as emissões de carbono. O conceito ESG enfrenta desafios na sua aplicação. Muitas vezes, as métricas não são uniformes, a informação reportada pelas empresas é difícil de comparar e os resultados nem sempre correspondem às metas estabelecidas. Os requisitos ESG surgiram para avaliar o desempenho ético e sustentável das empresas. Trata-se de uma abordagem sistémica e não unidirecional, o que, no meu entender, é um caminho necessário, pois muitos dos temas e crises do mundo atual estão interligados. O facto de existir espaço de melhoria não invalida o seu valor — apenas reforça a necessidade de tornar os critérios mais claros, mais rigorosos e mais orientados para o impacto real. O debate é saudável e pode ser um catalisador de muitas melhorias.
Acredita que, no futuro, os bancos vão penalizar as empresas “castanhas” nos financiamentos?
É cada vez mais provável que os bancos venham a penalizar as empresas com maior pegada carbónica, nomeadamente as “castanhas”, nos seus critérios de financiamento. Esta tendência já se começa a verificar, com muitas instituições financeiras a aplicar taxas de juro mais elevadas a empresas poluentes e a restringir o apoio a quem não esteja alinhado com metas ambientais, como as do Acordo de Paris. No entanto, esta prática tem sido bastante assimétrica a nível mundial. Os EUA são o segundo país emissor de dióxido de carbono para a atmosfera, e a administração Trump já anunciou que irá fazer regredir muitas políticas de proteção ambiental e reforçar a aposta nos combustíveis fósseis. Embora esta prática ainda não seja universal, acredito que o caminho aponta claramente para um sistema financeiro que valoriza a sustentabilidade e penaliza o risco climático.
Concorda que é preciso retirar CO₂ da atmosfera para atingir as metas climáticas? O que propõe o BCSD para ajudar as empresas?
Há um consenso crescente entre cientistas e entidades internacionais — como o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) — de que não basta reduzir as emissões de CO₂, mas também será necessário remover dióxido de carbono da atmosfera e regenerar o planeta para atingir as metas climáticas, sobretudo a neutralidade carbónica até 2050. No contexto da BCSD Portugal, essa necessidade é reconhecida e integrada nas propostas e orientações que a organização disponibiliza às empresas. O BCSD Portugal propõe um conjunto de ações para apoiar o setor empresarial neste desafio, entre as quais se destacam as sessões temáticas de contexto e tendências; de redução de emissões e das diferenças entre net zero e neutralidade carbónica.
Como é trabalhar na empresa da família? Porque é que escolheu o ramo dos vinhos e não o dos cafés?
Acredito que, por vezes, alguns caminhos nos escolhem. Iniciei o meu percurso profissional numa empresa de design e comunicação fora do Grupo Nabeiro. Na altura, apresentei uma proposta de criação de identidade para o que viria a ser a Adega Mayor. Acabei por integrar o departamento de marketing da Delta Cafés, mas a Adega Mayor era um projeto muito interessante. Fomos pioneiros ao desafiar o arquiteto Siza Vieira para desenhar a nossa adega. Era um projeto atrativo do ponto de vista interno e externo e que marcou o panorama vitivinícola nacional com a sua inauguração, em 2007. E isso era uma apetecível e desafiante página em branco, onde tive a possibilidade de colocar o meu cunho. Comecei por trabalhar a marca ao lado do meu avô e fui ganhando gosto por esta área e por um produto que está fortemente enraizado na cultura portuguesa. É um mercado extremamente concorrencial e, por isso, muito desafiante. Mas também por isso interessante. O trabalho nunca está concluído.
O mercado do vinho vive muito das exportações, não é assim? A atual conjuntura de “guerra comercial” pode prejudicar o setor? Há caminhos alternativos?
Numa guerra comercial, haverá sempre danos colaterais. A administração Trump está a impor tarifas na ordem dos 20% a vinhos provenientes da União Europeia, incluindo Portugal. Trata-se de um setor no qual os Estados Unidos foram, em 2024, o segundo maior destino das exportações em valor, equivalente a 10% do total. Haverá sempre outras alternativas a explorar, mas poderemos assistir a países como a França, Itália e Espanha a procurar os mesmos pontos de fuga do protecionismo americano. A competição poderá levar muitos produtores a baixar preço e destruir valor, mas também poderá obrigar a uma reinvenção na forma de fazer.
A indústria do vinho enfrenta desafios (climáticos, económicos, saúde)?
