No universo corporativo, a palavra inovação é omnipresente. Surgem hubs de inovação, programas de aceleração, laboratórios criativos e eventos dedicados ao tema em praticamente todas as grandes empresas. Contudo, segundo a investigação académica e as práticas consolidadas de consultoras de renome, muito do que se autoproclama “inovação” é, na verdade, pouco mais do que ruído, sem qualquer impacto transformador no negócio.

Peter Drucker, referência maior da gestão, já alertava que a inovação não é apenas criatividade ou novidade, mas um processo sistemático capaz de gerar valor económico. No contexto corporativo, Drucker defendia que inovar é encontrar novas formas de converter recursos em resultados, criando vantagens competitivas sustentáveis. Esta visão é corroborada pelo pensamento seminal de Joseph Schumpeter, que posicionou a inovação como motor da “destruição criativa”, através da qual empresas capazes de transformar conhecimento em aplicações comerciais reformulam indústrias inteiras.

As grandes consultoras ajudam a separar o que é efetivamente inovação corporativa do que são iniciativas meramente cosméticas. A McKinsey, no seu estudo “The eight essentials of innovation”, identifica fatores determinantes para a inovação empresarial bem-sucedida: visão clara, liderança comprometida, cultura favorável ao risco, e mecanismos de aprendizagem rápida.

A consultora alerta para a ilusão do “teatro da inovação”, onde eventos internos, design thinking sem aplicação prática e investimentos em tecnologia de vanguarda geram perceção de modernidade sem retorno financeiro. Para a McKinsey, inovação corporativa é medida em crescimento de receita, aumento de margem ou expansão para novos mercados — não em ações simbólicas.

A Boston Consulting Group (BCG) reforça esta abordagem pragmática. No seu relatório “Most Innovative Companies”, a BCG destaca que as empresas mais inovadoras não apenas desenvolvem novos produtos, mas também reinventam modelos de negócio e cadeias de valor. Segundo a consultora, inovação que gera impacto assenta num pipeline equilibrado de iniciativas incrementais e transformacionais, sendo impulsionada por decisões estratégicas alinhadas com objetivos comerciais tangíveis.

A academia e os organismos internacionais oferecem também balizas claras. O Manual de Oslo da OCDE, documento de referência na medição da inovação empresarial, define inovação como a implementação efetiva de novidades com impacto significativo. Ou seja, não basta criar protótipos ou testar ideias; é necessário que estas se materializem em mudanças concretas em produtos, processos, marketing ou organização, e que tragam valor económico real. Melhorias marginais ou práticas de benchmarking dificilmente se qualificam como inovação sob este critério rigoroso.

Por outro lado, a Gartner alerta as empresas para o “hype cycle”, um fenómeno que retrata como muitas tecnologias emergentes são rapidamente glorificadas, apenas para depois atravessarem uma fase de desilusão. A inovação corporativa não reside na simples adoção de tecnologias da moda, mas na sua aplicação estratégica para resolver problemas relevantes ou criar novas oportunidades de negócio.

Empresas como Amazon, Apple e Tesla são frequentemente citadas como referências porque usam a inovação para alterar profundamente a sua proposta de valor e o funcionamento dos setores em que atuam. Não são apenas criadoras de produtos novos, são arquitetas de novas formas de competir.

Para as empresas que querem ser verdadeiramente inovadoras, a lição é clara: inovação corporativa é um compromisso estratégico, não uma tendência passageira. Exige liderança determinada, foco em resultados e uma cultura organizacional aberta à transformação. O verdadeiro desafio não é apenas inovar, mas inovar com impacto mensurável no crescimento e na competitividade empresarial. Tudo o resto é apenas ruído.