Rui Tavares tem-me feito pensar. Se ele é o mais culto dos candidatos, se aparenta ser o mais bem preparado, se é o que consegue à esquerda tornar as pontes e entendimentos uma realidade possível, se é o que transforma os debates em espaços onde se discute política e se é o que relembra os temas esquecidos, por que raio não voto no Livre?
O que tem o Rui Tavares para, sendo tão acintosamente melhor do que os outros, não mereça um voto expressivo? Um voto que, ainda por cima, ajudaria a representar no parlamento uma corrente europeísta de uma esquerda ecológica e responsável?
A resposta óbvia é a do desconhecimento do Livre enquanto partido, não fazemos ideia de quem são os outros e as outras, desconhecemos o modo como pensam e é legítimo que perguntemos se o Livre não será, sob a capa de um exacerbado coletivo, um partido ao serviço de uma pessoa. É uma resposta óbvia, mas que não faz qualquer sentido, há partidos que começam por ser de uma pessoa e nem por isso deixam de crescer e até de se impor – não será necessário dar exemplos.
A jornalista Cândida Pinto perguntou-lhe na RTP da última vez que escrevera uma carta de amor. E Rui Tavares, surpreendido pela questão, deu uma resposta que não consegui reter. Não me lembro de nenhuma palavra que tenha dito. Percebi aí o problema essencial, a falta de empatia. Louçã tinha um problema semelhante, mas no Bloco de Esquerda existia o Miguel Portas que carregava empatia suficiente para a distribuir por quem precisasse.
Rui Tavares faz-me lembrar aqueles miúdos da escola sempre de dedinho espetado, sempre a saberem todas as respostas, sempre a sacarem as melhores notas e sempre com dificuldade em arranjar amigos no recreio. Isto não é uma crítica ao líder do Livre, é até o contrário, uma constatação sobre o triste funcionamento dos recreios humanos.
Ele é o que nos debates, e nos círculos de poder, trata todas as pessoas por tu. É o que todos respeitam pela inteligência, ideias, cultura, retórica e compromisso, mas depois é o que fica à porta nos momentos decisivos porque quem vota decide fazê-lo nos que bebem o “vinho” e não nos que falam sobre cada um dos rótulos, sobre cada uma das colheitas e sobre cada bochecho.
Rui Tavares tem excesso de habilitações para ser líder político. Não as habilitações académicas, que também as tem, mas as outras, as que obrigam quem está com ele a ter cuidado com as palavras por à sua frente poderem ser corrigidos. Ninguém gosta do Sabichão do jogo das perguntas, é um chato que está sempre a apontar para a nossa ignorância.
Talvez seja esse o problema de Rui Tavares. Aplaudimo-lo, mas não almoçamos com ele. Torcemos para que entre, mas somos incapazes de votar. Abraçamo-lo, mas sem paixão. Compramos-lhe um carro, mas não pedimos entradas nem digestivo se com ele almoçamos. Porém, se eu fosse primeiro-ministro de um governo do PS ou do PSD convidava-o para ministro da Cultura. E ele, aposto, saberia estar à altura.