Podemos afirmar que os desafios são de várias ordens. A nível climático, existe uma crescente imprevisibilidade atmosférica na viticultura, com fenómenos extremos, secas e alterações na temperatura que comprometem a qualidade das uvas e a viabilidade de muitas regiões produtoras — estima-se que até 70% das atuais zonas vinícolas possam tornar-se impróprias se o aquecimento global ultrapassar os 2 °C. A nível do consumo, assistimos a uma quebra no consumo, com as gerações mais jovens a afastarem-se do vinho por razões de saúde, mudanças de estilo de vida e perceções culturais. Perante este cenário, a indústria tem vindo a adaptar-se com castas geneticamente mais resilientes, inovação na produção e diversificação na oferta de produtos.
Faz parte das sete mulheres portuguesas que constam do ranking da Merco Líderes, que avaliou em 16 países a importância da liderança feminina no cenário empresarial global. Tem orgulho em estar nesse ranking? Considera que está a contribuir para afirmar a liderança feminina nas empresas?
Foi com um misto de surpresa e alegria que recebi a notícia de que constava no ranking da Merco Líderes. Mais do que um reconhecimento pessoal, vejo-o como um sinal, um reflexo positivo do caminho que estamos a percorrer, onde cada vez mais mulheres assumem posições de liderança nas empresas. Se, com o exemplo do meu percurso, conseguir inspirar outras mulheres a acreditarem na importância do seu papel e lugar nas empresas, então sinto que já estou a contribuir para uma liderança mais inclusiva, diversa e equilibrada.
O que salienta no exemplo do seu avô enquanto gestor? Qual foi o toque de Midas que a contagiou?
Enquanto gestor, o meu avô destacou-se sempre pela forma sensata e equilibrada como geria os seus recursos. Tinha a coragem de arriscar quando necessário, sem ser despesista — sabia controlar os custos com rigor, analisando tudo ao detalhe, sem perder de vista o essencial. Investia nas pessoas e nos seus clientes com confiança, reconhecendo que o capital humano era o verdadeiro motor para o sucesso. Cuidava bem das suas equipas, fazendo com que todos se sentissem valorizados, o que, naturalmente, se traduzia numa maior motivação e compromisso. A sua relação com os stakeholders e clientes era exemplar: próxima, pessoal e pautada por uma integridade que gerava confiança e deixava uma marca profunda.
O sucesso do grupo deve-se à continuidade dos valores do fundador Rui Nabeiro?
Acredito que sim, mas não só. Os valores e a forma de estar são algo que nos distingue e que queremos que assim se mantenha. Mas o sucesso depende de múltiplos fatores – desde a profissionalização das nossas equipas, nas mais diversas áreas, atraindo talento e competências, passando por uma crescente diversificação do negócio na área da distribuição, representando marcas de prestígio, como a AB InBev, e uma clara aposta na inovação e na internacionalização da marca. Na base, acredito que esteja a sustentabilidade como fator diferenciador. Sabemos que é um critério fundamental, não apenas em questões relacionadas com a competitividade, mas também na construção de um legado positivo para as gerações futuras. É o nosso dever.
Atualmente, o grupo é uma empresa familiar. Vê o grupo a continuar a ser um grupo familiar nas próximas décadas? É um caminho mais difícil ou mais fácil ser empresa familiar? Nomeadamente em termos de regras de governance?
Gostaria que o grupo continuasse a ser uma empresa familiar nas próximas décadas, pois trata-se de um projeto ao qual o meu avô Rui e a minha avó Alice dedicaram as suas vidas, e que representa o legado e os valores que eles construíram com tanto empenho e dedicação. É esta a origem fundadora. Hoje, é uma love brand em Portugal e com um impacto muito significativo nas comunidades onde está inserida, nomeadamente em Campo Maior.
A dimensão familiar dá-nos uma visão de longo prazo, um sentido de responsabilidade intergeracional e uma forte ligação ao território. Construímos uma cultura muito própria e isso acarreta desafios muito específicos, sobretudo quando falamos de crescimento, sucessão e governance. Acredito que estamos no bom caminho, hoje, com o meu pai, enquanto presidente do Conselho de Administração e o meu irmão como CEO do Grupo Nabeiro. Trata-se de um caminho que exige maturidade, regras claras e uma gestão profissionalizada, combinando os valores partilhados com as melhores práticas de governação. A transparência, o respeito e a separação clara entre os papéis da família e da gestão são fundamentais para garantir a sustentabilidade do projeto a longo prazo.
Que marca gostaria de deixar nas instituições que gere?
