[weglot_switcher]

Robótica vai ser decisiva para reindustrializar Portugal

Líderes de empresas que desenvolvem robôs e sistemas de automação defendem que estas tecnologias vão ser cruciais para reindustrializar Portugal e a Europa no pós-pandemia. Robôs já fazem muitos trabalhos que os humanos não querem, dizem.
11 Julho 2020, 14h00

A robotização e a automação da indústria é uma oportunidade para tornar as empresas portuguesas mais competitivas e para resolver o problema da falta de mão de obra que existe em vários setores de atividade, segundo vários especialistas que desenvolvem robôs e sistemas de automação, ouvidos pelo Jornal Económico (JE). Os mesmos responsáveis defendem que a robotização é necessária para reindustrializar o país no pós-pandemia e que, naqueles casos em que, de facto, as máquinas substituam os seres humanos, é necessário requalificar esses trabalhadores, para que possam ter empregos menos exigentes fisicamente e gozar de uma melhor qualidade de vida.

Em Portugal, as empresas que trabalham neste setor têm evoluído a passos largos e competem com os vizinhos europeus, não só pela qualidade do talento nacional, mas também pela flexibilidade que demonstram em abraçar projetos fora de portas. Para Nuno Mineiro, presidente executivo da Roboplan, “existe a necessidade de uma reindustrialização” que saiu reforçada depois do impacto da pandemia de Covid-19 no setor.

Nuno Mineiro explica ao JE que “a Europa, em geral, apercebeu-se que há determinadas coisas que, por serem tão essenciais, não é boa ideia depender de um favor ou de uma crise, como a produção de máscaras ou outro tipo de equipamentos de segurança. Desta perspetiva e, se as coisas forem levadas para esse lado, haverá investimento a nível industrial, porque funções de baixo valor acrescentado implicam que tenham de ser automatizadas, senão correm o risco de se tornarem inviáveis”. Empresas que já tinham iniciado processos de automação ficaram de certa maneira protegidas do impacto real da pandemia.

 

Reduzir a dependência e colmatar lacunas
Para o presidente executivo da Roboplan, não há dúvida que as empresas mais automatizadas e menos dependentes do fator humano “podem, numa situação destas, quase não ser afetadas, e isso provavelmente terá consequências para haver um maior grau de automação, com o objetivo de evitar este tipo de problemas”.

 

Robôs já fazem muitos trabalhos que os humanos não querem fazer
Nuno Mineiro rejeita que os robôs venham substituir os humanos. “Há muitas tarefas que ninguém quer fazer, não há mão de obra para as fazer, ninguém quer trabalhar em ambientes tóxicos, em temperaturas negativas ou muito altas, ou expostos a todo o tipo de coisas agressivas para o ser humano. Portanto, há todo um grau de automação nesse tipo de tarefas que não está a tirar o trabalho a ninguém, porque não há quem as faça, ou melhor, quem as faz fá-lo de forma contrariada”.

Para António Conde, presidente executivo da Consoveyo, o receio de perder o emprego para um sistema de automação acaba por ser natural, tendo em conta o sentido da opinião pública e o estigma ainda muito presente.

“Não há dúvida que um trabalhador que esteja hoje num armazém logístico completamente manual que vai ser automatizado, fique apreensivo e tenha receio de perder o posto de trabalho. Mas, o que se verifica, é que não há de facto uma perda de postos de trabalho, mas uma transformação, ou seja, um trabalhador que esteja habituado a manipular cargas, que é um trabalho difícil e pouco nobre para o ser humano, é requalificado para operar uma máquina. Nós essencialmente transformamos trabalhos mais difíceis ou mais pesados para o trabalhador, em funções nas quais o ser humano pode fazer a diferença”.

Entre os clientes internacionais da Consoveyo, destaca-se a Coca-Cola Company, e entre os clientes nacionais a empresa de transportes Luís Simões. António Conde considera o mercado português pequeno, mas “um dos mais avançados da Europa”.

A pandemia de Covid-19 trouxe coisas positivas e negativas à empresa, mas o presidente executivo da Consoveyo destaca que os clientes foram dando sinais de que a “implementação da automação e robótica vai sair reforçada, porque a pandemia trouxe ao de cima a questão do tipo de trabalho que se faz hoje num armazém completamente manual”.

O acesso ao talento é o maior desafio para o setor segundo António Conde: “até há uns anos, tínhamos abundância de mão de obra disponível, mas começa a ser mais difícil ter acesso ao talento, e nós, enquanto empresa de engenharia, automação e robótica, temos de estar, para o bem da nossa sobrevivência, na berlinda da tecnologia. Daí o acesso ao talento e a recursos altamente qualificados ser absolutamente crucial”.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.