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Rússia desiste de levar a votação “resolução humanitária” na ONU

O embaixador da Rússia nas Nações Unidas informou que não levará a votação esta sexta-feira a sua proposta de resolução “humanitária” sobre a Ucrânia, um projeto que, segundo diplomatas, estava já “condenado”.
17 Março 2022, 22h35

O embaixador da Rússia nas Nações Unidas, Vasily Nebenzya, informou que não levará a votação na sexta-feira a sua proposta de resolução “humanitária” sobre a Ucrânia, um projeto que, segundo diplomatas, estava já “condenado”.

“Decidimos, nesta fase, não pedir uma votação sobre o nosso projeto, mas não estamos a retirar o projeto de resolução”, indicou o embaixador russo em declarações no Conselho de Segurança da ONU.

Ainda segundo Nebenzya, a Rússia aproveitará para pedir para esta sexta-feira de manhã uma reunião de emergência para discutir novamente alegados “laboratórios biológicos” na Ucrânia, afirmando ter “novas provas” para apresentar.

Estados Unidos, Reino Unido, Albânia, França, Noruega e Irlanda convocaram a reunião de emergência de hoje do Conselho de Segurança da ONU, devido à deterioração da situação humanitária na Ucrânia.

A resolução “humanitária” sobre a Ucrânia elaborado pela Rússia foi visto por vários diplomatas como uma “hipocrisia”, tendo em conta que foi a própria Rússia a causar “esta guerra ilegal”, e pela falta de apoio o projeto estaria condenado ao fracasso.

O embaixador albanês, Ferit Hoxha, afirmou que a resolução russa é da “maior hipocrisia, do tamanho da Rússia”, e “deveria estar no livro de recordes do Guinness”.

A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse ter “ficado momentaneamente satisfeita” ao saber que os russos retiravam de votação a “sua ridícula resolução humanitária, que estava condenada ao fracasso”.

“Sabemos que, se a Rússia realmente se importasse com as crises humanitárias – aquela que criou – poderia simplesmente parar os seus ataques ao povo da Ucrânia”, disse.

“Mas, em vez disso, a Rússia quer convocar outra reunião do Conselho de Segurança para usar este Conselho como um local para a sua desinformação e para promover a sua propaganda”, acrescentou a diplomata norte-americana.

Thomas-Greenfield referia-se a uma sessão extraordinária do Conselho de Segurança que decorreu na semana passada, a pedido da Rússia, que aproveitou o espaço para alegar que a Ucrânia possui dezenas de laboratórios biológicos experimentais perigosos para criar agentes patogénicos, alegadamente financiados pelo Governo norte-americano.

Na ocasião, a Rússia foi acusada de convocar o Conselho de Segurança da ONU para difundir propaganda favorável ao Kremlin.

“Não esqueçamos que a Rússia é o agressor neste caso. São eles que estão a criar um pretexto para ataques ao seu próprio povo, e não podemos ser enganados pelos seus esforços aqui. Eles têm tropas dentro da Ucrânia. Eles estão a matar pessoas dentro da Ucrânia. Essa é a razão de estarmos aqui hoje, não para lidar com a propaganda deles”, reforçou hoje a diplomata norte-americana.

Por outro lado, Vasily Nebenzya afirmou que recebeu denúncias de aliados de que estariam a ser pressionados para não apoiar a sua resolução humanitária sobre a Ucrânia.

No discurso, o embaixador russo acusou ainda os países ocidentais de “alimentarem este conflito”, citando o armamento e o apoio financeiro multimilionário enviados pelos EUA à Ucrânia.

Vários dos diplomatas que discursaram hoje no Conselho de Segurança frisaram que cabe apenas à Rússia travar a matança que está a acontecer na Ucrânia.

“A Rússia é responsável pelo sofrimento que infligiu à Ucrânia e mais além. Só a Rússia pode acabar com esta guerra. (…) Se a Rússia realmente quisesse proteger mulheres e crianças, retiraria as suas tropas da Ucrânia e acabaria com essa invasão ilegal hoje”, apelou a embaixadora do Reino Unido da ONU, Barbara Woodward.

Embora admitindo que “os números reais são consideravelmente mais elevados”, a ONU confirmou hoje pelo menos 780 mortos e 1.252 feridos entre a população civil, incluindo várias dezenas de crianças.

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