Há sinais de melhoria da atividade económica em Portugal. Mas serão esses sustentáveis o suficiente para dar certezas às famílias? Segundo a consultora Baker Tilly, apesar destes indicadores económicos mais positivos, 2017 ainda apresenta um cenário “bastante incerto”.
Para a consultora “o equilíbrio de forças entre as políticas económicas e os fatores de ordem económica, a que se aliam o possível regresso de alguma instabilidade financeira, bem como das respetivas repercussões sob os níveis de confiança determinarão o cenário em 2017”.
A evolução da economia será determinante na gestão do orçamento das famílias neste ano. Assim, e através do estudo “Finanças pessoais 2017”, que atualmente já vai na sexta edição, a Baker Tilly pretende averiguar as tendências e expectativas de consumo dos portugueses, face aos constrangimentos anunciados para 2017. “Numa economia global em que os agentes sofrem uma permanente mutação torna-se essencial antecipar as reais expectativas e preocupações dos consumidores”, revela a consultora.
Para a Baker Tilly, o consumo privado tem um papel crucial no futuro económico do país. E, desse modo, “o comportamento dos consumidores nacionais será um indicador robusto do potencial de crescimento económico em 2017”. Isto até por causa do papel determinante que o consumo privado tem no crescimento do produto interno bruto (PIB) nacional.
Face às conclusões do ano anterior, há rubricas que se mantiveram praticamente inalteradas mas também há surpresas que dão também bons indicadores de como se vão comportar as famílias em relação às suas finanças pessoais este ano.
HORAS DE TRABALHO
Uma das componentes analisadas no estudo sobre finanças pessoais, da consultora Baker Tilly, é sobre as horas de trabalho dos portugueses. Os números demonstram que, no ano passado, a maioria dos participantes do estudo (83%) afirmou que trabalha mais de 40 horas semanais. Outro dos tópicos sobre o qual foram questionados foi sobre a adequação da remuneração ao número de horas trabalhadas. Também aqui, a grande maioria dos inquiridos (62%), considera não ser adequada. Este indicador estará muito provavelmente relacionado com a elevada carga horária a que os trabalhadores estão sujeitos atualmente nos seus empregos. No estudo, foram ainda questionados sobre a previsão de alteração do número de horas trabalhadas para este ano, e 81% dos inquiridos não prevê nenhuma alteração. Adicionalmente, de notar que a maioria dos indivíduos que respondeu e participou no estudo pertence ao setor privado (92%).
HABITAÇÃO
Portugal é um país de proprietários. Esta é uma das conclusões que se pode retirar do estudo da consultora Baker Tilly.
A maioria dos inquiridos é proprietário da sua casa, seja com empréstimo bancário (57%), ou sem empréstimo bancário, isto é, tendo a casa paga (15%). Relativamente ao ano anterior, verificou-se um decréscimo de 75% para 57% no número de inquiridos que são proprietários com empréstimo bancário. Além disso, 68% dos inquiridos, apresentou prestações mensais inferiores a 600 euros, mais cinco pontos percentuais face ao ano anterior. De notar também uma descida nas prestações entre 600 e 800 euros (de 26% para 19%). Os valores apresentados neste estudo são muito semelhantes aos verificados no inquérito do ano anterior, com a diferença de que não se registaram indivíduos com prestação mensal do empréstimo à habitação superior a 1000 euros.
Em termos de despesas relacionadas com a habitação, verificou-se que, tal como no ano anterior, que os inquiridos consideraram a renda e a luz como os encargos mais pesados relacionados com a habitação.
As despesas relacionadas com a água são apontadas como as menos pesadas. Neste estudo da Baker Tilly foi também levantada uma questão, numa tentativa de perceber a tendência do mercado imobiliário, através da predisposição das pessoas para mudarem de casa. Os números revelaram que, em 2016, 21% dos inquiridos pretendia mudar de casa. Um número que compara com os 35% do ano anterior.
