A forma como Rui Rio tem vindo a liderar o PSD parece colocar em causa se o segundo partido mais votado nas legislativas de 2019 é, de facto, o principal partido da oposição em Portugal. Na realidade, a salvaguarda do interesse nacional – um objetivo nobre e que deveria ser comum a todos os partidos, inclusivamente ao que governa – não pode justificar que Rui Rio se mostre disponível, com uma frequência a tender para a regra, para secundar os atos do executivo de António Costa.

Os politólogos que se têm debruçado sobre o estudo da forma de atuação da oposição, designadamente Robert Dahl e Peter Mair, apresentam tipologias que, grosso modo, contemplam três modalidades. A primeira, denominada como clássica e que constitui a forma habitual em democracia, consiste na oferta por parte do principal partido da oposição de alternativas face à prática governativa.

Se Rui Rio seguisse esta modalidade, diria que reconhecia a António Costa legitimidade para liderar o país, uma vez que tinha vencido as legislativas, mas que se considerava em condições de apresentar um modelo diferente e passível de defender de forma mais eficaz o interesse nacional. Raras vezes, se alguma, tem sido essa a estratégia de Rio. Daí que o PSD não consiga assumir-se como alternativa apesar dos sucessivos casos que têm ensombrado a governação socialista.

Quanto à segunda modalidade, a designada oposição de princípios, põe em causa não apenas o Governo em funções, mas também todo o sistema de governança. Uma forma de dizer que não reconhece legitimidade aos detentores do poder. Uma atitude que é habitual entre os partidos antissistema. Algo que não se ajusta ao PPD/PSD. Por isso, Rio não recorre a esta forma de oposição deixando-a para os populistas ditos de esquerda ou, em tempos mais recentes, de direita.

Finalmente, os politólogos mencionam uma terceira forma de fazer oposição. Uma estratégia que Dahl designa como eliminação da oposição. Uma denominação estranha e que assenta na cartelização dos partidos. Uma situação que é fruto do desaparecimento de diferenças substantivas entre os partidos e que apenas deixa campo para a oposição a personalidades, uma vez que a democracia representativa, a partir do último quartel do século XX, passou a assentar em partidos de cartel que se alimentam sobretudo de fundos do Estado.

Será esta a estratégia que está a ser seguida por Rui Rio? Será que o seu apelo latente ao regresso do bloco central se insere numa linha que desvaloriza a diferença ideológica entre o PS e o PSD? Será por isso que viabilizou o fim dos debates quinzenais que obrigavam o primeiro-ministro a ser questionado na Assembleia da República? É em nome da cartelização que aceita uma repartição com António Costa da nomeação dos presidentes das CCDR?  Afinal, como o próprio faz questão de afirmar publicamente, só a admiração pelo projeto partidário preconizado por Francisco Sá Carneiro explicou que não se tivesse filiado no PS.

Face ao exposto, talvez convenha a Rui Rio perceber que a modalidade de oposição que escolheu ameaça perpetuar António Costa no Poder. De facto, em contradição com a postura de Rio, o primeiro-ministro logrou fazer passar a mensagem de que a alternativa em Portugal passa pela opção entre o centro-esquerda, liderado pelo PS, e o centro-direita liderado pelo PSD. Que esta dicotomia seja uma falácia face à inexistência dos mencionados blocos é algo que, obviamente, não incomoda Costa.

Por isso, os portugueses cujo voto oscila entre o PS e o PSD já não calam  a saudade dos tempos em que a cor laranja sabia aproveitar o rosa desbotado.