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Rui Pinto terá acedido aos emails de advogados do departamento para Angola da PLMJ

“Entre 2012 e 2015 eu era o responsável pela ligação do escritório a Angola. Os advogados portugueses não podem exercer em Angola, por isso o meu papel era um pouco limitado”, explicou o sócio Pedro Metello de Nápoles.
Getty Images
3 Novembro 2020, 19h54

O ataque ao sistema informático da sociedade de advogados PLMJ imputado a Rui Pinto abrangeu também membros ligados ao departamento específico do escritório para Angola, segundo os depoimentos desta terça-feira de duas testemunhas no julgamento do processo ‘Football Leaks’.

Denominado ‘Angola desk’, esta unidade da PLMJ teve como sócio responsável o advogado Pedro Metello de Nápoles, que foi ouvido na 20.ª sessão do julgamento em curso no Tribunal Central Criminal de Lisboa. “Entre 2012 e 2015 eu era o responsável pela ligação do escritório a Angola. Os advogados portugueses não podem exercer em Angola, por isso o meu papel era um pouco limitado”, explicou.

A testemunha, que elencou os membros então pertencentes ao ‘Angola desk’, foi também questionada sobre possíveis ligações à esfera do ‘Football Leaks’, mas também do ‘Luanda Leaks’, que expôs em janeiro de 2020 alegados esquemas financeiros da empresária Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que lhes terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano através de paraísos fiscais. Contudo, evitou pronunciar-se sobre essas matérias.

“Acho que não consigo responder a essa questão sem pensar em clientes concretos, por isso, prefiro não responder, até por uma questão de sigilo profissional. Prefiro não falar”, justificou Pedro Metello de Nápoles, numa resposta semelhante à de muitos outros advogados da PLMJ perante o coletivo de juízes presidido por Margarida Alves.

A conexão ao departamento da sociedade para Angola ficou ainda patente na audição de hoje da advogada Joana Marques dos Reis, que entrou para a PLMJ em 2014 e integrou até ao mês passado o ‘Angola desk’. Ato contínuo, frisou também não se poder pronunciar sobre a possível existência de material relacionado com o ‘Football Leaks’ ou o ‘Luanda Leaks’ no seu computador ou na sua caixa de correio eletrónica.

Joana Marques dos Reis foi ainda a primeira testemunha a precisar com exatidão a data da reunião realizada na sociedade – 28 de janeiro de 2019 – para dar conta aos advogados da extensão da intrusão no respetivo sistema informático, em resposta a uma questão já por diversas vezes colocada pela defesa de Rui Pinto.

Foram também ouvidos de tarde mais cinco advogados ligados à PLMJ: Diogo Perestrelo, Pedro Silva, Patrícia Mendes, Lin Man e Ricardo Oliveira.

Para esta quarta-feira estão agendadas as audições do ex-administrador da Doyen Sports, Nélio Lucas, bem como do advogado Pedro Henriques, igualmente ligado ao antigo representante do fundo de investimento.

Rui Pinto, de 31 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.

O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.

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