RENDIMENTOS
Há menos portugueses que ganharam mais de 40 mil euros em 2016, sendo que a maioria da população ativa situa-se no segundo escalão. Estas são algumas das conclusões do estudo da Baker Tilly sobre finanças pessoais. De acordo com os números da consultora sobre o rendimento líquido anual dos inquiridos, no ano passado, verificou-se uma redução nos escalões de rendimentos superiores a 40 mil euros, tendo passado de 42% para 33%. O principal aumento registou-se no escalão de rendimento entre 30 mil e 40 mil euros, onde o número de inquiridos duplicou. De referir também que no escalão mais baixo, o número de inquiridos se manteve praticamente constante.
O estudo realizado pela Baker Tilly revela ainda que 18% dos inquiridos obteve em 2016 “mais de 50.000 euros” de rendimento. Sendo que o escalão ao qual a grande maioria dos inquiridos pertence é o de “entre 10.001 e 20.000 euros” anuais. No estudo foi também questionado se os inquiridos antecipam alguma alteração favorável no seu rendimento líquido anual em 2017, e a maioria (51%) respondeu que não. Em termos de origem do rendimento, para 31% dos portugueses, o rendimento líquido anual de 2016 não foi proveniente unicamente da sua fonte de rendimento principal. Comparativamente à composição do rendimento dos inquiridos no ano 2015, verificou-se uma diminuição significativa da percentagem de inquiridos que auferiram rendimentos adicionais à sua principal fonte de rendimento, passando de 69% para 31%. Quanto à manutenção destes rendimentos adicionais, 52% os inquiridos espera manter rendimentos extra.
ALIMENTAÇÃO
A alimentação é uma das rubricas mais relevantes para as famílias portuguesas. Já o era em 2015 e voltou a sê-lo em 2016 para os inquiridos no estudo sobre finanças pessoais. Os números demonstram que para 63% dos portugueses inquiridos neste estudo, a grande maioria (63%) revelou que as despesas com alimentação representam entre 11% e 30% do rendimento líquido anual, o que demonstra a clara importância e peso que esta despesa tem nos orçamento familiares. Para 13% dos participantes no estudo da Baker Tilly, esta despesa com a alimentação representou mesmo entre 31% e 40% da distribuição do rendimento líquido anual. Já para 7% dos portugueses a alimentação representou entre 41% e 50% do rendimento líquido anual. Apenas 3% dos inquiridos alocaram o rendimento em mais de 51% em alimentação.
Em termos absolutos, 37% dos inquiridos despendeu, em média, um valor mensal com a rubrica de alimentação “entre 251 e 400 euros”, sendo que a percentagem de inquiridos que gastou “mais de 400 euros” foi de 25% Ainda, em relação ao inquérito realizado no ano passado, denota-se que existiram poucas alterações na distribuição das respostas, reforçando assim o facto de a alimentação é uma rubrica basilar das despesas dos inquiridos no estudo.
CRÉDITOS
Os portugueses estão a pedir mais crédito e a endividarem-se. Essa tendência é assinalável no estudo da Baker Tilly. Os números demonstram que, no ano passado, 65% dos inquiridos tinha algum tipo de crédito. Isto representa um aumento assinalável face ao ano anterior em que estava equiparado o número de pessoas que tinham crédito e as que não tinham.
Dos inquiridos que possuem créditos, 66% possui crédito à habitação, 19% crédito ao consumo, 14% crédito automóvel e apenas 1% possui crédito à educação. O estudo destaca ainda o facto de, no ano passado, não terem sido registados inquiridos com crédito automóvel e à educação. Em termos de perspetivas para este ano, o crédito à habitação apresenta-se como sendo o mais importante para 81% dos inquiridos que esperam manter este crédito em 2017. Segundo a Baker Tilly, denota-se também uma ligeira descida em relação ao inquérito do último ano, na importância dada ao crédito ao consumo e ao crédito automóvel.