Na origem encontramos o futuro, é o mote da comunicação interna do Grupo Nabeiro. Apesar de paradoxal, acredito muito nesta frase, porque encerra em si um respeito profundo pela minha origem familiar, pelo Alentejo, por Campo Maior, pelas pessoas que nos ajudaram a chegar onde estamos hoje. Transporta valores sólidos como a humanidade, a humildade e o respeito, sem colocar em causa a inovação e o desenvolvimento. Gostaria de deixar uma marca de abertura e proximidade, de tolerância, aliada à criatividade. Onde a dimensão criativa está ao serviço da reinvenção de modelos económicos inclusivos, que crie soluções em que o planeta e as pessoas possam fazer diferente, fazer melhor, criando soluções que beneficiem todos e cada um.
Concorda que é preciso dimensão nas empresas da Europa para serem competitivas, como disse Draghi?
A dimensão das empresas pode ser, de facto, um fator importante para a competitividade no cenário global, como sublinha o Relatório Draghi. A necessidade de uma política industrial mais coordenada e de investimentos estruturais robustos é clara, especialmente se a Europa quiser acompanhar potências como os EUA ou a China.
No entanto, o tamanho não é tudo. Muitas pequenas e médias empresas (PME) europeias têm demonstrado uma enorme capacidade de inovação, flexibilidade e adaptação — qualidades cruciais num mundo em rápida e permanente mudança. Consumidores viram-se para uma economia de escala onde o “small is beautiful” é valorizado. Na minha opinião, uma aposta exclusivamente no crescimento em escala pode comprometer modelos sustentáveis e locais que são, em si mesmos, grandes ativos da economia europeia.
Disse recentemente que “precisamos do meio-termo e das pontes de diálogo entre as pessoas. Estamos numa sociedade cada vez mais extremada.” Como é que se podem criar essas pontes?
Vivemos tempos marcados por uma crescente polarização social, alimentada pela ausência de diálogo, pela intolerância, pelo medo da diferença e pela falta de respostas concretas aos problemas que afetam o quotidiano de grande parte da população. Para contrariar esta tendência e reconstruir pontes de entendimento, é essencial valorizar uma comunicação assente na escuta ativa e no respeito pelas diferenças, privilegiando aquilo que nos une, em vez daquilo que nos separa. Esta mudança deve começar dentro de casa, ser reforçada nas escolas e cultivada por instituições que promovam o pensamento crítico e a empatia, formando cidadãos mais abertos, conscientes e dialogantes. Precisamos do poder transformador das histórias reais — narrativas que humanizam, derrubam estereótipos e ajudam a desconstruir preconceitos enraizados.
Está otimista em relação ao futuro do país? O que gostava que melhorasse?
Acredito que o país continua a enfrentar desafios estruturais importantes. Um dos mais preocupantes é a crescente perda de confiança na classe política, especialmente num contexto em que, no espaço de apenas quatro anos, os portugueses foram chamados às urnas para escolher quatro governos diferentes. Esta instabilidade mina a credibilidade das instituições e dificulta a construção de uma visão de longo prazo. A instabilidade política cria instabilidade social e também económica. É fundamental promover uma cultura de maior transparência, eficiência administrativa e responsabilidade a vários níveis. Em áreas críticas e em projetos estratégicos para o futuro do país, devemos conseguir garantir a continuidade de políticas e compromissos, independentemente das mudanças de governo.
Disse recentemente que chegou a ter o sonho de ser arquiteta. É por isso que pediu a Siza Vieira um projeto para a Adega Mayor? A arquitetura e a estética estão muito presentes no seu dia-a-dia?
Antes de ser designer, pensei em ser arquiteta. Enveredei pela primeira opção, mas a estética é transversal a ambos. No caso da arquitetura, aplica-se a espaços aliado ao uso e à funcionalidade. No primeiro, a muito do que vemos e tocamos. Acredito que precisamos de beleza no nosso dia-a-dia, como forma de encontrar sentido, harmonia e elevação num mundo por vezes caótico e incerto. A arquitetura e o design são responsáveis por muitos destes aspetos essenciais e quase invisíveis no nosso dia-a-dia. A estética, sem ser no seu sentido supérfluo, desperta em nós algo que vai além da razão. É por isso que a arte é tão importante nas nossas vidas.
Qual a sua citação preferida?
“Depois de termos conseguido subir a uma grande montanha, só descobrimos que existem ainda mais grandes montanhas para subir.” A frase pertence a Nelson Mandela, um líder que admiro muito e aplica-se às muitas dimensões da vida e da sociedade. À nossa capacidade de resistência e resiliência, tão importante e necessária nos tempos que vivemos.
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