POUPANÇAS
Os portugueses estão a poupar mais e a destinar uma maior fatia do seu rendimento ao aforro. Segundo o estudo sobre finanças pessoais, realizado pela consultora Baker Tilly, em 2016 verificaram-se grandes alterações na rubrica da poupança relativamente ao ano anterior. Enquanto em 2015, 12% dos inquiridos para este estudo destinou 0% do seu rendimento à poupança, ou seja, não conseguiu fazer qualquer poupança, em 2016 este número diminuiu. Apenas 9% não conseguiu realizar qualquer poupança. A maior parte dos inquiridos continua a poupar entre 1% e 10% do seu rendimento, no entanto, assistiu-se a uma diminuição da percentagem de pessoas que poupa estes valores, tendo passado de 62% para 47%. No entanto, a percentagem dos inquiridos que consegue afetar entre 11% e 25% do seu rendimento para a poupança subiu face ao ano anterior. Os números mostram que, em 2015, eram 12% dos inquiridos que destinavam esta percentagem à poupança, enquanto no ano passado essa percentagem subiu para 27%. Por fim, o número de inquiridos que poupa entre 26% e 50% manteve-se nos 15% tal como no ano anterior.
DESPESAS
Os portugueses estão prudentes relativamente a este ano e, por essa razão, vão cortar nalgumas despesas. Segundo o estudo da Baker Tilly, 55% dos inquiridos prevê cortar em algumas das rubricas de despesa apresentadas anteriormente. Este número contrasta com o valor obtido no ano anterior, em que apenas 19% dos inquiridos esperava cortar algumas das rubricas identificadas. “Este indicador poderá ser reflexo de uma certa contenção por parte dos portugueses dada a incerteza económica que ainda se sente”, adianta a consultora.
O estudo revela ainda expectativas de redução de despesa para 2017, agrupando as variáveis consideradas anteriormente. Em primeira lugar verifica-se a reduzida expectativa de cortes por parte dos inquiridos em todas as rubricas. É, no entanto, visível que é no vestuário e calçado (17%), viagem (13%) e entretenimento (11%) que se prevê os maiores cortes. Entre as rubricas identificadas (ver gráfico) a habitação e a saúde são as despesas que menos inquiridos esperam vir a reduzir.
EDUCAÇÃO
Para as famílias com filhos, a educação assume-se como uma das despesas com maior expressão no orçamento familiar. Segundo o estudo sobre finanças pessoais, realizado pela consultora Baker Tilly,
a educação apresentou-se como uma das rubricas com maior dispêndio por parte dos inquiridos, ao longo do ano passado. Os números mostram que a maioria (42%) dos inquiridos gaste entre 1% e 10% do seu rendimento com despesas de educação, enquanto 35% gasta entre 11% e 25%. De notar que, 12% revelou não ter qualquer despesas com educação, enquanto que apenas 1% dos inquiridos despendem mais de metade do seu rendimento anual em educação. Tendo em consideração o peso que esta categoria assume nos orçamentos das famílias, sobretudo as que têm filhos em idade escolar, não é de estranhar a inversão de tendência em termos de frequência do ensino público e privado, entre os inquiridos do estudo. Neste sentido, verificou-se que cerca de 56% dos inquiridos tem os seus filhos a estudar no setor público, invertendo assim a tendência de 2015 em que 71% estudava no ensino privado.
SAÚDE
A despesa com a rubrica de saúde apresentou-se, também, muito relevante na afetação do rendimento dos inquiridos, em 2016, segundo o estudo da Baker Tilly. Neste sentido, verifica-se que 34% dos inquiridos, utilizou, em 2016, o Serviço Nacional de Saúde (SNS), 61% dos inquiridos recorreu a seguros de saúde e ainda que, apenas, 5% dos inquiridos utilizou os regimes de seguro social de saúde especiais para determinadas profissões. A consultora Baker Tilly destaca ainda que há diferenças significativas face ao ano anterior, em que o SNS representava 25%, e os seguros de saúde representavam 71%. “Nota-se assim uma significativa deslocação dos seguros de saúde para o SNS”, concluiu o estudo.
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